Não é assim que eu, Tom Simões, imagino Deus
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ESCREVO SOBRE a última obra que li: “Uma vida com propósitos”, de autoria de Rick Warren, mestre em Teologia, conhecido como o líder evangélico mais influente dos Estados Unidos. Sua leitura levou-me a uma profunda reflexão.
Neste exato momento, escreve Warren, é possível que um problema, uma urgência ou o fim de um prazo determinado estejam dirigindo você. É possível que uma lembrança dolorosa, um temor ou uma crença inconsciente também estejam dirigindo você. Centenas de circunstâncias, valores e emoções podem dirigir sua vida.
Segundo o autor, comprar/obter torna-se o único objetivo na vida de algumas pessoas. “O impulso de sempre querer mais baseia-se na concepção equivocada de que possuir mais nos tornará mais felizes, mais importantes e mais protegidos. Contudo são três expectativas falsas. Bens materiais trazem felicidade apenas temporária. A situação de constante tranquilidade acaba gerando o tédio, e então passamos a desejar novidades, coisas maiores e melhores.”
Ainda que este texto seja um pouco longo, acredito que valerá a pena um esforço para conhecê-lo. Porque creio também que é preciso mudar, e cada dia, cada leitura, cada conversa, cada olhar para o mundo à nossa volta é uma oportunidade para isso.
“O que eu posso fazer de diferente a partir de hoje” pode ser um desafio, pois a mudança deve ocorrer em mim e não no outro. Por isto é preciso encarregar-se do próprio desenvolvimento, colocando desejos, desafios e conquistas a serviço do bem comum.
O “DEUS” DE RICK WARREN
Não é assim que eu, Tom Simões, imagino Deus:
“[...] Você foi planejado para agradar a Deus. No instante em que você chegou a este mundo, Deus, lá do céu, como testemunha invisível, sorria ao assistir a seu nascimento. Ele quis que você existisse, e sua chegada Lhe deu enorme prazer. Deus não precisava criar você, mas decidiu criá-lo para satisfação Dele. Você existe para benefício, glória, propósito e prazer de Deus.
[...] Dar satisfação e viver para o prazer de Deus é o primeiro propósito de sua vida. Quando você entender plenamente essa verdade, jamais voltará a se sentir insignificante, pois isso prova o valor que tem. Se você é tão importante para Deus e se ele o considera valioso o suficiente para mantê-lo consigo por toda a eternidade, como você poderia ser mais importante do que já é?
[...] O trauma que você enfrentou não foi fácil, não. E Deus lamentou sua dor. Mas isso foi permitido para dar forma ao seu coração, para que semelhante ao dele se tornasse. Você é quem é por uma razão (poema citado, de Russell Kelfer).
[...] O fato de a Terra não ser nosso lar definitivo explica porque, como seguidores de Jesus, experimentamos dificuldades, aflições e rejeições neste mundo. Isso também explica porque algumas promessas de Deus parecem não ter sido cumpridas, algumas orações parecem não ser respondidas e algumas situações parecem injustas. Esse não é o fim da história.
[...] Para impedir que fiquemos muito apegados a isso tudo, Deus nos permite sentir um número relevante de descontentamentos e desgostos na vida – anseios que jamais serão satisfeitos deste lado da eternidade. Não somos completamente felizes porque não era para sermos! A Terra não é nosso lar definitivo: fomos criados para algo muito melhor.
[...] Você terá momentos felizes por aqui, mas nada comparado ao que Deus tem planejado para você.
[...] A adoração não é para benefício próprio. Esse é outro mal-entendido a respeito da adoração. Ela não é para nosso benefício. Quando adoramos, nosso objetivo é agradar a Deus, e não a nós mesmos. Não louvamos a Deus para nos sentirmos bem, mas para agir bem.
[...] Talvez você tenha sido apaixonado por Deus no passado, mas perdeu aquele desejo. Se você estiver passando por algum esfriamento espiritual, não se surpreenda quando Deus permitir sofrimento em sua vida. O sofrimento é o combustível da paixão: ele gera energia com tal intensidade que transforma o que normalmente não possuímos. Assim disse C. S. Lewis: ‘O sofrimento é o megafone de Deus. É a forma de Deus nos sacudir da letargia espiritual’.
[...] Os nossos problemas não são uma punição, mas apelos de um Deus amoroso para nos despertar. O Senhor não está irritado com você: está irritado por você e fará o que for necessário para trazê-lo de volta à comunhão com Ele.
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Mas Warren também faz algumas citações com as quais me identifico:
[...] Certa vez, perdi-me nas montanhas. Quando parei para perguntar como chegar ao acampamento, disseram-me: “Não existe acesso por aqui. Você precisa ir pelo outro lado da montanha. Da mesma forma, você não pode chegar ao propósito de sua vida concentrando-se em você mesmo.
[...] Deus dotou cada um de nós com talentos, dons, capacidades e habilidades exclusivos. Sua vocação não é um acidente. Deus não lhe concedeu essas habilidades para propósitos egoístas, e sim para benefício de outras pessoas, assim como outros receberam habilidades para beneficiar você. A Bíblia diz: “Deus concedeu dons a cada um de vocês dentre grande variedade de dons espirituais. Administre-os bem, para que a generosidade de Deus flua por meio de vocês.
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Como diz Osho, filósofo indiano, na obra “Um pássaro em voo”: “Só os mestres e os discípulos zen riem”. Pergunta o mestre: se você entra em uma igreja, o que você vê lá? Não vida, mas morte, e Jesus crucificado na cruz completa a tristeza geral. “Você pode rir em uma igreja, dançar em uma igreja, cantar em uma igreja? Sim, o canto está ali, mas é triste, e as pessoas sentam-se com expressões sombrias. Não espanta que ninguém queira ir à igreja, é só um dever social a ser cumprido, ninguém é atraído para a igreja, é uma formalidade. A religião tornou-se uma coisa de domingo. Durante uma hora você pode tolerar ser triste”.
“Por isso é que no templo evangélico há muita música. Há também o rock adaptado, que prejudica, enquanto todos acreditam estar praticando algo bom”, revela meu amigo Roberto da Graça Lopes. Ele dicorda de Osho: “Há lugares e momentos para tudo. Um templo deve ser acolhedor, mas diferente do mundo em que vivemos o nosso dia a dia. É um local de concentração, de harmonização. A imagem do Cristo crucificado não é agradável de per si, mas significa pouco para quem conhece a razão e a relevância do “milagre do Gólgota”. Preste atenção, meu amigo, aqui Osho fala o óbvio aos olhares humanos e cria, via um argumento aparentemente correto, um caminho de afastamento da igreja. Resta saber o que ele propõe como espaço de acolhimento para aqueles que se afastam”.
Às vezes eu, Tom, imagino: se todos fôssemos criados acidentalmente e para viver uma única existência, Deus seria injusto, não? Algo como Ele decidir criar milhões de seres humanos e atirá-los lá do “alto” – caiam onde caírem, virem-se. Uns ricos outros miseráveis. Faça o que fizer, cada um será ou não perdoado, dependendo apenas de pedir perdão. E todos os erros do passado desaparecem milagrosamente. Essa é a lógica da existência universal? Como se explicariam as aparentes injustiças?
Rick Warren pensa diferente:
[...] Deus decidiu como você nasceria. Independentemente das circunstâncias de seu nascimento e de quem fossem seus pais, Deus tinha um plano ao criá-lo. E não importa como sejam seus pais: bons, ruins ou indiferentes. Ele sabia que esses dois indivíduos possuíam exatamente a constituição genética específica para criar você de acordo com o que Ele tinha em mente. Eles tinham o DNA que Deus precisava para formá-lo.
[...] Deus nunca faz nada acidentalmente e jamais comete erros. Ele tem um motivo para tudo que concebe. Todas as plantas e animais foram planejados por Deus, e cada pessoa idealizada com um propósito definido. O motivo de Deus tê-lo criado foi o amor que Ele tem. A Bíblia diz: “Muito antes de estabelecer as fundações da Terra, Deus já nos tinha em mente, havendo nos escolhido como alvo de Seu amor”.
[...] Por que Deus fez tudo isso? Por que o incômodo de criar o Universo para nós? Porque ele é um Deus de amor. Esse tipo de amor é difícil de compreender em sua profundidade, mas é essencialmente confiável. Você foi criado para ser um alvo especial do amor de Deus! Ele o fez para poder amá-lo. É sobre essa verdade que você precisa edificar sua vida.
[...] Se não houvesse Deus, seríamos todos “acidentes”, causados por algum evento cósmico aleatório. Você poderia parar de ler este livro, pois a vida não teria nenhum propósito, significado ou importância. Não haveria certo ou errado, e nenhuma esperança seria alimentada para além de nossos breves anos neste mundo.
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[...] Conhecer o propósito de sua vida faz com que ela tenha sentido. Fomos feitos para alcançar algum significado na vida, por isso tantas pessoas recorrem a métodos questionáveis, como a astrologia e a psicologia, para descobri-lo. Quando a vida faz sentido, você pode suportar quase tudo, do contrário, ela se tornará insuportável.
[...] Esta vida não é tudo que temos. A vida é apenas um ensaio geral, antes da verdadeira produção. Você passará muito mais tempo do outro lado – na eternidade. Este mundo é um lugar de preparação, a pré-escola, um exame prático para a vida na eternidade. É o treinamento coletivo que ocorre antes do jogo, a volta de aquecimento antes do início da corrida. Esta vida é uma preparação para a próxima.
[...] Você viverá no máximo cem anos, mas existirá para sempre na eternidade. Se todo o seu tempo aqui fosse para ser dedicado unicamente a esta vida, eu sugeriria que começasse a viver agora mesmo. Você poderia deixar de ser bom ou ético e não teria de se preocupar com as consequências de suas ações. Poderia dedicar-se a uma existência inteiramente egocêntrica, pois seus atos não teriam implicações de longo prazo. Mas – e isto faz toda a diferença – a morte não é o fim: ela é tão somente a transição para a eternidade. Por isso, existem consequências eternas para tudo o que você faz aqui. Cada ato de nossa vida faz soar um acorde na eternidade.
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Felizmente existem outras visões a considerar...
“Deus não é um, Deus é todos. Não professo nenhuma confissão religiosa, mas rezo todos os dias. Acredito no poder da oração. Mas as instituições religiosas, e incluo todas as ordens, estão preocupadas com política e poder. Já os evangélicos cresceram enormemente como utilitarismo sistêmico produtivista, industrialista. Hoje já é uma religião para lá da religião”. A opinião é de Gilberto Gil, 70, em entrevista a Morris Kachani (Folha de S. Paulo, 25/6/2012).
Leio atualmente “O poder dos quietos”, de Susan Cain. Coincidentemente, Susan faz uma referência a Rick Warren, dizendo que “Uma vida com propósitos” é um dos livros mais vendidos de todos os tempos. E que Warren fez a chamada na posse do presidente Obama. Segundo Susan, líderes evangélicos são ouvidos por presidentes, dominam milhares de horas na televisão e administram negócios multimilionários, com os mais proeminentes deles exibindo suas próprias produtoras, estúdios de gravação e contratos de distribuição com gigantes da mídia como a Time Warner.
Frente a tais “máquinas” de difusão de ideias simplistas sobre Deus e a razão de ser do Homem, mas simultaneamente tão efetivas para arregimentar fiéis, me pergunto: por que tantos milhões de pessoas aceitam essa visão simplista da vida espiritual, onde dizer “é como Deus quer” ou “é como Deus fez”, deve cancelar qualquer impulso de dúvida, qualquer necessidade de explicações?
Eu, Tom, creio haver um plano lógico e amplo para a existência e que inclui a explicação para o que se observa no mundo, impedindo que um sentimento de injustiça aflore, levando muitos ao ateísmo. Daí acreditar na teoria dos renascimentos sucessivos, na lei da “causa e efeito”, que promove o aperfeiçoamento espiritual até o alcance da iluminação: a transformação em um anjo, santo, buda, uma luz, uma estrela..., seja o que for que reflita a expressão da Divindade Maior, da Sabedoria Universal: “Deus”.
Creio que cada um já é parte de Deus naquilo que tem de melhor. Portanto, o propósito nas sucessivas existências é melhorar nossa parcela da totalidade divina para nos identificarmos cada vez mais, progressivamente, com o Ser Absoluto, definido na filosofia como a realidade suprema e fundamental, independente de todas as demais.
“Os seres humanos são raios da infinita luz de Deus. Quanto tempo – de fato, quantas existências! - levou cada ser humano para alcançar seu atual estado de compreensão! E como foi árdua a escalada! Abraçar um destino mais alto corresponde ao interesse de cada um”, escreve Swami Kriyananda em sua obra “Deus é para todos” (abordando a mensagem transmitida pelo mestre indiano Paramhansa Yogananda). Para o autor, o caminho espiritual destina-se aos que buscam conscientemente Deus, e que desejam não só venerá-Lo: desejam vivenciá-Lo, desejam amá-Lo.
Kriyananda revela também que o ser humano precisa fazer um esforço espiritual para atingir sua purificação em vez de deixá-la inteiramente a cargo da Graça Divina. “Quanto mais conseguirmos nos identificar com a alma, em vez de com esse corpo e personalidade pequenos, mais concretas se tornarão para nós as palavras do mestre Jesus, que declarou: “Eu e meu Pai somos um só”.
O despertar da espiritualidade melhora a visão do Universo e, consequentemente, o entendimento da vida como um todo. Eu creio que, instalado o processo da autoconsciência espiritual, o individuo experimenta a cada dia ações que o transformam em uma pessoa melhor. Este é o verdadeiro sentido da existência humana: o que eu posso acrescentar diariamente em minha vida para aprimorar o meu conhecimento e entendimento e melhorar a vida das pessoas.
Os anjos e os seres que atingiram a plenitude espiritual estão prontos a nos orientar e acolher. Jesus, Buda, Santo Antonio, São Miguel Arcanjo, São Francisco de Assis, Nossa Senhora..., seres que se tornaram como Deus, aguardam o nosso chamado. Eles batem delicada e constantemente à nossa porta para oferecer proteção, mas não nos obrigam a abri-la. Eles sabem respeitar o nosso livre-arbítrio. Se acreditamos nessa energia divina, temos de invocá-la diretamente e pedir a proteção desejada.
Há na obra de William Shakespeare uma passagem que diz: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”.
Apoiando e ampliando esta ideia da responsabilidade de cada um pelo seu progresso espiritual, complemento com a sabedoria do mestre Francisco Cândido Xavier, que na essência das idéias faz coro com a sabedoria transmitida por tantos outros escritores/iniciadores: Mary Baker Eddy, Rudolf Steiner, Meishu Sama, C. W. Leadbeather, Masaharu Tanigushi ...
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“Nasceste no lar que precisavas. Vestiste o corpo físico que merecias. Moras onde melhor Deus te proporcionou, de acordo com teu adiantamento. Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização. Teus parentes, amigos, são as almas que atraíste, com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle. Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência. Teus pensamentos e vontade são a chave de teus atos e atitudes. São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivência. Não reclames nem te faças de vítima. Antes de tudo, analisa e observa. A mudança está em tuas mãos. Reprograma tua meta, busca o bem e viverás melhor. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim...”
Em minhas incursões filosófico-religiosas, vou colecionando o que me traz conhecimento, entendimento e paz interior. Como esta oração, “Tubo de Luz”, que recito diariamente e creio sintetizar o poder do "eu" (tornado progressivamente Deus/EU SOU) na lógica dinâmica universal:
EU SOU a Luz do Coração
Que brilha nas trevas do ser
E tudo transforma
No tesouro dourado
Da mente de Cristo
O meu amor eu envio para o mundo
Para apagar todos os erros
E todas as barreiras derrubar
EU SOU o poder do Amor Infinito
Que se expande
Até alcançar a vitória
No Mundo que não tem fim!
Fonte: www.grandefraternidadebranca.com.br/
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Li,ainda hoje, algo que se aplica ao texto: "Evolução: é quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar quem ficou para trás" (autor desconhecido)
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