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domingo, 3 de junho de 2012

BULLYING: SELVAGERIA HUMANA EM PLENO SÉCULO XXI

“Por que, se pudesse escolher sua sexualidade, alguém optaria por uma que ofende e intimida tanta gente?”

TRATA-SE DE UM ASSUNTO bastante sério, desumano e característico de um sistema de ensino e cultura que cresce com deficits gritantes na formação do Eu, que, por sua vez, se tornou um dos mais importantes fatores que fomentaram as falhas históricas do Homo sapiens, como escreve o psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury em sua obra “A fascinante construção do Eu”. Ele revela que o sistema acadêmico nos prepara para exercer uma profissão e para conhecer  e dirigir empresas, cidades ou estados, mas não a nós mesmos.

Para o psiquiatra Cury, o processo de construção de  pensamentos, formação do Eu e organização da consciência é a fronteira mais complexa da ciência. “Quem a estudar e compreender minimamente terá vontade de conversar com mendigos, doentes mentais, idosos, pessoas  humildes, enfim, seres humanos que não chamam  a atenção social e a quem ninguém dá importância. Há um  universo dentro da mente de cada ser humano”. Essa conversa para o despertar da consciência deve incluir obrigatoriamente a vontade de estudar e compreender a realidade dos homossexuais.

Proclama o autor: “As  crianças, os adolescentes e universitários não sabem sequer que têm um Eu que deve dar um choque de lucidez em seus pensamentos perturbadores e emoções angustiantes. Não se admite que alunos joguem o lixo na carteira e no chão, mas nos silenciamos sobre o lixo psíquico que acumulam. Parece que os pensamentos e emoções doentias não nos infectam. Sinceramente, espero não ser uma voz solitária no teatro social, que cada vez mais se levantem profissionais de todas as áreas apontando esses paradoxos e declarando que a humanidade tomou o caminho errado”.

“A JOVEM ERA DAS REVOLUÇÕES”

Em sua crônica “A jovem era das revoluções” (Folha de S.Paulo, 18/10/2011), o publicitário Nizan Guanaes nos permite fazer reflexões profundas sobre a atualidade:  “Os jovens foram da frente da TV, uma janela com grades, para a frente da janela da web, enorme, escancarada. Nesse movimento, ganharam voz e ouvidos, ganharam dentes. A internet é de todos e para todos, mas os jovens a dominam porque a criam e são criados por ela. Eles têm DNA digital. Agora as chances de suas ideias encontrarem eco e tração são muito maiores. O poder é jovem como nunca foi antes”.

Para o publicitário, é preciso lembrar que, em vários países, os jovens já começam a mudar o mundo começando por mudar o seu próprio mundo. “Eles estão usando armas como telefones celulares, câmaras digitais e redes sociais. Essas armas transformaram protestos por democracia em revoluções populares. E ajudam a organizar campanhas por direitos humanos, por melhorias na educação e contra a  corrupção. Vivemos no pós-moderno, no pós-tudo, que justamente por isso é pré-tudo. A era das revoluções que estamos inaugurando promete muito menos sangue e poluição. Seus motes são a colaboração, o respeito ao ser humano e ao ambiente”, lembra Guanaes.

“Enquanto isso, muitas pessoas veem ainda o homossexualismo como um transtorno mental e ensinam os mesmos valores a seus filhos. Na escola, esses jovens cometem atos de bullying contra colegas gays ou adotados por casais gays. E algumas das vítimas se suicidam”, escreve Michael Kepp, jornalista americano radicado há 29 anos no Brasil, em sua crônica “Um anúncio simbólico”, Folha de S. Paulo, caderno Equilíbrio, 29 de maio de 2012. A declaração de   Barack Obama, a primeira de um presidente americano neste sentido, fez com que casais homossexuais e seus filhos se sentissem menos excluídos da sociedade, escreve o jornalista. Foi inclusive a crônica de Kepp, que li naquele dia, que originou este artigo para o meu blog.

Para Kepp, tal preconceito existe porque perpetua o mito de que a homossexualidade não é natural. Ser gay não é transtorno. Nem mesmo é preferência. É uma atração irresistível. Por que, se pudesse escolher sua sexualidade, alguém optaria por uma que ofende e intimida tanta gente?

Em seu artigo “Bullying – brincadeira sem limites”, http://elidioalmeida.wordpress.com/2010/07/12/bullying/, publicado em 12 de julho de 2010, o psicólogo Elídio Almeida aborda amplamente o tema. Confiram lá!

Elídio é formado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro da ABA (Association for Behavior Analysis International) e da ABRAPIA (Associação Brasileira  Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência). Ele atua como psicoterapeuta clínico na perspectiva da análise funcional do comportamento.

CIÊNCIA E HOMOSSEXUALIDADE

No artigo “Homossexualismo”,  do  site “Conteúdo Global”, http://www.conteudoglobal.com/sociedade/homossexualismo/, há uma abordagem científica sobre o assunto:

“ [...] A homossexualidade não é transtorno médico ou psiquiátrico. É, contudo, um aspecto da condição humana que tem profundos efeitos sobre a vida dos indivíduos, das comunidades e da sociedade como um todo. A escolha dos membros do próprio sexo para relações sexuais e parceria doméstica íntima é ocorrência relativamente comum no mundo e através dos tempos, representando uma resposta particular a fatores biológicos, psicológicos e sociais inter-relacionados que dão origem à identidade pessoal e ao comportamento interpessoal. Apesar da presença universal de indivíduos homossexuais na história e na sociedade, o tema homossexualidade continua trazendo disputa e controvérsia. Discussões sobre homossexualidade costumam ser influenciadas por ignorância, medo e fuga, colidindo com dogmas morais e religiosos e contrastando com intuitos políticos.

Não obstante, a literatura psiquiátrica e científica com referência à homossexualidade tem crescido em qualidade e quantidade nos últimos 25 anos. A literatura agora dá uma perspectiva madura da homossexualidade, bem como uma orientação firme referente aos modos com os quais os médicos podem ter impacto positivo sobre a vida de seus pacientes gays ou lésbicas. Os médicos que compreendem os pontos de vista atuais sobre homossexualidade estão em posição de fornecer um atendimento clínico excelente a pacientes individuais e uma liderança humana em suas instituições e comunidades. Sem tal conhecimento, os médicos correm o risco de repetir ações preconceituosas e prejudiciais que costumavam caracterizar o tratamento médico de gays e lésbicas no passado.

No nível social, há notavelmente pouca tolerância com as variáveis expressões de orientação sexual e tende a haver uma obrigação em identificar os indivíduos como sendo heterossexuais ou homossexuais. Por exemplo, muitas organizações militares, religiosas, de educação e de voluntários costumam demonstrar intenso interesse se um de seus membros é ou não homossexual e determinam modos de lidar com o indivíduo, uma vez aplicado este rótulo a ele. A intenção, geralmente, é expulsar ou marginalizar de algum modo o indivíduo homossexual.

Um número menor de adultos se sente como tendo relativamente pouca preferência por um sexo em relação a outro, e se identifica como bissexual. Resumindo, a sexualidade vem em mais variações do que os indivíduos e a sociedade comumente reconhecem. [...]”

Na própria família, pais e irmãos respeitam e compreendem o filho, o irmão homossexual.  Amigos diretamente  ligados a eles, também. Quem  pode garantir que jamais terá um homossexual, homem ou mulher, em sua família?... As pessoas só conseguem mudar o preconceito em relação ao homossexual quando são  obrigadas a conviver com um deles, o que acaba se tornando algo natural. Aí sim as pessoas compreendem o preconceito da sociedade.

Façamos então a nossa parte no sentido de diminuir a ignorância e aumentar o reconhecimento a toda pessoa como ser digno de respeito, independentemente de sua condição humana, evitando ferir o direito e a liberdade do próximo.

CONHECIMENTO E ENTENDIMENTO

Em outra obra de Augusto Cury, “O semeador de ideias”, há algo também para pensar: “Um ser humano inteligente discute ideias. Um ser humano mediano discute comportamentos, como fatos, estilos e conceitos. Um ser humano superficial discute pessoas, quer dizer, suas roupas, projeção, imagem. Onde vocês se encontram? Os fracos rejeitam, os fortes incluem. Nosso objetivo não é ganhar a guerra da discussão, mas a da conquista de um pelo outro. A unanimidade é desinteligente, insana, burra. A diversidade de cultura e de opiniões não exige concordância de ideias, mas respeito solene pelas diferenças. A sabedoria não requer cérebros infalíveis, mas mentes que reconheçam seus limites e sua estupidez”.

Quando Barack Obama se tornou o primeiro presidente a declarar apoio ao casamento gay, o jornalista Michael Kepp lembrou da noite de sua eleição. Os  dois momentos moldaram vidas americanas para sempre, diz Kepp.

Segundo Kepp, a eleição de Obama permitiu que crianças negras sonhassem sonhos maiores, se imaginassem vivendo na Casa Branca. “Acabando com sua ambiguidade em relação ao casamento gay, ele permitiu que homossexuais e seus filhos se sentissem menos párias”.

Kepp escreve ainda que o anúncio de Obama teve peso simbólico porque se espera que o presidente dê um exemplo moral e esteja do lado certo da história, embora a maioria dos presidentes americanos seja reprovada nos dois quesitos. “Obama, numa  decisão arriscada em um ano eleitoral, realizou os dois. Algum dia os americanos vão se perguntar por que os casais gays os perturbavam tanto”, observa.

Mas o gesto de Obama não muda o fato de que só seis Estados americanos reconhecem o casamento gay: 42 Estados o proíbem e as leis federais não o reconhecem.

Resta uma última reflexão para o  leitor: em “Calma no caos”, que li recentemente, seu autor, Arthur Jeon (bacharel em Humanidades pela Universidade de Harvard, Estados Unidos) cita Steven Covey,  especialista em gestão do desempenho humano: “O anseio mais profundo da alma humana é o de ser compreendida. O anseio mais profundo do corpo humano é de ar. Se você consegue escutar a outra pessoa, em profundidade, a ponto de ela se sentir compreendida, é como se lhe desse ar”.

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Tom Simões, tomsimoes@hotmail.com, jornalista especializado em Divulgação Científica, Santos (SP), www.tomsimoes.com

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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