sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

AMOR RESPONSÁVEL

Buscando inspiração para escrever, encontrei, na série de páginas de jornais que seleciono nas leituras diárias, algo do psicanalista Contardo Calligaris (Folha de S.Paulo, 23/9/2010), “Felicidade nas telas”: “Que tal se a infelicidade não tivesse nada a ver com a ansiedade das buscas frustradas, mas fosse uma espécie de preguiça do desejo, mais parecida com o tédio de viver do que com a falta de gratificação? Em suma, você é infeliz porque ainda não conseguiu tudo o que você queria, ou porque parou de querer, e isso torna a vida muito chata?” 

Benjamin Franklin escreveu: “Nossa perspectiva limitada, nossas esperanças e medos tornam-se nossa medida para a vida, e quando as circunstâncias não se encaixam em nossas ideias, tornam-se nossas dificuldades”.

Conversando recentemente com um colega de trabalho, de aproximadamente 50 anos, ele falava de sua atual mulher, bem mais jovem. Falava do ciúme dela, de sua intranquilidade, de suas carências... A jovem não tem ocupação fora, vive para o lar. O colega, divorciado, tem dois filhos jovens. Ele é uma pessoa calma, educada. Mas sinto que, às vezes, apesar de gostar muito da esposa, sente-se sufocado, sem liberdade.

Até quando o amor resiste a esse tipo de troca compromissada, que pouco ou nada acrescenta no amadurecimento racional de cada parceiro? Estariam hoje as mulheres, na condição de profissionais independentes, mais aptas a experimentar relações amorosas mais verdadeiras, sem submissão insensata a paixões desenfreadas? E os homens, estariam hoje mais propensos a mudar o seu conceito de amor?

Em seu artigo “O amor não é cego” (Folha de S.Paulo, caderno Equilíbrio, 21/9/2010), Gabriela Cupani entrevista o psicólogo e escritor argentino Jorge Bucay, revelando que não há receita pronta para um relacionamento dar certo, mas alguns ingredientes podem ajudar.

“Gosto de uma definição que diz que o amor é a simples alegria pela existência do outro. Não é possessão, nem felicidade necessariamente. E por isso ‘com os olhos abertos’. O amor cego não aceita o outro verdadeiramente como ele é”, diz o escritor.

Segundo Bucay, é maravilhoso estar apaixonado e muitos preferem a intensidade superficial à profundidade eterna. “Mas me pergunto como as pessoas pensam em ficar somente nisso. Qual o sentido de estar apaixonado perdidamente o tempo todo. Penso que é uma questão de maturidade. [...] A paixão é como uma droga: no seu momento fugaz faz pensar que você é feliz e não precisa de mais nada. Um olhar, uma palavra, te levam aos melhores lugares”.

Amar de olhos abertos

É o título da obra de Jorge Bucay que trata do amor responsável.  Para o escritor, seria bom estar preparado para saber que a paixão acaba. “Amadurecer significa também desfrutar das coisas que o amor dá, como compartilhar o silêncio e não um beijo, saber que a pessoa está ali, ainda que não esteja ao meu lado. É preciso abrir os olhos, e isso é uma decisão. Ver o par na sua essência”, declara Bucay à jornalista Gabriela Cupani.

E então vem o psicanalista e diz algo assim: “Mas primeiro é preciso estar bem consigo mesmo. Não se deve procurar o sentido da própria vida no companheiro ou nos filhos”, o que é verdadeiro.

Para o escritor, deve-se responder a três perguntas básicas nesta ordem, segundo relata Gabriela: quem sou, aonde vou e com quem. “É preciso que eu me conheça antes de te conhecer e que decida meu caminho antes de compartilhá-lo. Senão, é o outro quem vai dizer quem eu sou. E isso é uma carga muito grande”. E tem algo importante que ele complementa: “As relações duram o que têm que durar, sejam semanas, seja uma vida. Duram enquanto permitem que ambos cresçam”.

“O amor talvez seja isso. Encontro de partes que se complementam, porque se respeitam. E, no ato de se respeitarem, ampliam o mundo um do outro. O recém-chegado não tem o direito de reduzir o mundo de quem se deixou encontrar. O amor não diminui, mas multiplica”, escreve Fábio de Melo na obra “Quem me roubou de mim?”

“E, quando o amor acaba, nada é mais triste do que não poder seguir compartilhando a própria alma”, enuncia Roberto Rodrigues em sua crônica “A maior doação” (Folha de S.Paulo, 17/01/2009).
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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

Um comentário:

  1. Uma honra ser parte do blog, principalmente num texto tão rico.
    Abração

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