terça-feira, 10 de janeiro de 2012

“O SENTIDO ESPIRITUAL DA CRISE”

“Independentemente de como você vivencie as crises, sempre há nelas uma mensagem para a sua própria vida. Cabe a você não projetar suas experiências para fora, nos outros, o que é sempre a tentação mais perigosa.”

Imagem: www.simplessolucoes.com.br
NA NOSSA VIDA existem momentos – e mesmo períodos prolongados – em que de repente tudo parece ter chegado ao fim. Somos sacudidos até as profundidades do nosso ser por acontecimentos que nos obrigam a tomar decisões difíceis, ao mesmo tempo em que nossos sentimentos se agitam de tal modo que não sabemos o que fazer”, escreve Eva Pierrakos em sua obra “O caminho da autotransformação”.

O verdadeiro autor dessa obra é um ser desencarnardo que não atribuiu nenhum nome a si mesmo, e por isso passou a ser conhecido como o “Guia”. Eva Pierrakos nasceu em Viena em 1915, filha do conhecido romancista Jakob Wassermann. Quando John Pierrakos, seu marido, um psiquiatra de tradição reichiana, a encontrou, o trabalho de ambos ficou enriquecido. O casamento deles ajudou John a transformar sua prática de bioenergia em “energética da essência”, pela incorporação dos ensinamentos do Guia.

“O Guia dizia que sua identidade não era importante. Afinal, também não teríamos condições de averiguar essa identidade. A única coisa com que deveríamos nos ocupar eram os seus ensinamentos. E mesmo com relação a esses ensinamentos, não deveríamos acreditar neles apenas por terem origem numa entidade espiritual. Deveríamos consultar nosso coração e somente aceitar suas palavras se encontrássemos um eco interno que ratificasse sua verdade”, consta da apresentação da obra.  Dela, para este artigo, sintetizei o capítulo “O sentido espiritual da crise”.

Eu penso que é preciso perdoar, compreender e aceitar. Optar por um comportamento novo, mais construtivo e recompensador para si próprio e para os outros. Porque é necessário prosseguir a partir do ponto em que nos encontramos, esquecendo e perdoando sinceramente. Sem mágoas.

“A transformação”

As atitudes manifestamente destrutivas nunca são o mal propriamente dito. Se as admite realmente, você permanece no fluxo. O maior dos ódios, a vingança, os piores impulsos de crueldade, se admitidos honesta e francamente, se não são expressos irresponsavelmente nem reprimidos e negados, mas aceitos plenamente, jamais se tornarão prejudiciais. À medida que forem percebidos, encarados e admitidos, tais sentimentos diminuirão em intensidade e mais cedo ou mais tarde deverão converter-se em energia fluida, propiciadora de vida. O ódio se transformará em amor, a crueldade em autoafirmação sadia e a estagnação em alegria e prazer”, dita o Guia.

Apliquem estes ensinamentos na sua própria situação. Abram seu ser mais profundo para pensar sobre o assunto. Não utilizem estes ensinamentos apenas teoricamente, em termos gerais, mas vejam realmente onde negam o que está em vocês por medo e culpa, paralisando o que têm de melhor, instrui o Guia.

Aos que estão desmotivados e desesperançados, o Guia diz apenas: quando se sentem assim, vocês estão na ilusão e no erro. Percebam isso e peçam pela verdade, que se resume no fato de que não há motivo para a desesperança e que os períodos difíceis precisam apenas ser compreendidos e trabalhados para se tornarem degraus para abrir ainda mais sua vida e trazer-lhes mais luz e autoexpressão.

Para o Guia, toda crise é um reajuste, quer se manifeste sob a forma de sofrimentos, dificuldades, transtornos, incertezas, ou sob a forma da simples insegurança derivada do fato de se passar a adotar maneiras novas e desconhecidas de viver, depois de desvencilhar-se de um modo já habitual. Ele explica que qualquer que seja a forma sob a qual se manifeste, a crise procura romper velhas estruturas construídas sobre conclusões falsas, o que equivale a dizer, sobre a negatividade. “A crise sacode hábitos arraigados, possibilitando um novo crescimento. Ela dilacera e rompe, o que é momentaneamente doloroso, mas, sem ela, a transformação é impensável”, diz.

Orienta o Guia, que quanto mais dolorosa for a crise, mais a parte da consciência que dirige a vontade tentará impedir a mudança. A crise é necessária porque a negatividade humana é uma massa estagnada que precisa ser sacudida para se soltar. A mudança é uma característica essencial da vida; onde há vida, há mudança infindável. Somente os que ainda vivem no medo e na negatividade, que resistem à mudança, é que a concebem como algo a que se deve resistir. Ao resistir à mudança, eles resistem à vida em si, e assim o sofrimento se fecha sobre eles e os comprime ainda mais. Isso acontece no desenvolvimento global das pessoas e também em aspectos específicos.

“No caminho para a realização emocional e espiritual, você precisa trabalhar intensamente para libertar-se de suas negatividades. Quais são elas? As concepções errôneas; as emoções destrutivas e as atitudes e padrões de comportamento delas decorrentes; os pretextos e as justificativas. Nenhuma dessas negatividades apresentaria dificuldade em si mesma se não fosse a força autoperpetuadora que compõe cada aspecto negativo numa força sempre crescente no interior da psique humana”, revela o Guia.

Ele mostra que, diferentemente da verdade, do amor e da beleza, que são atributos divinos infinitos, a distorção e a negatividade nunca são infinitas. Elas terminam quando a pressão explode. Esta é uma crise dolorosa, e as pessoas em geral resistem-lhe com todas as suas forças.

“A crise pode pôr um fim à autoperpetuação negativa”

De acordo com o Guia, se a consciência assim o decidir, a crise pode significar o término da autoperpetuação negativa que se avoluma continuamente. Quando a explosão acontece, as opções de reconhecer o sentido ou de continuar fugindo tornam-se mais claramente definidas. “Mesmo que a explosão não leve ao reconhecimento e à mudança interior de direção, uma crise final deve ocorrer no ponto em que a entidade não consegue mais se esconder de sua mensagem. O indivíduo, consequentemente, deve ver que todas as explosões, colapsos e crises significam a derrubada de velhas estruturas para possibilitar a reconstrução de uma estrutura nova e melhor”.

A “noite escura” dos místicos é esse período do colapso de antigas estruturas, revela o Guia. Para ele, a maioria dos seres humanos ainda não compreende o significado da crise. “As pessoas olham sempre na direção errada. Se nada desmoronasse, a negatividade continuaria. Entretanto, depois de um certo despertar da consciência, é possível que a pessoa não deixe que a negatividade se instale em profundidade. Desse modo, ela fica impedida de começar o ciclo de autoperpetuação. Ela é confrontada desde o início”.

A crise pode ser evitada contemplando a verdade interior quando os primeiros sinais de distúrbio e de negatividade se manifestam na superfície. Porém, requer-se muita honestidade para enfrentar as convicções pessoais firmemente acalentadas, observa o Guia.

O crescimento é possível 

“Se as dificuldades, transtornos e sofrimento na vida do indivíduo, e também na vida da humanidade como um todo, fossem observados sob este ponto de vista, o sentido verdadeiro da crise seria compreendido e muito sofrimento poderia ser evitado. Digo-lhe agora: não espere que a crise surja numa erupção como o vento natural, que estabelece o equilíbrio que ocorre tão inexoravelmente como uma tempestade deve acontecer quando certas condições atmosféricas precisam ser alteradas e a claridade na atmosfera tem de ser restabelecida. É precisamente isso que acontece na consciência humana. Na verdade, o crescimento é possível sem ‘noites escuras’ muito dolorosas, se o indivíduo tiver como valor predominante a honestidade para com o eu. É preciso cultivar o olhar franco para dentro de si e a atenção profunda com o ser interior, ao mesmo tempo que se torna possível livrar-se das atitudes e das ideias mesquinhas. Nesse caso, a crise de sofrimento e angústia pode ser evitada porque não haverá formação de nenhum abscesso”, escreve o Guia.

Quando o pus escorre do abscesso e as atitudes são ajustadas, a autorrevelação traz paz; a compreensão proporciona nova energia e vitalidade. O processo de cura está em andamento, mesmo quando o abscesso estoura, explica.

Segundo o Guia, a negação desse processo, a atitude interior, prolonga a agonia, em meio à qual se diz: “Eu não quero passar por isso. Tenho de passar por isso? Isto, isso e aquilo está errado com os outros. Se não estivesse, eu não precisaria passar pelo que passo agora”. Ele conta que essa atitude procura evitar a erupção necessária do abscesso, que consiste num emaranhado doloroso de energia negativa sempre crescente, cuja força torna cada vez mais difícil alterar o curso. “O ciclo negativo continuado e sua repetição vã e automática de que a consciência não é capaz de parar produzem a desesperança. A repetição e a desesperança podem parar somente através de sua atitude de não mais negar a mudança necessária”.

 “A superação das crises”

Imagem: www.apsicologa.com
“Quando você adota o hábito de primeiro questionar suas posições errôneas ocultas e suas reações destrutivas no momento em que algo indesejável se põe em seu caminho, e, além disso, se abre plenamente à verdade e à mudança, sua vida muda radicalmente”, diz o Guia.

Ele discute os aspectos negativos da autoperpetuação: “Sem dúvida, porém, ela existe primeiramente no aspecto positivo. Consideremos o amor. Quanto mais você amar, mais dará origem a sentimentos de amor autênticos, sem empobrecer a você mesmo e aos outros. Você se dá conta de que, pelo fato de distribuir, não tira nada de ninguém. Pelo contrário, mais você e os outros receberão. Você descobrirá modos novos, maneiras mais profundas, variações inúmeras de dar amor e de recebê-lo, estando em sintonia com esse sentimento universal. A capacidade de sentir e de expressar amor desenvolver-se-á num movimento sempre crescente, autoperpetuador”.

O mesmo acontece com qualquer outro sentimento e atitude construtivos, revela o Guia. Para ele, quanto mais significativa, construtiva, plena e prazerosa for sua vida, mais ela criará esses atributos. É um processo sempre contínuo, infindável, de expansão e autoexpressão constantes. O princípio é exatamente o mesmo da autoperpetuação negativa. A única diferença é que o processo positivo é infinito.

“Ao estabelecer contato com sua sabedoria, beleza e alegria inatas e permtir que se desenvolvam, elas se ampliarão por si mesmas. A autoperpetuação assume a direção quando essas energias são liberadas e quando seu acesso à consciência é permitido. A realização inicial desses poderes requer esforço, mas, no momento em que o processo começa a fluir, ele dispensa o esforço. Quanto mais qualidades universais você criar, tanto mais haverá para criar”.

As palavras foram ditas, ouvidas e registradas. Mas até que ponto você sabe que isso é verdade?, pergunta o Guia.

“A mensagem das crises”

Imagem: http://pt.wikinoticia.com
“Independentemente de como você vivencie as crises, sempre há nelas uma mensagem para a sua própria vida. Cabe a você não projetar suas experiências para fora, nos outros, o que é sempre a tentação mais perigosa. Ou ainda, projetá-las em você mesmo de um modo autodestrutivo, o que o leva a desviar-se da meta do mesmo modo que sucede quanto projeta suas experiências nos outros”, conta o Guia. A atitude do tipo “Sou mau, não sou nada” é sempre desonesta, explica. Essa desonestidade precisa ser exposta para que a crise possa ter sentido, quer seja pequena ou grande.

“Se você aprender a separar a menor sombra da sua vida diária e a explorar o sentido mais profundo, você controlará as pequenas crises de um modo que se tornará impossível a dilatação do abscesso. Assim, nenhuma erupção dolorosa é necessária para remover uma estrutura arruinada”.

Por outro lado, revela o Guia, quando você projeta suas velhas experiências negativas nos outros, é-lhe impossível ter percepção adequada do que realmente acontece na outra pessoa e, portanto, você não consegue lidar com a situação. “Você viverá uma nova e magnífica virada em sua vida à medida que desenvolver sua capacidade de observar honestamente o que o perturba em seu interior e à medida que desejar mudar.”

Para realizar uma mudança positiva deve-se desejá-la; você deve querer estar na verdade e mudar. E deve orar à atuação divina mais profunda em sua alma para que torne a mudança possível, orienta o Guia. A partir disso, prossegue, você espera que a mudança aconteça, de modo confiante, esperançoso e paciente. Este é um pré-requisito absoluto para a mudança.
“Por não ser honesto com a vida, você não consegue acreditar realmente no poder da Inteligência Universal que está com você o tempo todo e que se põe a trabalhar no momento em que você lhe dá espaço. É imprescindível uma entrega total a ela, sem reservas”.

Alguém revela ao Guia: “Comecei a descobrir o significado da crise. Sinto que tenho de me abrigar em algum lugar ou que preciso passar pela tempestade, que é o que tenho a impressão de estar fazendo agora”.

Na verdade, observa o Guia, buscar abrigo nada tem de bom; pelo contrário, aumenta a tensão crítica. “O alívio momentâneo é uma ilusão das mais sérias. As coisas se passam desse modo porque a crise inevitavelmente surgirá mais tarde, mas então não estará mais ligada à sua fonte e por isso será mais aguda. Entretanto, quando você toma a decisão dizendo ‘Não me abrigarei, farei a travessia’, os recursos disponíveis na alma humana estarão quase que imediatamente à mão. Esses recursos permanecem ocultos aos que ainda tendem a fugir. Eles se sentem fracos e não acreditam em suas próprias capacidades para realizar os poderes infinitos do Espírito Universal. Não conhecem seu potencial, a força que surgirá, a inspiração que se apresentará. É somente quando você decide fazer a travessia que esses recursos se tornam disponíveis”.

Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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