quinta-feira, 14 de abril de 2011

MEDITAÇÃO: PRÁTICA MILENAR. ENFIM, RECONHECIDA CIENTIFICAMENTE...

Imagem: Centro Budista Deuachen
Meditação depende unicamente da vontade. Muitas pessoas ainda acreditam ser difícil o exercício da meditação.  “Eu não consigo. É muito difícil. Eu logo me distraio”, dizem. Cada qual reage afirmando não conseguir controlar o excesso de distrações com a mente. Como se fosse fácil para outras pessoas aprender a focar a mente com um propósito definido. No início, é sempre mais difícil. Mas há que se manter o desejo da superação contínua.

Por experiência própria, posso afirmar que o processo é lento, mas pode evoluir rapidamente de acordo com a dedicação de cada praticante. E, é claro, afirmar também, como praticante há um ano e três meses, que alguns benefícios da meditação são logo refletidos no corpo, como, por exemplo, a melhoria da qualidade do sono e o despertar da consciência para acreditar na nossa capacidade de controlar tantas preocupações inúteis. 

Com a meditação, podemos experimentar o que é prejudicial ou produtivo para a nossa mente e, consequentemente, para a estrutura física do corpo. Preguiça, acomodação e descrença podem originar doenças ao longo do tempo.

 

PRÁTICA

Há várias técnicas. Uma delas é muito simples: em um local calmo, sente-se em uma cadeira com as costas retas e os pés apoiados totalmente no chão. Incline levemente a cabeça para baixo. Na altura do umbigo, apoie as mãos, a direita sobre a esquerda, deixando os polegares se tocarem levemente: o direito sobre o esquerdo. A atenção se volta para a respiração e a percepção do corpo nesse momento.

Inicialmente concentre-se suavemente na respiração. É claro que a mente é dispersa, teimosa. A gente se distrai facilmente. Mas não desanime. Sempre que perceber a distração, retorne à concentração. A atenção deve se voltar para a respiração e a percepção do corpo nesse momento. 

Não há regra quanto ao tempo que deve ser dedicado à meditação. Em geral, recomendam-se no mínimo 20 minutos. Mas qualquer tempo é precioso para o iniciante, ainda que apenas cinco minutos diários. A gente vai se acostumando aos poucos. Tudo depende da constância da prática e do desejo de progredir paulatinamente. 

“O método busca diminuir a quantidade de pensamentos que passam pela mente a cada minuto ou fazer com que o praticante não se apegue a nenhum deles – apenas os deixe passar. O objetivo é acalmar a mente e ajudar o indivíduo a focar sua atenção no presente”, descreve o artigo “O poder da meditação” (revista “ISTO É”, 24 de fevereiro de 2010), de autoria de Cilene Pereira e Maíra Magro.

As autoras falam sobre a história da meditação. “É uma prática milenar. Alguns especialistas apontam que o homem pré-histórico atingia estados meditativos ao fixar o olhar no fogo. Os relatos mais antigos e bem documentados vêm da civilização védica, que viveu há cerca de cinco mil anos antes de Cristo, na região onde fica a Índia. Gurus, ou mestres espirituais, a praticavam e a ensinavam com o objetivo de ajudar o indivíduo a atingir o autoconhecimento. Com as mudanças culturais provocadas pela invasão de outros povos, o método ganhou formas diversas de aplicação”.

Cilene e Maíra contam que a meditação chegou ao Ocidente como mais um item de atrações exóticas do Oriente. Hoje, está se transformando em um dos mais respeitados recursos terapêuticos usados pela medicina que conhecemos. “A meditação tem como objetivo limpar a mente dos milhares de pensamentos desnecessários que por ela passam a cada minuto, ajudando o indivíduo a se concentrar no momento presente. É por essa razão que um de seus benefícios é o de ajudar as pessoas a lidar com sentimentos como a ansiedade. Mas o que se tem visto, de acordo com as numerosas pesquisas científicas a respeito da técnica, é que a meditação se firma cada vez mais como uma espécie de remédio – acessível e sem efeitos colaterais – indicado para um leque já amplo de enfermidades: da depressão ao controle da dor, da artrite reumatoide aos efeitos colaterais do câncer”.

RECONHECIMENTO CIENTÍFICO

“O movimento que se observa atualmente com a meditação é o mesmo experimentado pela acupuntura cerca de dez anos atrás. Da mesma forma que o método das agulhas, ela conquista o respeito da medicina tradicional porque tem passado nas provas de eficácia realizadas de acordo com a ciência ocidental. Isso quer dizer que, aos olhos dos pesquisadores, foi despida de qualquer caráter esotérico, mostrando-se, ao contrário, um recurso possível a todos – ninguém precisa ser guru indiano para praticá-lo – e de fato capaz de promover no organismo mudanças fisiológicas importantes”.

Segundo Cilene e Maíra, a profusão de pesquisas que apontam algumas dessas alterações é grande. Os resultados mais impressionantes vêm dos estudos que se propõem a investigar seus efeitos no cérebro. “Um exemplo é o trabalho realizado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica “NeuroImage”. Após compararem o cérebro de 22 meditadores com o de 22 pessoas que nunca meditaram, eles descobriram que os praticantes possuem algumas estruturas cerebrais maiores do que os não praticantes.

“Sabemos que pessoas que meditam têm uma habilidade singular para cultivar emoções positivas”
, disse à ISTO É Eileen Luders, do Laboratório de Neuroimagem da universidade.

Na Universidade George Washington, nos EUA, a técnica provou-se uma aliada no tratamento de crianças com transtorno de hiperatividade e déficit de atenção, citam as jornalistas. “Houve redução de 50% dos sintomas após três meses de prática, disse à revista Sarina Grosswald, coordenadora da pesquisa. “Há evidências de benefícios na luta contra transtornos alimentares como bulimia e dependência de drogas. [...] O segredo que possibilita efeitos dessa magnitude nestes tipos de patologias é o fato de a meditação ensinar o indivíduo a viver o presente, sem antecipar medos e sofrimentos. E como o ato de pensar é ‘desligado’, a mente transcende seu estado ocupado e experimenta um profundo silêncio”, explica Sarina. O corpo, por sua vez, fica totalmente relaxado, e é este o mecanismo que também explica parte do seu poder contra a dor, complementam Cilene e Maíra.

CONTROLE DO ESTRESSE

Elas relatam ainda que permeando todo o processo está a redução do estresse proporcionada pelo método – e os benefícios advindos disso. “O controle da tensão implica mudanças importantes na química cerebral, entre elas a diminuição da produção do cortisol. Liberado em situações de estresse, o hormônio tem consequências danosas. Uma delas é a elevação da pressão arterial. Portanto, quanto menor sua concentração, mais baixas são as chances de hipertensão. E como a meditação diminui o estresse, acaba reduzindo, indiretamente, a pressão. Este mecanismo explica por que a técnica contribui para a prevenção de doenças cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral, causadas, entre outras coisas, por uma pressão arterial acima dos níveis recomendados”.

Um estudo recente realizado na Universidade de Wisconsin, nos EUA, deu uma ideia desse potencial. “Durante nove anos, os cientistas acompanharam 201 homens e mulheres com média de 59 anos de idade. Parte foi orientada a meditar todos os dias e o restante recebeu recomendação para mudar hábitos. Os meditadores tiveram 47% menos chance de morrer de um problema cardiovascular em comparação com os outros. Com base nesses resultados, o coordenador da pesquisa, Robert Schneider, considera que a descoberta equivale ao encontro de uma nova classe de ‘remédios’ para evitar essas enfermidades. Nesse caso, a medicação é derivada dos próprios mecanismos de cura do corpo e de sua farmácia interna”, mostra ISTO É.

Uma das mais intrigantes abordagens de pesquisa, segundo ainda a revista, é a que estuda a relação entre o método e o envelhecimento precoce. Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, começaram a fazer essa associação a partir da certeza do vínculo entre o estresse – ele de novo – e a ocorrência de uma deterioração celular acentuada. “Há indicações que uma das razões seria a ação da meditação na redução de processos inflamatórios, sabidamente associados ao envelhecimento precoce das células”.

As jornalistas citam que no Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo o médico Fernando Bignardi é outro pesquisador que também acompanha os reflexos em indivíduos na terceira idade. “O que notamos de mais imediato é uma mudança na condição emocional”, relata. “Depois há uma melhora na qualidade do sono, nas condições metabólicas e, finalmente, alterações clínicas que levam à melhora de doenças como hipertensão e diabetes”.

HORA DE SE CONSCIENTIZAR

Para finalizar, Cilene e Maíra apresentam outros benefícios do método. Ele se mostrou eficaz no tratamento da depressão a longo prazo, ajudando a evitar recaídas e melhorando a qualidade de vida.

“Seu uso regular combate a insônia. A memória visual se refina. Há monges praticantes, por exemplo, capazes de guardar imagens complexas por minutos e, às vezes, horas, com todos os detalhes”.

Está provado que a meditação atenua significativamente os efeitos colaterais da quimioterapia, como as náuseas. E também reduz a dor provocada pela doença.

Consta do artigo que o ator paulista Maurício Souza Lima, 43 anos, sofreu episódios frequentes de síndrome do pânico por mais de cinco anos. Chegou a tomar antidepressivos e tranquilizantes, mas não conseguia se livrar do distúrbio. Depois que a taquicardia e os tremores o atingiram em pleno palco, durante uma apresentação, ele buscou apoio na meditação transcendental. E nunca mais teve uma crise.

Já a atriz Cláudia Ohana, 46, de acordo com o artigo, aderiu ao método há dez anos. “Foi uma das formas que escolheu para diminuir a ansiedade, que lhe provocava irritação e dor de estômago. Depois de uma semana de prática, ela diz que fica mais tranquila e paciente. A técnica diminui o estresse causado pelo excesso de trabalho e pela vida na cidade grande”. Cláudia revela: “É praticamente uma pílula de felicidade”.

E então, as jornalistas da ISTO É complementam a sua atraente e produtiva mensagem para quem se dispõe a sair de suas zonas de conforto e fazer a diferença: “Pessoas que meditam há muito tempo apresentam maior volume de massa cinzenta no córtex orbitofrontal, associado ao raciocínio. Também possuem hipocampo e tálamo, vinculados ao processamento das emoções, maiores. Os achados explicam por que, em geral, os praticantes alcançam níveis mais altos de concentração e lidam melhor com os sentimentos”. 


Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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