“Quem já escreveu, quase que só aprende aquilo que é literariamente comunicável”
Friedrich Nietzsche Imagem: www.thefamouspeople.com |
Um dos meus desafios: tornar acessível ao entendimento popular alguns singulares registros da literatura, como este: “Humano, demasiado humano”, escrito em 1886 por Friedrich Nietzsche. Da obra, que li em novembro de 2010, abordo o que esse filósofo alemão escreve sobre a paixão de um escritor.
Diz ele: “Quem já escreveu, e sente em si a paixão de escrever, quase que só aprende, de tudo o que faz e vive, aquilo que é literariamente comunicável. Já não pensa em si, mas no escritor e seu público; ele quer compreender, mas não para uso próprio. Quem é professor, geralmente é incapaz de ainda fazer algo para o próprio bem, está sempre pensando no bem de seus alunos, e cada conhecimento só o alegra na medida em que pode ensiná-lo. Acaba por considerar-se uma via de passagem para o saber, um simples meio, de modo que perde a seriedade para consigo”.
Eu também gosto de escrever. Há em mim uma necessidade constante de compartilhar, didaticamente, textos que aprimoram a minha capacidade de pensar e podem enriquecer o leitor, levando-o a um estágio de entendimento lógico melhor do que o anterior.
Em sua obra “O líder sem status”, Robin Sharma diz também gostar de compartilhar as ideias com o maior número possível de pessoas. Para o autor, a recompensa é sermos capaz de melhorar profundamente a vida de mais pessoas do que imaginávamos ser possível.
Sharma deseja ajudar as pessoas a realizar o melhor de si e tornar o mundo um lugar melhor: “Cada um de nós pode fazer sua parte para ajudar a aprimorar as pessoas, as empresas e as nações. Sinto que o mundo ainda se tornará um lugar um pouco melhor porque eu existo. E o que pode ser mais perfeito do que isso?”
Segundo Nietzsche, é frequente o leitor e o autor não se entenderem, porque o autor conhece bem demais o seu tema e o acha quase enfadonho, dispensando os exemplos que conhece às dúzias. “Mas o leitor é estranho à matéria e a considera mal fundamentada se os exemplos lhe são negados”, escreve o filósofo.
O LIVRO QUASE TORNADO GENTE...
“Para todo escritor é sempre uma surpresa o fato de o livro ter uma vida própria, quando se desprende dele; é como se parte de um inseto se destacasse e tomasse um caminho próprio. Talvez ele se esqueça do livro quase totalmente, talvez se eleve acima das opiniões que nele registrou, talvez até não o compreenda mais, e tenha perdido as asas em que voava ao concebê-lo: enquanto isso, o livro busca seus leitores, inflama vidas, alegra, assusta, engendra novas obras, torna-se a alma de projetos e ações – em suma: vive como um ser dotado de espírito e alma, e contudo não é humano”, revela Nietzsche.
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Ele pensa que a sorte maior será a do autor que, na velhice, puder dizer que tudo o que nele eram pensamentos e sentimentos fecundantes, animadores, edificantes, esclarecedores, continua a viver em seus escritos, e que ele próprio já não representa senão a cinza, enquanto o fogo se salvou e em toda parte é levado adiante.
Se considerarmos que toda ação de um homem, não apenas de um livro, Nietzsche disse, de alguma maneira vai ocasionar outras ações, decisões e pensamentos, que tudo o que ocorre se liga indissoluvelmente ao que vai ocorrer, perceberemos a verdadeira imortalidade, que é a do movimento: o que uma vez se moveu está encerrado e eternizado na cadeia total do que existe.
É a grande máquina em suas engrenagens, também chamada de Universo. Quando algo se movimenta, nada deixa de se movimentar, eu admito também.
Na imaginação do notável filósofo, “O pensador ou artista que guardou o melhor de si em suas obras sente uma alegria quase maldosa, ao olhar seu corpo e seu espírito sendo alquebrados e destruídos pelo tempo, como se de um canto observasse um ladrão a arrombar seu cofre, sabendo que ele está vazio e que os tesouros estão salvos”.
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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