Sabemos fazer tudo neste mundo, mas não sabemos rezar!
No dia 3 de dezembro de 2011 participei de um retiro, no Centro Budista Kadampa de São Paulo, www.meditadoresurbanos.org.br O retiro destinava-se à evocação da Mãe Protetora Arya Tara, mais conhecida como Mãe Buda “Tara Verde”. Boa parte dos 120 participantes era constituída de jovens entre 30 e 40 anos.
Tara é um Buda feminino, uma manifestação da sabedoria suprema de todos os Budas. Fazendo preces, oferendas e pedidos à “Mãe Tara”, aumentamos rapidamente nosso destemor e sabedoria e ficamos sob a proteção do amor afetuoso de Tara. Sua cor verde simboliza que ela é o elemento “vento” completamente purificado e pode atender rapidamente às preces solicitadas. Porque o “vento” tem a característica da força, do movimento e da direção de onde está soprando...
A tradição Kadampa foi fundada pelo venerável Geshe Kelsang Gyatso, responsável pela ocidentalização dos ensinamentos budistas.
Por que precisamos tomar uma decisão de criar uma mente amorosa e compassiva? Como podemos nos livrar de todas as nossas preocupações? Permanecendo passivo, sem desenvolver positivamente a mente, continuamos a sofrer. É preciso esforço para pacificar a mente.
A fé tem analogia, por exemplo, com uma árvore: raiz, galhos e frutos. Para conquistar a paz interior há necessidade de um grande investimento, não pesado, mas alegre, compensador. O que acontece dentro de nós quando há fé? Não há confusão, não há hesitações. O que há então? Confiança, segurança e calma.
Com a fé não há espaço para a dúvida. E, então, pergunta a professora Thelma Martins Costa, que ministrou a palestra sofre fé: “Como eu encontro a fé dentro de mim?” Ela explica que a gente precisa sempre de ajuda para caminhar: dos pais, dos professores, dos amigos, dos livros... E também surgem espaços e oportunidades em nossa vida para despertar a fé. Mas no ritmo desenfreado em que vivemos, não costumamos prestar atenção nessas oportunidades.
O que é a fé? Para a professora, a fé é uma mente naturalmente virtuosa, uma fonte de felicidade. “Se pensar bem, o que nós queremos de verdade? Diminuir a raiva, o orgulho, e irradiar luz. A fé elimina conflitos; ela tem o poder de pacificar a nossa mente. E, então, vamos acreditar nos benefícios da mente amorosa?”
Com a fé a gente aprende a admirar fatos e situações. Quando a gente admira, fica mais tranquilo, é como água límpida da nascente fluindo em nosso coração. Ao admirar, imaginamos: “Eu também quero ser assim”. E é isto que a gente vivencia ao praticar os ensinamentos budistas, revela Thelma.
Procure reconhecer que a fé está presente em seu coração. Portanto, está em nossas mãos encontrar o remédio para despertá-la em nossa vida. Conectando-se com a mente amorosa, livre das aparências comuns e confusas que alimentamos, é possível sim treinar a mente para que os seres iluminados possam nos ajudar. A fé abre todas as possibilidades de receber bênçãos.
Somos passivos. Não fazemos o mínimo esforço para controlar a raiva. Não é à toa que a gente sofre tanto, num estado tão sem controle. A raiva brota naturalmente em nós e colocamos energia nela o tempo todo. Ela consome todo o mérito acumulado das nossas boas ações. Uma simples faísca pode destruir a casa toda. Somos muito fracos. Mas podemos pedir proteção aos seres iluminados: “Me pega no colo”. Com a confiança Neles, podemos caminhar sozinhos, tornando-nos nossos próprios protetores.
Do ponto de vista espiritual, somos muito infantis, ensina a professora. As bênçãos estão chegando o tempo todo. É preciso apenas despertar, acreditar e ver para crer. Com a fé, nos livramos da negatividade e fortalecemos o nosso coração, nos aproximando mais intimamente dos seres iluminados.
TRANSTORNO OBSESSIVO
Pratico os ensinamentos do budismo há cerca de dois anos. Fui atraído para essa filosofia por conta da chamada de um curso de meditação. Quando cheguei ao local, tratava-se de um centro budista.
Para falar sobre o significado dessa opção filosófica em minha vida, vou dar apenas um exemplo prático ao leitor. Alimentei uma mania por muito tempo: tocar três vezes, diariamente, alguns objetos, benzer-me de três em três vezes, abrir e fechar a porta de casa e do trabalho várias vezes seguidas... Se eu não obedecesse a mente, o não toque poderia ocasionar males para a minha vida, assim eu imaginava.
De acordo com o dicionário da Wikipédia, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou distúrbio obsessivo-compulsivo (DOC) é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos e compulsivos no qual o indivíduo tem comportamento considerado estranho para a sociedade ou para a própria pessoa; normalmente trata-se de ideias exageradas e irracionais de saúde, higiene, organização, simetria, perfeição ou manias e "rituais" incontroláveis ou dificilmente controláveis.
Pois bem. Eu tinha esse hábito e não contava a ninguém.
Segundo o filósofo francês Luc Ferry, em sua obra “Aprender a viver”, na opinião dos estoicos, os dois males que pesam sobre a existência humana, os dois freios que a paralisam e a impedem de alcançar a plenitude, são a nostalgia e a esperança, o apego ao passado e a preocupação com o futuro. Continuamente eles nos levam a perder o instante presente, nos impedem de viver plenamente”.
Foi então que, com a prática da meditação, alicerçada aos ensinamentos budistas, fui me libertando dos pensamentos insensatos, por acreditar que nós os criamos e alimentamos. Onde estaria a lógica de que se eu não tocasse três vezes a mesma coisa, algo de fatal poderia ocorrer em minha vida? E hoje estou absolutamente curado desse tipo de transtorno obsessivo.
O “EU” BLOQUEADO
Um dos objetivos do retiro budista foi o ritual de iniciação de “Tara Verde”, celebrado pelo monge Gen Kelsang Odro, diretor espiritual do Budismo Kadampa no Brasil, cuja sede localiza-se em Cabreúva (SP). Ouvir os ensinamentos do monge Odro é experimentar um momento de verdadeira paz interior. Ouvindo-o, deixamos lá fora toda a nossa confusão mental do dia a dia.
Odro fala sobre a importância de beneficiarmos os outros, de nos transformamos em fonte de auxílio para os outros. Quando ficarmos ricos do ponto de vista espiritual, certamente vamos ajudar os outros e, consequentemente, as próximas gerações, porque este é o caminho para quem pratica a fé. Chega o tempo em que a gente se regozija com a capacidade de ficar feliz com a felicidade dos outros. Com a inveja é o contrário: fica-se infeliz com a felicidade dos outros. A visão errônea nos impede de praticar virtudes.
Com a meditação, por exemplo, familiarizamos a mente com virtudes. É como se exercitar com uma bicicleta. No início, tombamos, mas com a prática atingimos o objetivo. Nossa mente está encoberta por nuvens de tempestade, mas por cima dessas nuvens está o céu azul. Felicidade e sofrimento são criados pela própria mente. Ela é como um campo magnético, um ímã, tudo reage de acordo com a nossa intenção. É a relação da causa e efeito.
O nosso amor está bloqueado, diz o monge, mas os seres iluminados ajudam a abrir o nosso coração. É mais fácil receber ajuda Deles quando há conexão. Porque precisamos de bênçãos, de rituais, o tempo todo. Porque é preciso dar-Lhes as boas vindas. Não podemos mais ignorar uma chance abençoada como essa.
Onde está aquela felicidade que me prometeram? A gente não consegue se livrar do sofrimento por causa do apego. E quando se desprende de um sofrimento se agarra a outro, imediatamente, lembra o monge.
Buda deu 84.000 ensinamentos porque temos 84.000 negatividades, explica Kelsang Odro. Há 2.600 anos. Se esses métodos não funcionassem, não sobreviveriam.
Segundo o monge, é preciso sabedoria para eliminar o carma negativo que origina sofrimento. É na dependência das boas ações que acumulamos méritos. Para quem não acredita, pode parecer tudo muito esotérico, místico... Ele comparou o que chamou de “tecnologia espiritual” com a física do forno de micro-ondas. “Você coloca o milho da pipoca lá dentro e a pipoca fica pronta imediatamente. Quem entende? Se a gente não conhecesse o micro-ondas, não acreditaria!”
E, então, revela o monge: “Sabemos fazer tudo neste mundo, mas não sabemos rezar! Como pode alguém entender que um homem que só reza e medita dentro de um quarto pode beneficiar o mundo? É porque há num monge o desejo real de beneficiar direta e indiretamente todos os homens?”. Falta conhecimento para a gente saber. Quem está preparado para conceber estes ensinamentos? Talvez tudo isto seja um tanto complicado...
Quem tiver interesse em conhecer a filosofia budista e praticar meditação, pode procurar em Santos o Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi, www.santosmedita.org.br, que se localiza na avenida Ana Costa, 458, sobreloja 4 (esquina com a rua Tolentino Filgueiras), Gonzaga, telefone: (13) 9616-8090. Para os iniciantes, o ideal é começar no sábado ou domingo, das 17h30 às 19 horas. Há uma taxa de R$ 10,00 por aula, destinada à manutenção do Centro.
Que a gente possa florescer, para sempre...
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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