Importa, na verdade, se o texto é capaz de modificar
o leitor do ponto de vista construtivo
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Atualmente a escolha das minhas leituras está focada especialmente em textos que levam à autorreflexão e inspiração para a mudança de hábitos pessoais e improdutivos. Textos que eu possa sintetizar e compartilhar com leitores interessados na informação objetiva capaz de conscientizá-los sobre o seu papel como agente de construção de sua própria história e de um mundo melhor.
Enquanto é tempo, cada um de nós deve olhar para trás e refletir sobre o que vem plantando para dar verdadeiro significado à vida, um significado que transcenda o lugar comum da existência humana. Precisamos nos tornar capazes de gerenciar os pensamentos e, quando necessário, mudar o roteiro de nossas vidas.
Penso em desafiar o leitor a introduzir diariamente pequenas mudanças em sua vida, deixando de se escravizar com atitudes meramente repetitivas e servindo de inspiração para a mudança de outras pessoas.
Isto não é teoria, digo por experiência própria. À medida que mudamos hábitos, vamos nos surpreendendo com respostas do meio, que proporcionam uma paz interior indescritível.
Ainda que alguém possa duvidar, não importa. Importa o que cada um experiencia quando aceita o desafio de mudar o seu projeto de vida pessoal, tornar-se alguém que ultrapassa os limites do cotidiano, disposto a beneficiar desinteressadamente outras pessoas de seu convívio ou não.
Convido o leitor a testar um novo jeito de viver e tirar suas próprias conclusões. Olhar o mundo com outros olhos e ter coragem, por exemplo, de aceitar a adversidade, melhorando relacionamentos pessoais e profissionais e contribuindo para beneficiar até mesmo o outro que o incomoda. Compreensão, solidariedade e generosidade são fundamentais para quem se propõe a mudar hábitos com o propósito de dar significados singulares à sua vida.
INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL
Não me atenho muito a argumentos de quem deprecia a literatura de autoajuda, ainda que haja livros que pareçam editados exclusivamente para aproveitar um filão comercial. Importa-me a disponibilização de instrumentos ao ser humano que possam conscientizá-lo da necessidade de se transformar em agente da reconstrução do mundo. De uma maneira ou de outra, precisamos todos de ajuda, de aconselhamento, de conceitos filosóficos, para mudar hábitos improdutivos.
“Alguns de meus livros são classificados erroneamente como autoajuda. Os que os classificam assim não entendem quais são as gritantes diferenças entre um livro de autoajuda e um livro de ciência aplicada; enfim, de psicologia, psiquiatria, pedagogia e filosofia aplicada”, narra o escritor Augusto Cury, psiquiatra e psicoterapeuta, que durante mais de vinte anos desenvolveu uma nova teoria sobre o funcionamento da mente, chamada “inteligência ou psicologia multifocal”.
O objetivo de Cury é disponibilizar ferramentas para estimular o debate de ideias, para que o leitor aprenda a atuar em seu psiquismo, a desenvolver consciência crítica, proteger sua emoção, tornar-se gestor da sua mente e ser capaz de expandir seu potencial intelectual e prevenir transtornos psíquicos, relata o autor em sua obra “O código da inteligência”, que leio atualmente.
Segundo o especialista, emoções flutuantes, pensamentos antecipatórios, excesso de compromissos, fazem parte do cardápio de uma pessoa hiperpensante. “Se as pessoas usassem racionalmente sua memória, desgastariam menos seu cérebro, acordariam mais dispostas, elogiariam mais o dia que desabrocha, criariam mais oportunidades para conquistar quem amam, para ter gestos únicos, reações inesperadas, atitudes deslumbrantes”.
TODOS PRECISAM DE AJUDA
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“Temos que olhar para as religiões e ver o que elas podem nos ensinar. Não com suas doutrinas, mas com as técnicas que utilizam para divulgar suas mensagens – muitas vezes com o uso das artes – e com o sentimento de comunidade que constroem”. Essa é a tese defendida pelo filósofo e escritor suíço Alain de Botton em seu novo livro, “Religião para ateus”, conforme escreve Vaguinaldo Marinheiro, de Londres, no artigo “Assembléia de ateus”, publicado na Folha de S.Paulo, Ilustrada, de 15/10/2011.
Segundo Vaguinaldo, Botton acredita que, primeiro, o ser humano precisa admitir que é fraco e necessita de ajuda. “O mundo liberal criou em nós a ideia de que somos autossuficientes. Não é verdade. Precisamos de ajuda, de aconselhamento. Mas, se alguém nos oferece orientação, repelimos. Dizemos que não precisamos de babás, que não venham nos dar ordens”, diz o escritor.
Sobre as universidades, Botton revela que ficaram técnicas demais e não ensinam as pessoas a viver. Para ele, poderíamos ter aulas de como nos relacionar com os outros, por exemplo.
O escritor disse ao jornalista que há mais sabedoria nos livros de [Marcel] Proust que no ‘Novo Testamento’. “É um comentário herético, mas é verdade”, comenta Botton. No entanto, ele reconhece a diferença de alcance e influência. “Que lê Proust hoje? Só uma ínfima minoria. Já o ‘Novo Testamento’ continua a vender milhões de cópias”.
AUTOAJUDA SOFISTICADA
“O circuito autoajuda está se sofisticando e, como tudo que se sofistica, fica de alguma forma ‘melhor’. Autoajuda sempre reúne algo da filosofia, ciência e religião, áreas essenciais”, observa o filósofo Luiz Felipe Pondé em sua crônica “Livro é caso típico da sofisticação do mercado de autoajuda”, publicada na Folha de S.Paulo, Ilustrada, de 15/10/2011, ao comentar sobre o novo livro de Alain de Botton.
Para esse filósofo, autoajuda funciona, caso contrário não venderia tanto. “Podemos perguntar por que funciona. A resposta é simples como uma soma de 2 + 2 = 4. Autoajuda funciona porque fala para as agonias e expectativas mais básicas do ser humano. Logo, ‘seu mercado’ é a própria condição insustentável do ser humano: nosso sofrimento e os modos de enfrentá-lo”.
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Tom Simões, www.tomsimoes.com, jornalista especializado em divulgação de ciência, Santos (SP), outubro 2011
Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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