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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PODER ESPIRITUAL

Psiquiatra americano faz uma analogia entre o poder espiritual e o político

A GENTE PRECISA doar-se permanentemente na vida. E não se isolar, acomodar-se, sem ter disposição para a doação espontânea, vivendo com elementos ensaiados ou estudados. Porque só assim é possível experimentar momentos de rara recompensa e intensa paz, “mas não a paz que o mundo oferece”, como dita a Sabedoria. Mas a paz indescritível, essa conquista “que leva a pessoa a caminhar na frente totalmente sozinha”, mas verdadeiramente realizada na sua condição humana.

Essa espécie de “estado de graça” é conquistada através de muita dedicação focada na reflexão, autocorreção e disciplina. Dedicação por conta das sucessivas experimentações renovadas ao longo do tempo, ou seja, da opção por trilhas menos percorridas, que proporcionam o gradativo enriquecimento pessoal e espiritual. É importante criar ou aproveitar circunstâncias favoráveis para conhecer novas pessoas, buscando ampliar o conhecimento e o entendimento para o progresso de cada um. Esta é a base para quem deseja experimentar o feliz encontro consigo próprio. Quem se habilita então a seguir um novo caminho?

O PODER ESPIRITUAL CRIA OUTRA SITUAÇÃO: A SOLIDÃO

Em sua obra “A trilha menos percorrida”, o psiquiatra americano M. Scott Peck faz uma analogia, pelo menos em certo sentido, entre o poder espiritual e o político. Uma pessoa chegando ao topo da evolução espiritual é como alguém que se encontra no topo do poder político. “Não há alguém acima para quem passar a responsabilidade; ninguém para culpar; ninguém que lhe diga como agir. Talvez, nem mesmo alguém do mesmo nível com quem compartilhar a agonia ou a responsabilidade. Outros podem dar conselhos, mas a decisão é só sua. Só você é responsável”.

Peck crê que a solidão causada pelo enorme poder espiritual é ainda maior do que a provocada pelo poder político. E explica: “Como seu nível de consciência raramente é tão alto quanto sua posição, os politicamente poderosos quase sempre têm pares espirituais com quem se comunicar. Assim, presidentes e reis têm amigos e companheiros. Mas a pessoa que atingiu o nível mais alto de consciência, de poder espiritual, provavelmente não tem ninguém em seu círculo social com quem partilhar uma compreensão tão profunda.”

Para esse escritor, um dos temas mais tocantes dos Evangelhos é a contínua frustração de Cristo por não encontrar ninguém que realmente pudesse compreendê-lo. “Por mais que tentasse, por mais que se esforçasse, não conseguia elevar nem mesmo as mentes dos seus discípulos ao seu nível. Os mais sábios o seguiam, mas não conseguiam acompanhá-lo, e todo o seu amor não o livrou da necessidade de caminhar na frente, totalmente sozinho”, escreve.

Esse tipo de solidão, prossegue o autor, é “compartilhada” por todos que chegam ao ponto mais distante da jornada do crescimento espiritual: “É um fardo tão pesado que simplesmente não poderia ser suportado se não fosse o fato de que, quando deixamos para trás nossos companheiros humanos, nosso relacionamento com Deus inevitavelmente se torna mais íntimo. Na comunhão da consciência crescente, do conhecer com Deus, há bastante alegria para nos sustentar.”

A NATUREZA DO PODER

Sinto-me tentado a mencionar parte do capítulo “A natureza do poder”, da citada obra de M. Scott Peck, como recomendação a todos que desejem explorar melhor esse tema:

“[...] MAS ESSA CONSCIÊNCIA maior não vem como uma iluminação súbita, mas lentamente, pedaço por pedaço, cada um dos quais deve ser conquistado pelo esforço paciente de estudar e observar tudo, inclusive a si próprios. São aprendizes humildes. O caminho do crescimento espiritual é um aprendizado que dura toda vida.

SE SEGUIRMOS esse caminho com persistência por tempo suficiente, os pedaços do conhecimento começarão a se encaixar. Gradualmente as coisas começarão a fazer sentido. Há becos sem saída, desapontamentos, conceitos conquistados só para serem descartados. Mas pouco a pouco conseguiremos chegar a uma crescente compreensão do significado da nossa existência – e ao ponto de realmente saber o que estamos fazendo. Poderemos chegar ao poder.

A EXPERIÊNCIA do poder espiritual é basicamente alegre. Há grande felicidade na maestria. Na verdade, não há satisfação maior do que a de ser um especialista, realmente saber o que se está fazendo. Aqueles que mais cresceram espiritualmente são especialistas em viver. E há outra alegria ainda maior, a da comunhão com Deus. Isso porque, quando realmente sabemos o que estamos fazendo, participamos da onisciência divina. Com a total percepção da natureza de uma situação, dos motivos que nos levam a agir, dos resultados e das ramificações dos nossos atos, atingimos o nível de consciência que normalmente só esperamos de Deus. Nossa personalidade consciente consegue se alinhar com a mente divina. Conhecemos com Deus.

[...] ESSA RELAÇÃO da personalidade sempre traz um tipo de suave êxtase, similar ao da experiência de estar apaixonado. Conscientes da conexão íntima com Deus, podemos experimentar alívio em nossa solidão. Existe uma comunhão.

PORÉM, por mais feliz que sejamos, a experiência do poder espiritual também é assustadora, porque quanto maior a consciência, mais difícil é agir”.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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