Fonte: artigo da Folha de SP, 1º. de julho de 2012, “Guindaste da morte no Irã”, iranianos são enforcados no dia 27 de junho
Imagem: www1.folha.uol.com.br
|
SOB OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL da quinta-feira, um alto-falante lista as acusações e dá a sentença contra os homens acusados de estupro e tráfico. Minutos depois, os corpos suspensos esboçam um balançar de pernas, enquanto os dedos se retorcem e alguém diz: “Sério? Já acabou?”.
A Folha acompanhou a execução de dois condenados à morte nas imediações da capital iraniana. Sob os olhares da multidão, acusados são enforcados em caminhões dotados de guindastes e ficam suspensos a cinco metros de altura, num espetáculo de terror promovido para alertar dissidentes.
Os corpos suspensos esboçam um trêmulo balançar de pernas, enquanto mãos e dedos se retorcem devagar. Um rapaz solta: “Eles estão se mexendo que nem rãs, é isso que merecem”.
Se aplicada num golpe rápido e seco, a forca leva à quebra das vértebras da coluna cervical e à secção da medula espinhal, causando morte quase instantânea.
GEORGE ORWELL, “Um enforcamento”
“É curioso, mas até aquele momento eu jamais me dera conta do que significava matar um homem saudável e consciente. Quando vi o prisioneiro pisar de lado para desviar da poça d´água, percebi o mistério, a injustiça execrável de interromper uma vida no auge. Aquele homem não estava agonizando, estava tão vivo quanto nós.
[...] Ele e nós éramos um grupo de homens caminhando juntos, vendo, ouvindo, sentindo, percebendo o mesmo mundo; e em dois minutos, com um estalo súbito, um de nós partiria – UMA MENTE A MENOS, UM MUNDO A MENOS.”
***
Como um ser humano admite ainda enforcar alguém?
Há outras formas de punir desajustados. Eu chego até mesmo a pensar, com base em um dos Evangelhos: “PAI, PERDOAI-OS (a cúpula do IRÃ) PORQUE ELES (ainda) NÃO SABEM O QUE FAZEM”.
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
De acordo com o Editorial da Folha de S. Paulo, de 4/7/2012: “NUNCA SE ESTÁ A SALVO plenamente de um erro judicial. A própria ideia de que o Estado possa tirar a vida de um cidadão já constitui um abuso injustificável de poder.
ResponderExcluirMais ainda num país como o Irã, onde a onipresente repressão política conta com mais um mecanismo a seu dispor: acusações falsas, em processos conduzidos por autoridades religiosas, podem levar ao enforcamento qualquer indivíduo indesejável ao regime.
É como instrumento de terror político e, infelizmente, também como fonte de legitimidade perante a população, que o sistema de execuções públicas prospera no país.
Nesse amálgama macabro de barbárie secular e mecanização industrial estão simbolizadas as contradições do Irã – e só resta contar com que se resolvam, como é a longo prazo a tendência na maior parte do mundo, no caminho da civilização e da liberdade”.