terça-feira, 10 de março de 2009

Sufismo (Não deixe de ler!)

Acabo de ler “O Deus de cada um”, de Waldemar Falcão - escritor, músico e astrólogo. A obra aborda nove relatos distintos sob um mesmo foco: a religiosidade. Os rituais, os preceitos e as crenças podem ser diferentes: Catolicismo, Zen-Budismo, Neo-Pentecostalismo, Umbanda, Islamismo, Hinduísmo, Judaísmo, Santo-Daime e Paranormalidade. Porém, a aproximação com o divino é a mesma. Em “O Deus de cada um”, Falcão revela como a busca e o achado de uma crença transformou para sempre a vida de algumas pessoas.

Há algo que eu gostaria de deixar registrado para os leitores deste blog, http://tomsimoes.criarumblog.com  Sou uma pessoa muito religiosa e respeito todas as religiões. Para mim, o que importa, na verdade, é a capacidade de a religião fazer de seus fiéis pessoas melhores: mais afetivas, mais tolerantes, menos egoístas, mais altruístas, menos individualistas, menos desconfiadas, enfim, mais felizes com os seus propósitos e os resultados de suas ações pessoais.


Em “Uma ética para o novo milênio”,

Dalai-Lama revela: “Meus encontros com inúmeros tipos de pessoas pelo mundo afora ajudaram-me a perceber que há outras crenças e outras culturas que, tanto quanto as minhas, podem fazer com que os indivíduos levem vidas construtivas e satisfatórias. E mais: cheguei à conclusão de que não importa muito se você tem ou não uma crença religiosa. Muito mais importante é que seja uma boa pessoa”.
 Dalai-Lama diz também que “Se considerarmos as religiões mais difundidas do mundo sob uma perspectiva mais ampla, descobriremos que todas elas – budismo, cristianismo, hinduísmo, islamismo, judaísmo, siquismo, zoroastrismo e outras – visam ajudar o homem a alcançar a felicidade. E todas, na minha opinião, são capazes de proporcionar tal coisa. Nessas circunstâncias, é ao mesmo tempo desejável e útil que haja uma grande variedade de religiões promovendo os mesmos valores básicos”. 

Há em mim, Tom Simões, um grande desafio com a prática religiosa: acolher principalmente pessoas com as quais convivo, mas não tenho afinidade. Pessoas individualistas, por exemplo, com comportamentos arraigados que, sem que percebam, não escondem a sua insegurança, os seus medos, a sua solidão. Refiro-me a pessoas que se mostram externamente muito agradáveis para esconder o seu vazio interior. Frequentemente, elas não permitem uma abertura de seu interior, ainda que provocada por um grande amigo. Propor psicanálise a elas, nem pensar! Ainda não entendem que a psicanálise é um eficiente instrumento para desenvolver o autoconhecimento e a mudança pessoal, além de ser indicada a qualquer tipo de pessoa, indistintamente. Lamento que pessoas egocêntricas, que podem investir em um tratamento psicológico, não admitam tal possibilidade.


Isto me remete à Monja Coen, que professa o zen-budismo e revela, inspirada em uma mestra: “Não seja rígida como o gelo, seja macia como a água; o gelo não cabe nos lugares, bate, machuca”. 


Para a monja, segundo Waldemar Falcão, a convivência num mosteiro é semelhante à colocação de pedras numa jarra. O trabalho das dirigentes é o de fechar e sacudir essa jarra; é claro que as pedras vão se chocar umas com as outras e produzir dores, traumas e ferimentos, mas aos poucos todas irão tomar a forma arredondada, e quando isso acontecer, ninguém mais machucará ninguém.


Foram necessários oito anos para a monja Coen começar a se “arredondar” e se “amaciar”, diz o autor. Sua tendência era sempre achar que estava sendo flexível, mas as outras não; ela é que estava progredindo, mas as outras não; ela é que estava certa, e as outras, erradas. Não conseguia ter a visão do todo e, por incrível que pareça, também não conseguia desenvolver em si mesma a sensibilidade feminina para ter esse olhar mais condescendente.


Só depois de oito anos é que a monja Coen começou a compreender a grandeza de visão daquelas mulheres risonhas e compassivas. Estava finalmente se amaciando e se arredondando. Começou a perceber que o que as tornava ainda mais especiais era o fato de que muitas delas vinham de passados difíceis, sofridos e marcados pela discriminação. Nem todas tinham optado pela vida monástica por causa de um “chamado espiritual”. Era um último recurso para escapar de uma sociedade que as hostilizava pelas mais diversas razões, escreve Waldemar Falcão.



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Como exemplo da obra “O Deus de cada um”, selecionei também o relato de Antonio Roberto Barros, ou o sheik Muhammad Ragip - conforme ele se apresenta nos eventos religiosos e espirituais de que participa. Barros é de uma família católica de classe média da periferia de São Paulo. Sua participação nos movimentos de assistência social da igreja que frequentava sempre foi plena, conta Waldemar Falcão.


Viagem ao Oriente


O sufismo é o movimento místico que busca a experiência do encontro com Deus. Antonio Barros ressalta que a força do sufismo na Turquia (um dos locais onde é praticado com mais intensidade em todo o mundo) é de fato real, mas observa que, na verdade, onde houver Islã existe sufismo, e onde houver sufismo existe o Islã:


“... tudo na vida possui um aspecto interno e um externo. Na própria ciência nós encontramos essa dualidade; quando olhamos para um objeto físico, achamos que ali está a manifestação de uma matéria sólida e contínua, mas a física e a mecânica quânticas já nos mostram que existe uma realidade por trás dessa aparente solidez, que nós não conseguimos perceber com nossos sentidos físicos. 


O sufismo é a disciplina dentro do Islã que explora, investiga, mergulha nesse mundo oculto, nesse mundo interior. Ele visa desenvolver no indivíduo a possibilidade de, ao praticar um ato externo, poder utilizar isso como um instrumento de busca de seu próprio caminho interior. E desenvolver esse mundo interior é uma tarefa fascinante, que lhe permite ter acesso a regiões desse mundo de beleza indescritível e infinita”.


Antonio Barros reconhece que essa busca não é a mesma para todos os indivíduos, e que cada ser humano tem um caminho específico para seu encontro consigo mesmo. Ele acredita que algumas pessoas nascem com as condições adequadas para empreender esse mergulho, e outras não. A primeira evidência disso no islamismo surgiu nos tempos em que o profeta Maomé ainda estava entre nós.


“... Depois de alguns anos de perseguições em Meca, o profeta organizou uma comunidade em Medina, em que havia pessoas de todas as origens e profissões, entre comerciantes, artesãos e todos os outros ramos da atividade humana daquela época. Havia um grupo menor de indivíduos que literalmente dormiam na porta da casa dele, para acompanhá-lo em todas as suas atividades. Foram essas pessoas que registraram as tradições do profeta, chamadas “hadiths”. 


O Alcorão representa a palavra de Deus, revelada ao profeta Maomé pelo próprio anjo Gabriel. Os “hadiths” constituem a segunda fonte mais importante do islamismo e neles estão registrados as palavras, os silêncios e os atos do profeta Maomé por parte desse grupo de seguidores.


Waldemar Falcão comenta que, na maioria das pessoas, a Mente Superior geralmente está adormecida, e se mantém assim em virtude da preponderância do ego na consciência do dia-a-dia.


“O objetivo final do sufismo é justamente provocar o desabrochar da Mente Superior, para que esses estados mais sutis de percepção se tornem parte da vida diária e funcionem de forma cada vez mais clara e aprimorada. Dessa maneira, vai ficando mais e mais fácil se distinguirem as informações de origem espiritual de nossas percepções ilusórias de todos os dias”. 


No islamismo e no sufismo está muito arraigado o conceito de que a religião não deve ser vivida apenas nos templos e igrejas, mas também na vida cotidiana, diz o autor.


Importância da obra


Conforme consta na introdução do livro, as histórias reunidas em “O Deus de cada um” apresentam, cada uma a seu modo, a variedade e a riqueza peculiar de nove religiões. São relatos transparentes e despojados, que acabam por transmitir um pouco do fundamento de cada uma das tradições retratadas e se tornam um testemunho vivo e atual da diversidade de religiões e do espírito de diálogo que deveria nortear todas as crenças.


“São histórias verdadeiras e comoventes sobre encontros. Encontros não apenas com Deus, mas com a essência que existe em cada um de nós e em cada crença. Para alcançar essas descobertas, o caminho não foi fácil. Muitos passaram por privações, sofrimentos, tentações, angústias e medos. Entretanto, os percalços da viagem valeram a pena: todos, sem exceção, relatam um estado de plena realização espiritual”.


Fernando Ribeiro, praticante do “Santo Daime”, diz: “O sentido original da palavra ‘religião’, de se procurar religar o humano com o divino, o terreno com o espiritual, tem tudo a ver, mas não concordo com o peso que a cultura ocidental colocou nesse termo e que transformou tudo num amontoado de regras estabelecendo o que a pessoa pode ou não pode fazer”.


Não deixe de ler essa obra com as histórias de nove seres humanos buscando a evolução contínua, pessoal e espiritual.


A título de complementação, leia também em meu blog o artigo “Igreja perde oportunidade de transformar indivíduos na essência” (julho 2008).


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(*) Revisado por Márcia Navarro Cipólli

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