Imagem: quadro de Jacques-Louis David, que representa a morte de Sócrates, www.artcyclopedia.com |
Lendo Karen Armstrong, “Em defesa de Deus”, delicio-me com a sabedoria de Sócrates, filósofo grego, um dos mais importantes ícones da filosofia ocidental. Isto, por conta de os ensinamentos desse grande Pensador enquadrarem-se perfeitamente na filosofia deste blog, que é alcançar um público cada vez maior que possa refletir sobre o imenso valor prático de conhecimentos, como os de Sócrates para o cotidiano.
Como orienta Robin Sharma, “O monge que vendeu sua Ferrari”, que li recentemente, “Ler meia hora por dia fará maravilhas para você. Mas não adianta ler qualquer bobagem. Você tem de ser seletivo sobre o que deixa entrar em sua mente. Tudo tem de ser extremamente nutritivo. Faça com que seja algo que vá melhorar você e a sua qualidade de vida”.
Meia hora de leitura por dia vai fazer uma diferença incrível na sua vida porque você rapidamente verá grandes reservas de conhecimento à sua disposição, lembra Sharma. Ele diz também que “todas as respostas para todas as perguntas que você tiver já foram publicadas. Todos os erros que for cometer na vida já foram feitos por quem veio antes de você”, revela.
A escritora Karen Armstrong, por exemplo, conta que os textos conceituais de filósofos como Platão ou Aristóteles serviam de ferramenta didática ou de guia para quem procurava viver de outro modo.
Para Sócrates, e para os que surgiram depois dele, o filósofo é, essencialmente, um “amante da sabedoria”. Anseia pela sabedoria, precisamente porque entende que não a tem.
“A julgar pelos diálogos de Platão, Sócrates buscava uma noção transcendente de virtude absoluta, que nunca poderia ser concebida ou expressa adequadamente, mas que era possível intuir através de disciplinas espirituais como a meditação. Sócrates era famoso por sua extraordinária capacidade de concentração”, escreve a autora.
A escritora revela que a missão de Sócrates consistia em despertar em seus interlocutores o autoconhecimento genuíno. Ele inventou a dialética, uma disciplina rigorosa, concebida para apontar convicções equivocadas e eduzir a verdade. Consequentemente, conversar com Sócrates podia ser perturbador.
Por mais que Sócrates e seus interlocutores raciocinassem, sempre lhes fugia alguma coisa, e o diálogo os levava a reconhecer a profundidade da própria ignorância, explica Karen. Para Sócrates, no entanto, essa ignorância não era uma desvantagem. Ou questionamos nossos preconceitos mais arraigados, ou levamos uma vida superficial. Como ele explicou ao tribunal que o condenou à morte, “o maior bem para o homem é falar todos os dias sobre a virtude e sobre as outras coisas a respeito das quais me ouvis conversar e investigar em mim e nos outros, pois a vida que não é examinada não vale a pena ser vivida”.
Sócrates era um chamado vivo ao supremo dever do autoexame rigoroso. Ele se definiu como um mosquito que estava sempre picando as pessoas para torná-las conscientes, obrigá-las a acordar para si mesmas, a questionar as próprias opiniões e a cuidar de seu progresso espiritual. O que importava não era a solução do problema, e sim o caminho percorrido na busca da solução. Filosofar não era impor o próprio ponto de vista ao interlocutor, mas lutar consigo mesmo, descreve a autora.
METANÓIA
Não se alcança o tipo de sabedoria proposto por Sócrates acumulando conhecimento, mas aprendendo a ser de outra maneira, ou seja, convertendo-se (metanóia), passando literalmente por uma “mudança”.
Para Karen, em nossa sociedade, a discussão racional geralmente é agressiva, pois, em vez de lutar consigo mesmo, cada participante se esforça ao máximo para invalidar o ponto de vista dos outros. No verdadeiro diálogo, os interlocutores devem responder de modo mais gentil e mais condizente com a discussão. Portanto, “vence” o diálogo socrático quem não tenta impingir seu ponto de vista ao adversário. Trata-se de um esforço conjunto.
Ela revela que Sócrates declarou que, como sua mãe, era parteiro e tinha por missão ajudar seu interlocutor a engendrar um novo eu. Como toda boa iniciação, o diálogo bem-sucedido levava ao “ekstasis”: aprendendo a se colocar na posição do outro, cada participante saía de si mesmo. Quem dialogava com Sócrates tinha de estar disposto a mudar.
“Para seus seguidores, Sócrates se tornara uma encarnação da divina beatitude, um símbolo da sabedoria para a qual toda a sua vida estava direcionada. Toda escola de filosofia grega o reverenciaria como um avatar de uma ideia transcendente que, embora fosse natural à humanidade, era quase inalcançável”, complementa a escritora.
OPRAH WINFREY
Aproveitando este enfoque, utilizo algumas referências de Shayne Lee, PhD em Sociologia, à apresentadora americana Oprah Winfrey, em seu artigo “Uma filósofa existencial”, publicado no Caderno2 de “O Estado de S. Paulo” de 29 de maio de 2011.
Oprah, a maior estrela da TV dos EUA, encerrou seu programa diário que ficou no ar por 25 anos na rede ABC. Ela foi considerada pela revista Forbes a terceira mulher mais influente do mundo. O programa de despedida teve 15 milhões de telespectadores.
Segundo o sociólogo Shayne Lee, Oprah Winfrey tem uma longa carreira perscrutando o mais fundo e o mais escuro da alma humana. “Seus convidados famosos, seu clube do livro, seu quadro de relacionamentos e os inúmeros temas especiais nos ajudaram a descobrir nossa ilimitada capacidade de crescer e mudar. Oprah nos ajuda a conquistar uma visão mais clara de nosso propósito e potencial”.
O sociólogo revela que ela nos ensina que o projeto humano, nossa jornada através do amor e medo, pode sempre ser corrigido, elevado, iluminado.
“Ela expõe com radiação florescente nossa fragilidade. Mas sempre retorna ao fato de que, não importa quão baixo desçamos ou de quanto nos desfaçamos, se abrirmos a mente para a descoberta, a recuperação e a regeneração estão sempre ao nosso alcance”, escreve Shayne.
Para finalizar, analisa o sociólogo: “o que Oprah tem em comum com os grandes existencialistas é uma busca indômita para responder a duas questões fundamentais: quem somos? O que podemos nos tornar? E ela nos mostrou mais possibilidades de respostas eficazes e otimistas para essas perguntas do que nossos heróis existenciais tradicionais”.
Certamente, boas leituras são exercícios mentais que contribuem para solucionar nossos problemas e ajudar os outros. “Podemos nos tornar um verdadeiro amigo do mundo”, diz a monja budista Kelsang Tumo, responsável pelo Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi de Santos (SP).
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Fiquei com vontade de ler esse livro, Em Defesa de Deus. Obrigado pelo texto, Tonzão!!! Abraços, querido.
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