Jornalistas têm habilidade especial para captar o cotidiano e transformá-lo em palavras. Que bom para o mundo quando mais e mais desses profissionais puderem ter acesso à mídia para falar de coisas simples, coisas que ampliem o número de leitores a despertar para o essencial da Vida e a refletir sobre isto.
Cronistas, por exemplo, têm esse privilégio, essa liberdade, essa oportunidade de proporcionar reflexão e, quem sabe, transformação de vidas, através da narração apaixonada de suas histórias. Isto certamente traz uma grande responsabilidade a eles, pois as suas palavras, para alguns leitores confiantes, podem ser entendidas até como normas. Falei sobre isto no prefácio do livro "Três Meses no Japão", de autoria da amiga e escritora Madô Martins.
Também sou apaixonado pela escrita. Quer ver-me feliz? Deixe-me projetar textos, construir histórias e narrar o cotidiano. Mas bom mesmo é quando o jornalista é livre para escrever, como cronista, por exemplo, sem o compromisso do correr contra o tempo para dar conta das pautas de que é encarregado no dia-a-dia. Melhor ainda é quando jornalistas descobrem que seus textos, alguns deles pelo menos, provocam reflexões e mudanças positivas de mentalidade em leitores. Assim, eles se sentem um pouco escritores, um pouco missionários, felizes em participar da construção de um mundo melhor.
A efemeridade da notícia
Conta Rubem Alves ("Valha-me santo Expedito", Folha de S.Paulo, Cotidiano, 5/8/2008): "Um jornalista meu amigo disse-me que, se eu quiser fazer sucesso como cronista, tenho de escrever sobre as notícias dos jornais porque são elas que, logo pela manhã, ocupam o imaginário dos leitores, ávidos por novidades. Tem de ser notícia nova. Notícia velha, da semana anterior, já era. O tempo dos jornais é o ‘hoje’. Notícia da semana anterior já está no lixo."
Rubem aborda Ângelus Silesius (1624-1667), místico e poeta, que sugeriu que vivemos em dois tempos diferentes. Ele escreveu: "Nós temos dois olhos. Com um olho vemos o que se move no tempo e desaparece. Com o outro, vemos o que é eterno e permanece". Para Rubem, olho de devorador de jornal é o primeiro que vê as coisas efêmeras, que logo estarão esquecidas. O outro é o olho que vê as coisas que não envelhecem e ficam sempre jovens. Quem vê com o segundo olho são os poetas. Livro de poemas não fica velho...
O cronista da Folha arremata: "Os gregos tinham consciência desses dois tempos e usavam palavras distintas para cada um deles. Chronos era o tempo medido pelas batidas do relógio e marcado pela rotação dos astros. Kairós era o tempo medido pelas batidas do coração e marcado pela pulsação da vida."
Segundo a Wikipédia (A Enciclopédia Livre), "Kairós é uma antiga palavra grega que significa ‘o momento certo’ ou ‘oportuno’. Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairós. Enquanto o primeiro se refere ao tempo cronológico, ou seqüencial, esse último é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece; é usado também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, o "tempo de Deus", enquanto chronos é de natureza quantitativa, o "tempo dos homens". O termo kairós, que descreve "o tempo de Deus", não pode ser medido e sim vivido..."
Eu identifico-me mais com kairós, que não perde a atualidade; que se mantém disponível à releitura e à renovação.
Estética da recepção
Alguém já ouviu falar do termo "estética da recepção"? Trata-se de um termo traduzido do alemão e designa os trabalhos voltados ao estudo da recepção do leitor aos textos quando os lê, comenta Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (revista Discutindo Filosofia, ano 3, nº 13). Para o autor, hoje se estuda desde qual a recepção dos leitores de um determinado jornal às suas resenhas até a preferência pelos textos de Paulo Coelho entre os leitores de uma biblioteca.
Aliás, cita Lúcio Emílio, como observou no estudo "O Leitor na Obra de Machado de Assis" o professor João Ferreira, Machado de Assis parece ter percebido, com muita antecipação, já no século 19, que o texto literário só se efetiva de verdade quando é recriado e concretizado, ao vivo, pelo ato da leitura.
Carlos Ruiz Zafón, na obra "A Sombra do Vento", por exemplo, descreve muito bem o tempo do livro: "Cada livro, cada volume que você vê tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece".
Textos jornalísticos instrutivos
O blog http://tomsimoes.criarumblog.com traduz a leitura que um jornalista se dispõe a fazer da imprensa, principalmente, absorvendo apenas informações relacionadas a processos de conscientização construtiva (formação de bons hábitos e mudanças positivas de comportamento). Tarefa nada fácil, em razão da escassez de temáticas jornalísticas ligadas à "formação" integral do leitor. Jornais exploram o sensacionalismo em demasia e isto pode mudar, quando esses veículos ampliarem seus espaços para abrigar um volume adequado de informações que contribuam efetivamente para mudar a mentalidade de leitores no aspecto positivo.
Fiquei feliz, outro dia, quando o amigo Roberto da Graça Lopes me disse: "O segredo está em ampliar o lado Luz nos pensamentos, nas conversas, na internet, na vida. Você está fazendo a sua parte, agregando valor ao mundo".
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