sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

COMPORTAMENTO INDESEJÁVEL DE PESSOA QUERIDA

“Em geral, todos fingem não estar vendo, acreditando que estão sendo gentis, mas acabam causando mais danos à pessoa ao não enfrentar o problema...”

É ALGO BEM COMUM alguém muito estimado ter algum tipo de comportamento indesejável. Ficamos bastante incomodados quando esse comportamento desestabiliza um relacionamento ou quando esse alguém é objeto de comentários maldosos em sua ausência.

Sofremos por essa pessoa que estimamos, sobretudo pela falta de coragem de conversar abertamente com ela sobre o seu jeito inadequado de ser.

O que fazer? Quem tem coragem de enfrentar um desafio dessa natureza? Conversar cara a cara, enfrentando uma possível reação defensiva. E, se necessário, voltar a abordar o assunto após dar o devido tempo ao outro para reflexão. Mais cedo ou mais tarde, havendo o propósito determinado de beneficiá-lo, é provável que ele aceite a intervenção.

Porém, é raro alguém “enfrentar” o outro para falar de seu incômodo temperamento. E mais raro ainda, quem consegue manter em segredo essa conversa a dois.

Tenho pensado bastante sobre tudo isto, predispondo-me a falar direta e carinhosamente com certas pessoas quando há oportunidade. Experimento inclusive essa determinação em relação a pessoas desconhecidas. Recentemente, reunido no clube com amigos, ao notar a forma severa como um pai tratava o filho de aproximadamente sete anos, consegui falar com essa pessoa em termos de ela repensar a forma de tratar a criança.

O pai, alguém aparentemente fechado, que mal me conhecia, passou a me cumprimentar de forma diferente a partir de então. Talvez tenha absorvido o comentário, revendo algo importante na relação com o filho.

PRISIONEIROS DAS PRÓPRIAS LIMITAÇÕES

Imagem:
www.charleshaddonspurgeon.com
“Muitos de nós somos prisioneiros de nossas limitações e continuamos nos agarrando a elas com tenacidade – até mesmo a questões mal resolvidas do passado – porque não conseguimos ou não queremos encarar o problema”, escreve o psicoterapeuta americano Flip Flippen em “Pare de sabotar”. Para o autor, superar nossas limitações é possível e necessário se quisermos aproveitar a vida ao máximo; aceitar esse fato nos ajudará a abandonar o velho e acolher o novo. E, por vezes, a prosa de um amigo/parente é um chamamento para a superação de limitações.

O psicoterapeuta revela que nossas limitações pessoais atuam em todas as esferas da nossa vida. O objetivo de reconhecer nossas deficiências não é para condenar a nós mesmos, mas compreender o impacto que isso tem em nossa vida, diz.

“As limitações pessoais assumem várias formas. Embora a maioria seja comportamental, de vez em quando alguma dificuldade física ou intelectual interfere tanto que pode prejudicar o esforço que você está fazendo para tocar a vida. Em geral, todos fingem não estar vendo, acreditando que estão sendo gentis, mas acabam causando mais danos à pessoa ao não enfrentar o problema”, revela Flippen.

CONQUISTA REQUER CONFIANÇA

Faz bem a uma pessoa viver com um comportamento indesejável que ninguém jamais menciona? As pessoas devem admitir que amigos, parentes e colegas convivam com algo que obviamente prejudica o seu desempenho, aparência e/ou sucesso sem procurar uma forma de ajudar?, pergunta o psicoterapeuta americano. E mais: Não vale a pena correr o risco de enfrentar um ou dois momentos de constrangimento para se livrar – de uma vez por todas – de um grande incômodo? Flippen explica que o insensato comportamento acompanha a pessoa a todas as partes e provavelmente é objeto de piadas ou comentários na ausência dele.

Como psicoterapeuta, diz ter a vantagem de as pessoas saberem que ele está ali para ajudá-las. “Em questões que requerem grande sensibilidade, em geral o privilégio de falar sobre assuntos íntimos ou difíceis deve ser conquistado com confiança, à medida que se constrói o relacionamento. E vale a pena assegurar-se primeiro de suas motivações e ter certeza de que está fazendo isso porque quer o melhor para o outro, não porque aquilo incomoda você”, comenta o autor.

Além disso, segundo Flippen, muitos não percebem que algumas limitações pessoais são tão visíveis para os demais quanto um defeito físico – problemas que os outros não mencionam, mas que não lhes permite focar nossos maiores atributos. “Precisamos examinar com franqueza o impacto que cada deficiência tem em nós e naqueles a nossa volta – pessoas queridas, parentes, funcionários. Todos eles merecem o melhor que possamos lhes oferecer. Há uma boa chance de descobrirmos algo em que precisamos melhorar. Talvez até percebamos que não é tão difícil quanto possa parecer e que os benefícios compensam de longe nossos medos iniciais”, complementa.

O RESPONSÁVEL PELO RELACIONAMENTO

Quem é o responsável pelo relacionamento?, pergunta Eva Pierrakos em sua obra “O caminho da autotransformação”. Quando pessoas em níveis diferentes de desenvolvimento espiritual se envolvem, explica a autora, é sempre a pessoa mais desenvolvida a responsável pelo relacionamento. “Especificamente, essa pessoa é responsável pela descoberta dos aspectos mais profundos da interação que criam alguma espécie de fricção e de desarmonia entre as partes”.

Ela diz que uma pessoa espiritual e emocionalmente imatura sempre jogará o peso da culpa no outro. “Tudo isto se aplica a todos os tipos de relacionamento: a companheiros, a pais e filhos, a amigos e a relações sociais. Sua tendência a se tornar emocionalmente dependente dos outros, dependência essa cuja superação é da maior importância no processo de desenvolvimento, em grande parte provém do desejo de se eximir de culpa ou de se livrar de dificuldades ao estabelecer e manter um relacionamento. Parece bem mais fácil deslocar a maior parte desse peso para os outros. Mas que preço deve ser pago! Agir dessa maneira faz com que você fique realmente desamparado e isolado, ou provoca sofrimento e atritos intermináveis com os outros.

Quando você realmente começa a assumir a própria responsabilidade através da observação de seu próprio problema no relacionamento, e através de um forte desejo de mudar, aí sim a liberdade se estabelece e os relacionamentos se tornam proveitosos e agradáveis”.

Em “O outro lado do poder”, Claude M. Steiner revela: “O ser humano, embora eminentemente gregário, tem subutilizado sua capacidade de conviver de forma pacífica e construtiva com seus semelhantes. A razão básica está no fato de ele não ter exercitado, em primeiro lugar, a capacidade de conviver consigo mesmo. A ‘alfabetização moral’ é o passo inicial para a reversão desse processo, pois o reconhecimento do próprio ‘eu’ abrirá caminho para o reconhecimento do outro”.

Há uma prática que também experiencio: o silêncio. Ao lidar com alguém em circunstância desfavorável, de nada adianta discutir. Cabe à pessoa mais sensata calar-se, esforçando-se para não expressar contrariedade. Tal atitude pode conscientizar o outro sobre o incômodo de sua atitude, levando-o a refletir racionalmente sobre o seu comportamento inadequado.

Isto me lembra um trecho de “Cartas entre amigos”, de Fábio de Melo e Gabriel Chalita: “Amigo, às vezes, é melhor não falar e ter a paciência de dar tempo para que o outro conclua as suas imperfeições”.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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