Wilson Jacob Filho (**), wiljac@usp.br, "Necessidade de desafios" (*), caderno Equilíbrio, Folha de S.Paulo de 17 de julho de 2008
[...] "Fui com minha irmã a um asilo de idosos, desses que vivem da abnegação de uma ordem religiosa e das doações de pessoas generosas, seja na forma de bens, seja na de trabalho.
Em meio a esse cenário de múltiplas percepções, atentei para um dos moradores, com o lado esquerdo do corpo semiparalisado, varrendo folhas e gravetos na calçada.
Chamavam a atenção os detalhes daquela atividade, cuidadosamente realizada, apesar da grande limitação. Perguntei-me o que motivaria alguém, naquelas condições, a se dedicar a um trabalho que para muitos não teria importância.
Aquele homem, embora limitado, não se permitia passar sentado ou deitado o dia todo, apenas à espera de cuidados e alimentos. Tinha a necessidade de fazer algo que lhe justificasse a existência. Por não abdicar dos seus desafios, tornou sua vida ilimitada, a despeito da sua duração.
Prestei bem atenção na sua fisionomia enquanto retornava ao portão de entrada. Serena, expressava o incomparável prazer do fazer bem feito. Não emitiu nem ouviu qualquer comentário. Bastava-lhe a agradável sensação de estar vivo e ativo para poder testar constantemente os seus limites.
Quisera que todos pudessem sentir-se assim nas diferentes fases das suas vidas".
_________________
(*) Síntese do artigo
(**) Professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de "Atividade física e envelhecimento saudável" (ed. Atheneu)
[...] "Fui com minha irmã a um asilo de idosos, desses que vivem da abnegação de uma ordem religiosa e das doações de pessoas generosas, seja na forma de bens, seja na de trabalho.
Em meio a esse cenário de múltiplas percepções, atentei para um dos moradores, com o lado esquerdo do corpo semiparalisado, varrendo folhas e gravetos na calçada.
Chamavam a atenção os detalhes daquela atividade, cuidadosamente realizada, apesar da grande limitação. Perguntei-me o que motivaria alguém, naquelas condições, a se dedicar a um trabalho que para muitos não teria importância.
Aquele homem, embora limitado, não se permitia passar sentado ou deitado o dia todo, apenas à espera de cuidados e alimentos. Tinha a necessidade de fazer algo que lhe justificasse a existência. Por não abdicar dos seus desafios, tornou sua vida ilimitada, a despeito da sua duração.
Prestei bem atenção na sua fisionomia enquanto retornava ao portão de entrada. Serena, expressava o incomparável prazer do fazer bem feito. Não emitiu nem ouviu qualquer comentário. Bastava-lhe a agradável sensação de estar vivo e ativo para poder testar constantemente os seus limites.
Quisera que todos pudessem sentir-se assim nas diferentes fases das suas vidas".
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(*) Síntese do artigo
(**) Professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de "Atividade física e envelhecimento saudável" (ed. Atheneu)
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