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terça-feira, 10 de julho de 2012

ENFORCAMENTOS NO IRÃ

Fonte: artigo da Folha de SP, 1º. de julho de 2012, “Guindaste da morte  no Irã”, iranianos são enforcados no dia 27 de junho

SOB OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL da quinta-feira, um alto-falante lista as acusações e dá a sentença contra os homens acusados de estupro e tráfico. Minutos depois, os corpos suspensos esboçam um balançar de pernas, enquanto os dedos se retorcem e alguém diz: “Sério? Já acabou?”.

 A Folha acompanhou a execução de dois condenados à morte nas imediações da capital iraniana. Sob os olhares da multidão, acusados são enforcados em caminhões dotados de guindastes e ficam suspensos a cinco metros de altura, num espetáculo de terror promovido para alertar dissidentes.

 Os corpos suspensos esboçam um trêmulo balançar de pernas, enquanto mãos e dedos se retorcem devagar. Um rapaz solta: “Eles estão se mexendo que nem rãs, é isso que merecem”.
Se aplicada num golpe rápido e seco, a forca leva à quebra das vértebras da coluna cervical e à secção da medula espinhal, causando morte quase instantânea.

GEORGE ORWELL, “Um enforcamento”

“É curioso, mas até aquele momento eu jamais me dera conta do que significava matar um homem saudável e consciente. Quando vi o prisioneiro pisar de lado para desviar da poça d´água, percebi o mistério, a injustiça execrável de interromper uma vida no auge. Aquele homem não estava agonizando, estava tão vivo quanto nós.

 [...] Ele e nós éramos um grupo de homens caminhando juntos, vendo, ouvindo, sentindo, percebendo o mesmo mundo; e em dois minutos, com um estalo súbito, um de nós partiria – UMA MENTE A MENOS, UM MUNDO A MENOS.”

***

Como um ser humano admite ainda enforcar alguém?

Há outras formas de punir desajustados. Eu chego até mesmo a  pensar, com base em um dos Evangelhos: “PAI, PERDOAI-OS  (a cúpula do IRÃ) PORQUE ELES (ainda) NÃO SABEM O QUE FAZEM”.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

Um comentário:

  1. De acordo com o Editorial da Folha de S. Paulo, de 4/7/2012: “NUNCA SE ESTÁ A SALVO plenamente de um erro judicial. A própria ideia de que o Estado possa tirar a vida de um cidadão já constitui um abuso injustificável de poder.

    Mais ainda num país como o Irã, onde a onipresente repressão política conta com mais um mecanismo a seu dispor: acusações falsas, em processos conduzidos por autoridades religiosas, podem levar ao enforcamento qualquer indivíduo indesejável ao regime.

    É como instrumento de terror político e, infelizmente, também como fonte de legitimidade perante a população, que o sistema de execuções públicas prospera no país.

    Nesse amálgama macabro de barbárie secular e mecanização industrial estão simbolizadas as contradições do Irã – e só resta contar com que se resolvam, como é a longo prazo a tendência na maior parte do mundo, no caminho da civilização e da liberdade”.

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