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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

TEXTOS LONGOS NA INTERNET

“O desafio do jornalismo é buscar novos formatos, sobretudo para os destinados aos mais jovens, que hoje se educam por meio da internet”

TEXTOS LONGOS. Há quem diga: “Seus textos são muito longos para a dinâmica linguagem da internet. A mídia eletrônica requer textos curtos e objetivos”. Será mesmo?...

É claro que há variadas fontes para quem tem o hábito da leitura: livros, jornais, revistas, textos na internet... E o que tenho observado é que meus textos, que costumam ser longos, atraem também o jovem leitor. Mas, o jovem que gosta de ler. Eu creio que quando o leitor se identifica com o texto, o autor pode ir longe. Desde que de forma clara e objetiva.

Entendo ainda que meus textos, por sua natureza, são capazes de conscientizar e influenciar construtivamente e, consequentemente, de contribuir para mudanças positivas de comportamento do leitor. Eles podem ajudar o leitor a compreender questões mais profundas da existência humana. Também admito serem raras as pessoas interessadas nesse tipo de leitura que, diga-se de passagem, não considero “de autoajuda”. Eu diria tratar-se de textos que podem contribuir para a popularização do estudo da filosofia e da psicologia, por exemplo, haja vista o meu rigor em citar sempre os especialistas e as fontes bibliográficas. Há outro componente nesta abordagem: na prática jornalística, sempre atuei na área científica. Essa base é, portanto, fundamental na produção dos meus textos.

O psiquiatra e escritor Augusto Cury fala sobre isto em sua obra “O código da inteligência”: “Algumas pessoas não entendem quais são as gritantes diferenças entre um livro de autoajuda e um livro de ciência aplicada: enfim, de psicologia, psiquiatria, pedagogia e filosofia aplicada. Apesar das minhas enormes limitações, procuro democratizar o conhecimento sobre o funcionamento da mente extraído da teoria que desenvolvi.”

O objetivo do doutor Cury é disponibilizar ferramentas para estimular o debate de ideias, para que o leitor aprenda a atuar em seu psiquismo, a desenvolver consciência crítica, proteger sua emoção, tornar-se gestor da sua mente e ser capaz de expandir seu potencial intelectual e prevenir transtornos psíquicos.

“É preciso se livrar dessa ideia fixa de que pensamento positivo ajuda (mas eu, Tom, diria que é um bom começo). Isso não é verdade. Aliás, é muito estressante achar que se deve pensar positivamente o tempo todo. Cansa.”, argumenta Deepak Chopra, 65, endocrinologista indiano radicado nos Estados Unidos (“Não seja vítima”, AT Revista, jornal A Tribuna de Santos, SP, Brasil, 3/6/2012). Para ele, temos de ser testemunhas de nós mesmos. “E isso significa ter inteligência maior, criar a consciência espontânea de quem somos. Devemos fazer perguntas significativas para nós mesmos: Qual o meu propósito? Quais são os meus talentos e habilidades? Como usá-los para ajudar outras pessoas? Quem é meu mentor, quem me inspira? O que me faz feliz? Quais foram os momentos mais felizes da minha vida?”

Chopra revela também que a pessoa que acredita que deve ficar pensando positivo o tempo todo se torna até chata.

Citando a crítica de Idelber Avelar (“Livro traduz parábola para a literatura comercial”, Folha de S.Paulo, Ilustrada, 17/8/2012): “O jornalismo e a crítica têm se dedicado com mais frequência a achincalhar Paulo Coelho do que a cumprir o seu papel, que é entender o objeto. A versão mais comum para o sucesso de Coelho (é ‘autoajuda barata’), ainda que fosse verdadeira, não explicaria nada. Coelho fala a milhões. Por quê?”

Eu não estou aqui para defender Paulo Coelho. Mas sim, a liberdade de expressão. Concordo que ele foi infeliz ao comentar o livro “Ulysses”, de James Joyce (“O tamanho de Ulysses”, Folha de SP, Ilustrada, de 17/8/2012).

Esse controverso autor brasileiro, o mais celebrado no exterior (140 milhões de livros em 160 países), alegou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo no dia 4 de agosto de 2012, que o clássico de James Joyce é “só estilo” e que, se dissecado, “dá um tuíte”.

Sobre o referido artigo, alguns leitores da Folha assim se manifestaram (na coluna “Painel do Leitor”, Opinião, de 18/8/2012): (1) “[...] No mais, quem em sã consciência chamaria Paulo Coelho de ‘literato’? Defendo a tese de que Paulo Coelho escreve, mas não faz literatura. Seus textos, sem sombra de dúvida, refletem os tempos em que vivemos: tempos de mediocridade. Ele é acessível àqueles pouco exigentes com o fazer literário. Tem, portanto, o seu lugar, mas é uma pena que tire o lugar daqueles que de fato sabem o que é literatura e são denominados escritores”; (2) “[...] Aliás, os leitores de Paulo Coelho, autor de textos superficiais, feitos para leitores medianos, possuem um duvidoso gosto por literatura. Não são os mesmos leitores de Tolstói, de Dostoiévski, de Nietzsche, de Machado de Assis, não, não. Paulo Coelho jamais será um James Joyce”.

Eu tenho certa resistência ao tipo de “intelectual” arrogante, que “se acha”, desmerecendo, por exemplo, quem se ocupa do “ato de escrever” para levar o leitor ao autoconhecimento. Quem sabe um desses intelectuais da “elite do pensamento” possa ter extrema dificuldade de se relacionar com os outros e com a própria vida, rejeitando até mesmo o auxílio da terapia?

Quem nunca teve um professor intelectual, extremamente inteligente, mas com dificuldade de se relacionar com os alunos? Creio que a essência do conhecimento é a evolução humana em seu aspecto mais amplo e não apenas no aspecto da intelectualidade, algo como “preciso ler os clássicos para obter mais cultura”. E quem não está preparado, não tem acesso ou não se interessa pela literatura clássica?

MUDANÇA DE MENTALIDADE

“É apenas quando começamos a interpretar, e traduzir de acordo com nosso condicionamento, nossos preconceitos, que deixamos de ver a verdade. Afinal, é como fazer uma pesquisa. Descobrir o que exatamente uma coisa é requer pesquisa, não se pode interpretar o que se descobre, de acordo com a própria vontade”, observa Jiddu Krishnamurti, indiano, 1895/1986, em “A primeira e última liberdade”.

Para esse filósofo, pensador indiano, a maioria de nós está acostumada à condição de espectador, não de participante do jogo. “Lemos livros, mas nunca os escrevemos. Essa se tornou nossa tradição, nosso hábito nacional e universal, de ser espectador, de assistir a um jogo de futebol, à apresentação de políticos e oradores. Somos meramente observadores, perdemos a capacidade criativa”, explica.

Krishnamurti pondera que, quando temos a conscientização de nós mesmos, vemos todo o processo dos nossos pensamentos e ações, mas isso só pode acontecer quando não há condenação. “Quando condeno alguma coisa, eu não a compreendo, e essa é uma maneira de evitar qualquer tipo de entendimento.  Penso que a maioria de nós faz isso de propósito. Condenamos precipitadamente e pensamos que compreendemos. Se não condenarmos uma coisa, mas a observarmos com atenção, veremos que seu conteúdo e seu significado começarão a se abrir para nós”.

Em “Nietzsche para estressados”, o escritor Allan Percy  escreve: “Todo julgamento esconde o orgulho de quem se considera dono da verdade. Também revela grande insegurança. De sua posição inatingível, aquele que julga se comporta como soberano e crítico das ações alheias”.

Segundo Percy, nossos julgamentos dizem mais sobre nós mesmos do que sobre aqueles que julgamos. “Cada opinião é uma gota no vasto oceano do caos e por isso podemos dizer que o homem mais sábio é aquele capaz de passar pelo mundo sem emitir nenhum juízo”.

“LEI DO COMPARTILHAMENTO”

“Estudar é importante para poder escolher o seu destino, mas ler é muito mais.” É assim que pensa o escritor e cartunista Ziraldo, que completa 80 anos em outubro de 2012. “Já escrevi 150 livros, dizem que escrevo direitinho. E nunca estudei, só li. Na hora da prova, enganava o professor porque era muito sabido. Sabia conversar sobre tudo, porque lia tudo”, revela o escritor à Folha de SP, Ilustrada, de 21/5/2012, no artigo “A internet deu palco para o canalha, para o invejoso”.

Para Ziraldo, quem vai abrir sua cabeça para sacar suas escolhas é o livro. “Se pudesse ler todos os livros do mundo, você seria Deus porque entenderia tudo”, imagina.

Ele diz também: “Tudo de que você precisa está dentro de um livro. Seu filho não pode chegar à internet sem passar pelo livro. Se não for capaz de escrever o que pensa e de entender o que lê, vai pra internet pra virar um idiota. A internet está cheia de idiotas. Ela conseguiu dar palco pro canalha, pro invejoso. A humanidade, vocês, adultos, sabem, não presta. E você multiplica a potencialidade dessa maldade na internet...”

“A era da informação significa, entre muitas coisas, que seremos cada vez mais transparentes, mais verdadeiros. Se só o começo das novas tecnologias disparou esse big bang social, imaginem as redes sociais daqui a três, cinco, dez anos. Mark Zucherberg, fundador do Facebook, que fala numa “lei do compartilhamento” (“law of sharing”), segundo a qual a quantidade de informações compartilhadas digitalmente dobrará a cada ano”. Quem fala sobre isso é o publicitário Nizan Guanaes no artigo “Nada mais que a verdade” (Folha de SP, Mercado, 15/5/2012). 
Segundo Nizan, é muita informação. “Claro que é possível fazer circular informações falsas nas redes – elas são ótimas para isso também. Mas parece haver em nós uma vontade mais forte de comunicar o que somos, o que pensamos e o que sentimos”, observa o publicitário.

Para ele, essa eterna busca da verdade, tão velha quanto o ser humano, agora tem a seu serviço a tecnologia perfeita. “O que não é casual nem subproduto de outras buscas. Criamos toda essa tecnologia de comunicação e informação justamente porque ansiamos por nos comunicar e informar. O conhecimento é a mãe do valor. Conhecer é valorizar.”, complementa.

TEXTOS LONGOS

“Os longos textos intelectuais, que há décadas têm um espaço garantido nos principais cadernos de cultura da Alemanha, não estão ameaçados pelo fenômeno da digitalização da mídia. Eles sempre terão um lugar ao lado da informação curta e rápida dos portais jornalísticos.” A opinião é de Moritz Müller-Wirth, 48, editor de cultura do jornal semanal mais importante do país, “Die Zeit”. Ele esteve no Brasil, em maio de 2012, participando do “4.o Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural”, no Teatro Tuca, em São Paulo. Quem escreve sobre isto é Silvia Bittencourt, em seu artigo “Digitalização da mídia não ameaça textos longos de cultura, diz alemão”, publicado na Folha de SP, Ilustrada, de 26/5/2012).

“O editor apontou, porém, para um desafio do jornalismo cultural na era da internet: buscar novos formatos, sobretudo para os leitores mais jovens, usuários das novas mídias, que hoje se educam por meio da internet”, registra S. Bittencourt.

Eu imagino que cada leitor que me acolhe, em cada texto que produzo, como uma aula, assim por dizer, com o propósito de ajudar a compreender questões mais profundas da existência humana, tem um significado muito especial para a minha vida. Por eu acreditar que cada leitor pode se aprimorar com essa nova informação e levá-la adiante, contribuindo certamente para ampliar o número de indivíduos interessados em se transformar e transformar o ambiente a seu redor. Portanto, creio que cada leitor, ao se identificar com a nova informação, pode significar o aprendizado de vários outros leitores indiretos.

Distraio-me arquitetando palavras com a dimensão da utilidade para a vida do leitor. Meus textos costumam ser longos. Mas quem aprecia seu conteúdo não costuma reclamar. Obrigado leitor, por todo incentivo e tolerância.

Há na obra “O líder sem status”, de Robin Sharma, algo para finalizar este texto: “Mas uma das liberdades que temos como seres humanos é a liberdade de escolher o modo como encaramos nosso papel no mundo e o poder que temos de tomar decisões positivas em quaisquer condições em que nos encontremos. E lembre-se do que escreveu Albert Einstein certa vez: ‘Grandes almas sempre encontraram oposição por parte de mentes medíocres’. Apenas realize seu trabalho da melhor e mais humana maneira possível. O resto acontecerá normalmente.”

Autoria: Tom Simões, jornalista, tomsimoes@hotmail.com, Santos (SP), Brasil

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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