“Imagine
alunos do ensino médio discutindo mudanças climáticas”
Volto a citar: raramente insiro neste blog, na íntegra, um
artigo preparado para outro veículo. Mas este é um dos casos raros, por
considerá-lo leitura relevante para profissionais que atuam em Educação. O texto “Depois da Rio+20” foi publicado na Folha de
S. Paulo, Tendências/Debates, de 24 de junho de 2012, de autoria de Irina
Bokova, Lena Ek e Hirofumi Hirano:
“SUÉCIA, JAPÃO, CHINA e outros países incluíram nas escolas
o desenvolvimento sustentável. O crescimento verde não virá apenas com acordos
políticos.
Quando o terremoto e o tsunami atingiram o Japão em 2011,
quase todos os estudantes do ensino médio e fundamental de Kamaishi
sobreviveram, pois tinham sido ensinados a reagir. Lá, a defesa contra essas
catástrofes está nas mentes de crianças e adultos. É uma habilidade.
Habilidades são a chave para o desenvolvimento sustentável
em tempos de mudança global. Construir essas habilidades deve começar o mais
cedo possível nas escolas.
Muito longe dali, na Jamaica, Lorna Down leciona literatura.
Em sua primeira reunião sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(EDS), ela ainda não entendia como a sua disciplina estaria relacionada com o
tema.
Logo percebeu que poderia abordar a questão nas aulas por
meio do tema da violência, um assunto social importante em seu país. Hoje, seu
programa foi adotado pelos professores universitários na Jamaica.
Essas duas histórias têm algo em comum: a importância de
educar para o desenvolvimento sustentável.
Após a Rio+20, os líderes globais devem seguir com a ideia
de que o crescimento verde não é alcançado exclusivamente por acordos
econômicos e políticos ou soluções tecnológicas. Não há desenvolvimento
sustentável se riscos corroem o progresso, se desigualdades e violência
enfraquecem as sociedades. O crescimento verde acontece se enraizado nas
sociedades sustentáveis, baseado no conhecimento adequado e em habilidades e
valores.
Esse é o propósito da EDS, que exige revisão de currículos,
qualificações profissionais, programas educacionais, formação adequada e
capacitação para ampla variedade de profissionais. Nada fácil, mas vale a pena
todo esforço.
Imagine alunos do ensino médio discutindo mudanças
climáticas. Depois de aprender sobre as causas e os efeitos de gases de efeito
estufa na atmosfera, eles trabalham em pequenos grupos sobre o que podem fazer
para reduzir a emissão individual de carbono. Desenvolvem uma lista sobre como
poupar energia em casa e na escola. Iniciam plantio de árvores na escola.
Adquirem as habilidades sociais necessárias para empregos verdes, aprendendo
sobre contextos ecológicos.
Os alunos também informam a comunidade sobre o projeto, com
material para a revista da escola e o jornal local, criando novas competências,
essenciais para a inovação e o desenvolvimento sustentável.
Essa visão deve ser uma realidade em todas as escolas.
A Suécia tornou obrigatório no currículo nacional de ensino
a aprendizagem do desenvolvimento sustentável nos níveis do sistema
educacional. Mais de 800 profissionais de 42 países na Ásia e África já
participaram de programas de formação financiados pela Suécia.
O Japão colocou a EDS nas diretrizes curriculares nacionais.
A China designou mil escolas como experimentais para EDS e a incluiu em sua
reforma educacional.
A Educação para o Desenvolvimento Sustentável amadureceu. A
Rio+20 proporcionou uma oportunidade de reconhecê-la e aplicá-la. O próximo
passo é incluí-la nas estratégias de desenvolvimento.
Quando os objetivos de desenvolvimento do milênio expirarem
em 2015, um novo quadro de "objetivos de desenvolvimento sustentável"
deve renovar o nosso compromisso para o desenvolvimento. A EDS deve ser parte
integrante do quadro de cooperação pós-2015.”
***
“TENHO PARA MIM que exemplos como estes mostram que existem
caminhos sendo trilhados, que há predisposição para mudanças mais
paradigmáticas. E, como sempre, tudo passa pela Educação. O problema aí é que
não apenas a Educação proporcionada pela escola é a que vale. O contexto social
e a percepção interior de cada um sobre os rumos que valem a pena seguir têm um peso por demais
significativo”, revela o amigo Roberto
da Graça Lopes. Assim, diz ele, é que a
impunidade pela corrupção, desrespeito
ao ambiente natural, e mesmo urbano, e por todas as mazelas trazidas pela
pobreza, violência, drogas, dissolução das famílias, resultam numa forte
pressão adicional. Então, cabe a cada um de nós, pelo exemplo pessoal e
trabalho individual, concorrer para diminuir essa pressão adicional onde se
viva e atue, a fim de que os princípios e comportamentos transmitidos por uma
EDS ministrada nas escolas possam encontrar terreno fértil para prosperar”,
complementa Graça Lopes.
_____________
* Irina Bokova, 59, é diretora-geral da UNESCO.
* Lena Ek, 54, é ministra do Meio Ambiente da Suécia.
* Hirofumi Hirano, 63, é ministro da Educação, Cultura,
Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão
Revisão do texto:
Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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