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O Budismo ensina que a mudança da mente, com suas predisposições e barreiras, é passo essencial para o progresso espiritual. E que, como decorrência, é importante pensar no que é significativo, no que satisfaz, no que traz um “upgrade”, para si e para o mundo com que se compartilha, verbalizando apenas o que for absolutamente necessário e construtivo.
Refletindo sobre isto, lembro como certas pessoas gostam de falar tanto e sobre coisas tão insignificantes, desperdiçando seu tempo e energia. Geralmente são donas de mentes confusas, as quais não controlam. Elas fazem mal também a si próprias, quando o assunto enfoca a crítica desnecessária a alguém, a desconstrução da imagem do outro. Coisa muito comum e danosa, sobretudo em descontrolados tagarelas.
Mas como as pessoas poderiam se conscientizar disto e controlar seus pensamentos e conversas no sentido do que é produtivo? Ou então, como poderiam passar a exercitar o hábito do silêncio?
Quem é capaz de admitir que a crítica e o julgamento de alguém, não raramente, são para apaziguar eventuais autodesconfortos...
Ao condenar os outros, os próprios problemas parecem minimizados, quem sabe... Trata-se apenas de um efeito psicológico. As pessoas que vivem a criticar parecem querer demonstrar que não têm problema algum... Será?Pessoas tagarelas falam mais que demasiadamente. Na maioria das vezes falam erroneamente. É comum a conversa contínua tomar um rumo fútil e infantil, quando não agressivo. E quando os tagarelas desejam comentar algo mais sério, ninguém quer ouvi-los. Ninguém acredita. Eles não percebem que não apenas desperdiçam seu tempo, mas roubam o tempo dos outros, como se esse bem precioso fosse insignificante.
Pode-se imaginar o efeito da tagarelice como um campo onde se plantam sementes (palavras) que não germinam.
Há sempre tempo para a autorreflexão e mudança de comportamento. E as pessoas tagarelas de nosso convívio são um grande desafio. Aproximar-se delas carinhosamente e tentar fazê-las ver o que fazem é nosso dever. Pois, ainda que sem sucesso, o que vale é o bom propósito e a semente que se lança.
Porque é triste evitar encontrar alguém que gostamos, por ser tagarela. Porque outros também evitam e ainda criticam. E só a pessoa tagarela não percebe... Daí a coragem de uma pessoa bem intencionada e respeitada conscientizar alguém que fala demais sobre o hábito da moderação, da sensatez e do silêncio.
Mudar a mente
O Budismo fala do espaço azul da mente. Nossa mente é vazia como o céu. Pensamentos são como nuvens que cruzam esse céu, que vêm e vão... Às vezes, ela é tomada por uma tempestade de medo. Mas a chuva é passageira. E o céu volta a brilhar. São palavras do monge Odro, durante o Retiro de Carnaval no Centro de Meditação Kadampa Brasil, localizado em Cabreúva (SP), do qual participei.
“Se a gente começar a se concentrar na nossa mente propriamente dita e não nas emoções da mente, ela não será mais escrava da raiva, do medo, do apego, da inveja, do orgulho... A nossa mente é um estado de clareza. A meditação nos leva a essa percepção”, explica o monge.
É preciso experimentar estados mentais que possam deixar-nos mais felizes. Na definição budista, uma mente alegre deleita-se em virtudes, ou seja, em pensamentos que causam felicidade. Há o desejo de que os outros sejam felizes.
Com base na obra “Aprendendo a meditar”, de David Fontana, o artigo “O potencial da meditação” (http://intuicao.com) menciona: “A meditação não nos afasta do mundo, mas nos ajuda a nos tornarmos pessoas mais lúcidas e eficazes. Ela também nos capacita a nos tornarmos mais sensíveis e compassivos em relação ás pessoas. Desenvolve em nós o senso de unidade e interdependência de todas as coisas e uma ampla percepção do significado de ser humano. Com essa habilidade e percepção aumentadas, surge um sentimento intensificado de autopercepção e autoaceitação. Realmente, pela primeira vez, percebemos o mistério e a natureza preciosa da vida”.
Com o apego, vêm os medos, como o medo de perder uma pessoa, o que leva à angústia. E isso perturba a mente. É quando se começa a acusar os outros de nos estarem causando dor e sofrimento, diz o monge Odro.
Exigir ser amado não vai dar certo. Ninguém retribui esse amor. Quando se espera algo em troca, começam os problemas. Quem quiser ser feliz e deixar de sofrer tem de mudar a mente.
Para finalizar, busco inspiração na obra “Budismo moderno” (O caminho de compaixão e sabedoria) em que o mestre de meditação Geshe Kelsang Gyatso faz a seguinte reflexão: “O objetivo de entender a preciosidade da nossa vida é nos encorajar a extrair o verdadeiro significado da nossa vida humana, e não desperdiçá-la em atividades sem sentido. Muitas pessoas acreditam que o desenvolvimento material é o verdadeiro sentida da vida humana, mas podemos constatar que, por maior que seja, o desenvolvimento material deste mundo nunca reduz o sofrimento e os problemas humanos. Em vez disso, frequentemente leva a um aumento de sofrimentos e problemas”.
Portanto, é preciso refletir sobre essa tal inconsequente facilidade de eleger alguém para criticar desnecessariamente. É preciso pensar em termos de que, se a gente não pode servir como instrumento de construção do bem do próximo, não nos deixemos levar por lamentáveis tagarelices... Melhor começar a prática do silêncio!
Ah! Se as pessoas soubessem o que mudanças neste sentido propiciam a si próprias. Só quem pratica a constante mudança positiva de comportamento é capaz de dizer. Portanto, não há o que duvidar, mas sim experimentar.
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Revisão do texto: Roberto da Graça Lopes e Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Então, o foco da tagarelice não está na língua. Está numa mente em desordem confusa e irrequieta. Isto se deve a todo e qualquer ambiente estressante da cidade grande.
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