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terça-feira, 17 de abril de 2012

APOSENTADORIA: ALGUMAS REGRAS BÁSICAS

Não dá mesmo para ficar repetindo as mesmas coisas. É preciso estar sempre aprendendo alguma coisa

Jogar um futebolzinho? Beleza... Caminhar na praia, jogar conversa fora com amigos no boteco... Fazer trilhas na montanha, perfeito – montanhistas, em geral, são pessoas contemplativas, autorreflexivas e com o propósito da autossuperação... Viajar...

E o hábito da leitura? Pesquisas produtivas na internet, um bom papo com alguém disposto a compartilhar alguma Sabedoria, disposição de conquistar oportunamente novos amigos?...

Buscar o simples prazer e a distração temporária não é tudo para aposentados. Para se manter pró-ativo, o cérebro exige mais: a introdução permanente de pequenos hábitos intelectuais e atividades físicas diversificadas, capazes de levar o indivíduo à autorreflexão e renovação; a prática de uma filosofia, um ritual religioso, uma atividade artística ou algo parecido, com que o indivíduo se identifique e se motive para se libertar gradativamente de seus medos, ansiedades, egocentrismo...

Portanto, não dá mesmo para ficar repetindo as mesmas coisas. É preciso estar sempre aprendendo alguma coisa: variar interesses, experimentar desafios para a superação pessoal, libertar-se de velhos preconceitos, enfim, conscientizar-se da chatice, da mesmice e da teimosia, para não ser chamado de “velho chato, rabugento...”


Focar-se em atitudes positivas e mudanças comportamentais que possam propiciar até o elogio de amigos é fundamental para manter a qualidade de vida na velhice. São práticas que aumentam a autoestima e podem servir como exemplo para outras pessoas iniciarem pequenas transformações em suas vidas.

De acordo com Eva Pierrakos, no livro O caminho da autotransformação, o hábito é fortemente sedutor, arrastando a pessoa à indolência e à inércia, que a levam a deixar de tentar, de trabalhar e de ficar alerta.

“Se você faz palavras-cruzadas, você ganha habilidade em fazer palavras-cruzadas”, diz Lisa Berkman, diretora do Centro de Estudos de População e Desenvolvimento da Universidade de Harvard, no artigo Aposentar-se desacelera o cérebro, publicado na Folha de S. Paulo, caderno “The New York Times”, de 25/10/2010. “Mas não fica mais apto em matéria de comportamentos cognitivos na vida”, completa.

Tudo isso me lembra algo de Gilberto Dimenstein (veja Aposentadoria sob a visão de Dimenstein), no sentido de que esse sonho da aposentadoria é um pesadelo. É o que indicam algumas pesquisas sobre a memória. Para ele, deveríamos ensinar à criança, desde cedo, que a vida só se torna uma bela aventura, com significado, se não pararmos de ter curiosidade, de aprender e de criar. “Fazer planos para não fazer nada é a morte”, descreve Dimenstein.

Na crônica Uma crise de meia-idade (Folha de S. Paulo, caderno Tec, 6/4/2011), Luli Radfaherer revela que, por mais que o futuro seja desejável, o passado é mais confortável. “Como todos já estiveram nele, suas regras são conhecidas e não demandam novos aprendizados que, em muitos aspectos, só aumentam as inseguranças... E assim se avança para o futuro com o freio de mão puxado, carregando excesso de bagagem, repetindo erros por tradição, preguiça e teimosia”. Luli faz tal referência a vários profissionais bem sucedidos, que, quando perto da meia-idade, sentados no sofá de suas salas, agora grandes demais, pensam até em mudar para um apartamento menor, mas depois recuam. “Mudar dá trabalho, custa dinheiro, traz dores de cabeça, implica trocas de grupos sociais, questiona o status. É mais confortável tomar mais uma taça de Bourgogne e deixar a decisão para o dia seguinte. Ou para quando for inevitável”.

QUESTÃO DA IDADE

Há anos, Yehuda Berg pratica jiu-jitsu. Certa vez, o autor do livro Palavras de poder, Lauro Henriques Jr., leu uma entrevista do lutador brasileiro de jiu-jitsu Rickson Gracie em que, ao lhe perguntarem a idade, ele disse: “Faz parte da minha maneira de pensar não falar a minha idade. Acredito na força mental, e educar sua mente a repetir sua idade é um grande defeito. Não tenho problema em ter nascido em 1959. Mas não sei quantos anos tenho. Se você diz que tem 30, 50 anos, fica em uma situação inconsciente de que não pode mais fazer o que você fazia com 15 anos. Prefiro responder com 18 ou 100 anos. O mais importante é estar pronto. Senão você começa a se limitar”. O que acha desse ‘treinamento’?, pergunta Lauro Henriques a Yehuda Berg, rabino, uma das grandes lideranças mundiais da cabala - tradição mística do judaísmo que busca revelar a sabedoria oculta nas entrelinhas dos textos sagrados.

“Acho ótimo, pois qualquer coisa que condicione negativamente a mente, que nos coloque nesse estado em que passamos a acreditar que não somos mais capazes de fazer algo, qualquer coisa desse tipo certamente não nos traz nenhum benefício. A grande realidade é que, em essência, nós não estamos sujeitos a nenhuma forma de limitação”, explica Yehuda. Para ele, uma pessoa pode ter 100 anos de idade e fazer o que quiser. “O problema é que, infelizmente, a maioria de nós ainda está muito longe de ter essa consciência de que não há limitações; estamos realmente muito distantes desse nível de consciência. Assim, até que possamos atingir esse grau de clareza, em que o mundo compreenda que, na verdade, nossa idade biológica não representa nenhuma limitação, que aos 70, 80 ou 100 anos podemos fazer o que quisermos, até realmente acreditarmos nisso, essa tentativa de fazer o cérebro ao menos esquecer qual é a nossa idade pode ser um bom treinamento sim. É algo que pode nos ajudar a atingir muito mais do que atingimos na vida atualmente”, revela o rabino.

Ele diz que uma pessoa virtuosa é aquela que está sempre trabalhando para fazer de si mesma uma pessoa melhor.

CAPACIDADE DE SE SUPERAR

“Desde que estava na segunda série, quis que minha vida servisse para algo, que fizesse alguma diferença no mundo em que eu vivia. Sempre quis crescer e realizar, qualquer que fosse, o propósito da minha existência e fazer todo o possível para ajudar os outros a realizarem os deles”, descreve Flip Flippen em Pare de se sabotar e dê a volta por cima.

Contamos histórias a nós mesmos para não precisarmos encarar uma verdade difícil e dolorosa, diz o autor.

Flippen dá algumas dicas: “Não permita que o receio ou a apatia o impeçam de fazer as mudanças necessárias. Há gente que conta com você. Goste ou não, os outros precisam que você alcance todo o seu potencial. Cada um de nós tem limitações pessoais para superar; precisamos apenas de um plano para saber por onde começar”.

Não me importo de ter limitações pessoais que preciso encarar, observa o escritor. “Só não quero ter, no ano que vem, as mesmas que tenho este ano. Ainda estou crescendo, mas a cada passo me torno mais aquele que estou destinado a ser, e isso me anima.”

Flippen deseja celebrar a vida  com aqueles que também escolhem ser tudo aquilo que podem ser.

“O TESÃO DOS VELHOS”

“Há um time de brasileiros que vai, aos poucos, redefinindo o que significa  ser velho. É gente como Sílvio Santos, Hebe Camargo, Jô Soares, Fernando Henrique Cardoso, Boni, Chico Buarque, Caetano, Gil, Niemeyer, Adib Jatene”, escreve Gilberto Dimenstein em sua crônica “O tesão dos velhos”, publicada na Folha de S. Paulo, caderno Cotidiano, de  12/9/2010).

De alguma forma, revela Dimenstein, eles se comportam, na sua inventividade, como educadores e ajudam a quebrar o preconceito de que ser idoso é apenas esperar a morte.

Segundo o cronista, uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre a terceira idade mostrou que um terço dos brasileiros com mais de 60 anos admite ter depressão. Nesse grupo, o medo da morte é igual ao de ficar doente.

Dimenstein conta também que psiquiatras alertam sobre o risco de certos preconceitos acabarem atrapalhando o processo de envelhecimento. “É que, além dos problemas naturais da idade, é comum a visão que se tem da vida na terceira idade como um momento sem novidades, previsível, monótono, o que, muitas vezes, aumenta a probabilidade de surgirem doenças físicas e psicológicas. Veja quantos acadêmicos, no auge de sua fertilidade mental, se aposentam da universidade”.

Para o cronista, isso significa que tesão pela vida se aprende. Ou se desaprende. “Aprende-se, por exemplo, vendo um Jaime Lerner, 74, arquiteto e urbanista, cercado de universitários, tão satisfeito quanto desajeitado, espremendo-se para entrar no menor carro do mundo”.

SOBRE A IDADE: MUITO PARECIDO COMIGO

Eu, Tom Simões
“Na verdade, eu me sinto bem jovem. A idade é de qualquer forma apenas um estado de espírito, um rótulo que a tribo usa para classificar as pessoas e impor limites ao que são capazes de fazer. Prefiro não levar a vida de acordo com rótulos. Mas, é verdade, eu poderia ter me aposentado, e ainda trabalho para esta empresa. Estou aqui há mais de cinquenta anos”, revela Robin Sharma em O líder sem status, com o que me identifico plenamente.

A questão é a seguinte, prossegue o autor: “Por que eu sairia de um emprego de que gosto tanto? Estou no melhor momento da minha vida! E fazer um trabalho que prezo muito é um dos modos pelos quais permaneço jovem de espírito. Aqui posso ser criativo e instigar minha mente solucionando problemas. Tenho a chance de fazer novas amizades, sendo espantosamente bom com nossos clientes todos os dias.  E tenho a oportunidade de inspirar meus colegas de equipe com meu exemplo positivo. Além disso, me sinto tão feliz assim porque fazer um trabalho é uma das melhores táticas para crescer repleto de profunda alegria. Tudo isso me dá um senso de propósito.”

É isso aí. Lembrando Paul Ekman - Consciência emocional: “Eu faço o que posso para produzir conhecimento que possa ser útil para as pessoas e reduzir o sofrimento”, tentando levar o leitor para um estágio melhor do que o anterior. Uma leitura útil sempre pode cumprir a função de despertar o leitor e libertá-lo das velhas formas repetitivas e condicionadas de pensar. E é isto que eu quero fazer pelo resto da vida: compartilhar alguns Ensinamentos que possam melhorar a vida das pessoas e transformá-las em seres humanos melhores a cada dia.

Pois creio que, como escreve Nick Vujicic em Uma vida sem limites: “Tudo que você faz para melhorar a vida de alguém enche sua vida de sentido e significado”.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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