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segunda-feira, 16 de julho de 2012

“O PODER DOS QUIETOS”

E então pare de se preocupar com a timidez do seu filho!


14 de julho de 2012. Concluo a leitura de “O poder dos quietos” (Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar), escrito por Susan Cain. Uma obra extraordinária, que tem o poder de mudar para sempre a maneira como os introvertidos se veem e, talvez mais importante, como as outras pessoas os veem. Nesta semana, esse livro ocupa o 6o lugar na lista dos mais vendidos (não ficção) publicada pela Folha de S. Paulo (14/7/2012).

Identifiquei-me com algo que li no final da obra: “Descubra qual deve ser a sua contribuição para o mundo e assegure-se de contribuir”. Hoje, mais experiente e definido quanto a projetos de vida, tenho como um dos hábitos compartilhar os frutos das minhas leituras e estudos com outras pessoas.

Não raramente, o resultado das minhas buscas dão origem a uma torrente de confissões e reflexões com amigos, quando o momento é oportuno.

Manhã de sábado ou domingo. Silêncio característico. Período ideal para a leitura. Apenas eu e o escritor como companhia. Algo íntimo, secreto. De acordo com a abrangência da obra, vou me tornando uma nova pessoa a cada nova leitura, nesta que considero a melhor “viagem” pelo mundo. Por que gradativamente venho perdendo o interesse por viagens de lazer?  Creio serem as leituras os responsáveis pelo meu novo rumo.

Em cada viagem desta natureza vou me tornando mais consciente, experimentando a sensação da utilidade da minha vida. Porque raras pessoas cultivam o hábito da leitura, sinto prazer em popularizar o que leio, com o propósito de poder ajudar as pessoas.

Por que ler tanto? É que há muito que conhecer e compreender sobre a infinita grandeza da existência humana e apenas o livro é capaz de satisfazer tal desejo. Interessante observar que ao nos tornarmos um pouco mais conscientes vamos ficando mais calados, talvez por se tornar mais difícil encontrar pessoas iguais para vibrar com as novas descobertas e, sobretudo, com o saudável amadurecimento.

“Formei naturalmente o hábito de controlar meus pensamentos. Uma palavra impensada dificilmente escapou da minha língua ou caneta. A experiência ensinou-me que o silêncio é parte da disciplina espiritual de um devoto da verdade. Encontramos várias pessoas impacientes para falar. Toda essa falação dificilmente pode trazer qualquer benefício para o mundo. É muita perda de tempo. Minha timidez tem sido na verdade meu abrigo e escudo. Ela me permitiu crescer. Ela me ajudou em meu discernimento da verdade”, revela Mahatma Gandhi, citado por Susan em sua obra.

“TÍMIDO” É UMA PALAVRA NEGATIVA NA NOSSA SOCIEDADE

Ao final da leitura de “O poder dos quietos”, não tive dúvida. Eu precisava compartilhar com o leitor do blog parte do capítulo “Sobre sapateiros e generais” (Como educar crianças quietas em um mundo que não consegue ouvi-las).

Certamente muitos pais identificar-se-ão com esta abordagem. Creio que a leitura poderá ser muito útil. Porque muitos pais, preocupados com a timidez de seus filhos, podem descobrir que há outro nome para os introvertidos: “pensadores”.

“O que Albert Einstein, Barack Obama, Chopin, Steven Spielberg, J. K. Rowling e Bill Gates têm em comum? A resposta é o sucesso. E a introversão.”, cita Susan na apresentação de sua obra.

Para Susan, pelo menos um terço das pessoas que nós conhecemos são introvertidas. Elas são aquelas que preferem escutar a falar, ler a ir a festas; que inovam e criam, mas não gostam de autopromoção; que se beneficiam trabalhando por conta própria mais do que em grupo. Embora sejam rotulados de “quietos”, é aos introvertidos que devemos muitas das grandes contribuições à sociedade.

A escritora revela como é difícil para os introvertidos avaliar seus próprios talentos e o quanto é magnífico quando eles finalmente conseguem.

Considere esta história como um alerta, contada a Susan Cain pelo dr. Jerry Miller, psicólogo infantil e diretor do Centro para a Criança e a Família da Universidade de Michigan. O dr. Miller tinha um paciente chamado Ethan, cujos pais o haviam levado para tratamento em quatro ocasiões, narra a escritora. Segundo Susan, a cada vez os pais mencionavam o mesmo medo de que algo estivesse errado com o filho. A cada vez, o dr. Miller assegurara que Ethan estava perfeitamente bem.

“A razão para sua preocupação inicial era bastante simples. Ethan tinha sete anos e seu irmão de quatro anos batera nele várias vezes. Ethan não revidava. Seus pais – ambos tipos sociáveis e proativos, com empregos poderosos em empresas e paixão pela competição no golfe e no tênis – não viam nada de mais na agressão por parte do filho mais novo, mas preocupavam-se que a passividade de Ethan fosse ‘ser a história de sua vida’. Conforme Ethan crescia, seus pais tentavam em vão inculcar o ‘espírito de luta’ no garoto”, escreve Susan.

“Eles o mandaram para o campo de beisebol e de futebol, mas Ethan só queria ir para casa ler. Ele nem sequer era competitivo na escola. Apesar de muito brilhante, era um aluno mediano. Ele podia ir melhor, mas preferia focar em seus hobbies, principalmente montar miniaturas de carros. Ele tinha alguns amigos próximos, mas nunca estava no centro da vida social da sala de aula. Incapazes de compreender o misterioso comportamento do filho, os pais pensavam que ele poderia estar deprimido”.

Mas o problema de Ethan, diz o dr. Miller, não era depressão, mas um caso clássico de “má combinação entre pais e filho”. Ethan era alto, magro e nada atlético; parecia o típico nerd, conta a escritora. Seus pais eram pessoas sociáveis e assertivas, que estavam “sempre sorrindo, sempre falando com as pessoas enquanto arrastavam Ethan atrás deles”.

Susan sugere: compare as preocupações deles a respeito de Ethan à avaliação do dr. Miller: “Ele era o típico fã de Harry Porter – estava sempre lendo”, diz Miller, entusiasticamente. “Ele gostava de qualquer tipo de brincadeira imaginativa. Adorava construir coisas. Tinha tanto, que queria compartilhar... Aceitava melhor os pais do que eles o aceitavam. Ele não os definia como um caso patológico, apenas como pessoas diferentes dele. Aquela mesma criança em um lar diferente seria uma criança-modelo”.

Mas os pais de Ethan nunca encontravam uma forma de vê-lo sob essa perspectiva. A última coisa que o dr. Miller soube foi que os pais finalmente haviam encontrado outro psicólogo que aceitara “tratar” o filho. E agora era o dr. Miller quem se preocupava com Ethan.

“Esse é um caso claro de um problema ‘iatrogênico’”, diz ele. “É quando o tratamento deixa você doente. O exemplo clássico é quando se usa o tratamento para tentar transformar uma criança homossexual em heterossexual. Eu me preocupo com essa criança. Esses pais são pessoas muito cuidadosas e bem-intencionadas. Eles sentem que sem o tratamento não estão preparando o filho para a sociedade. Que ele precisa de mais coragem. Talvez essa última parte seja verdadeira; não sei. Mas quer seja, quer não, acredito firmemente que é impossível mudar essa criança. Preocupa-me que eles estejam pegando um garoto perfeitamente saudável e danificando sua visão de si mesmo”.

É claro que não é necessariamente uma má combinação quando pais extrovertidos têm um filho introvertido, escreve Susan. “Com um pouco de atenção e compreensão, qualquer pai pode ser uma boa combinação para qualquer filho”, diz o dr. Miller. Mas os pais precisam se distanciar de suas próprias preferências e ver como o mundo é aos olhos do seu filho quieto, comenta a escritora.

Susan apresenta ainda o caso de Joyce e de sua filha de sete anos, Isabel. Joyce também passou a apreciar os modos sensíveis da filha. “Isabel é uma alma velha”, diz ela. “Você esquece que ela é só uma criança. Quando falo com ela, não me sinto tentada a usar aquele tom de voz especial que as pessoas reservam às crianças e não adapto meu vocabulário. Falo com ela como falaria com qualquer adulto. Ela é muito sensível, muito zelosa. Ela se preocupa com o bem-estar das outras pessoas. Fica facilmente emocionada, mas todas essas características combinam e amo isso na minha filha.”

Se você quiser que seu filho aprenda algumas habilidades, não o deixe ouvir que é tímido: ele acreditará no rótulo e perceberá seu nervosismo como um traço fixo em vez de uma emoção que pode controlar, observa a escritora. “Ele também saberá muito bem que ‘tímido’ é uma palavra negativa na nossa sociedade. Acima de tudo, não o envergonhe por sua timidez”, orienta Susan Cain.

“Nossa cultura tornou uma virtude viver apenas como extrovertidos. Desencorajamos a jornada interior, a busca por um centro. Então perdemos nosso centro e temos de encontrá-lo novamente”, diz Anaïs Nin, citada por Susan. Anaïs, nascida na França, 1903/1977, tornou-se famosa pela publicação de diários pessoais, que medem um período de quarenta anos, começando quando tinha doze anos.

Tom Simões, jornalista, Santos (SP), tomsimoes@hotmail.com, julho 2012

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

Um comentário:

  1. A FORÇA SILENCIOSA
    Rosely Sayão, psicóloga, Folha de S. Paulo, 17/7/2012

    “ENTÃO QUER dizer que há muito mais gente quieta, tímida e introvertida do que imaginávamos. Prova disso é o sucesso de vendas do livro ‘O Poder dos Quietos’, da escritora Susan Cain.

    Agora, as pessoas que não são tão participativas assim já podem respirar aliviadas. Há lugar para elas nesse mundo, lugar esse socialmente reconhecido, veja só. Que progresso! Os tímidos foram parar nas listas dos livros mais vendidos e são considerados poderosos.

    Há tempos tenho comentado a opressão sofrida por crianças e adolescentes que não são populares, que não passam o dia atendendo a telefonemas e sendo requisitados para diversos programas, que preferem ficar quietos e sozinhos na hora do recreio, que não fazem muito sucesso com seus pares.

    Parece que não nos damos conta de que crianças e adolescentes têm direitos. E um desses direitos é o de ficarem calados e quietos e de não se expressarem com efusividade. É que, na atualidade, tímido virou sinônimo de problemático e deixou de ser apenas uma característica.

    [...] Talvez a boa comunicação seja uma qualidade importante para o viver bem.

    Mas não apenas a boa comunicação com o mundo exterior, mas também, e principalmente, a boa comunicação da pessoa com seu interior. E, para alcançar esta última, caro leitor, introvertidos e extrovertidos estão em pé de igualdade”.

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