É legal quando a gente lê sobre personagens importantes e se identifica com algumas de suas características pessoais. O fotógrafo Henri Cartier-Bresson, que morreu no dia 3 de agosto de 2004, aos 95 anos, é abordado no artigo “Exercícios de Memória”, redigido por Michel Guerrin (do “Monde”) e publicado na Folha de S.Paulo de 8 de agosto de 2004. Michel teve vários encontros com Henri Bresson, às vezes para uma entrevista ao “Monde” e várias vezes pelo simples prazer de conversar com ele.
Em algumas dessas conversas, dizia Bresson: “Alguns dias atrás, eu estava no TGV (o trem de alta velocidade). À minha frente, uma mulher lia uma revista de psicologia. Eu disse a ela que, no meu tempo, as pessoas se falavam nos trens e aprendiam psicologia dessa maneira. Ela riu. Concordou comigo. Ter tempo, tomar tempo para fazer as coisas, foi o único luxo de minha vida. As pessoas apressadas são infelizes”.
Em outra conversa, o espirituoso fotógrafo comentava: “Tenho horror da segregação entre jovens e velhos. Perguntei à loja da prefeitura até quando era válido um cano que eu tinha acabado de comprar. ‘Até 1995’. Respondi que tenho 82 anos e que o cano ainda vai durar muito tempo. Um negro alto me olhou fixamente: ‘82 anos!’ Eu o olhei e lhe disse que, quando tinha 21 anos, quase morri em seu país por causa de uma febre. Como ele ficou surpreso, acrescentei: ‘Você deve ser da Costa do Marfim’. Ele respondeu: ‘Sim. Venha me contar a história num café. Para nós, os velhos são a memória’. Eu lhe falei da África que conheci, falei de Céline, palavra por palavra. Espero comunicar uma alegria e uma esperança de viver.”
“Falar de mim não interessa a ninguém. O que vale é a atitude, aliada a uma certa cultura. Eu leio muito, é uma maneira de viver”, dizia Henri Cartier-Bresson.
Textos como esses merecem ser republicados, e nunca ser esquecidos. Eles têm o caráter da atualidade, não envelhecem! Ao ler diariamente o jornal, por exemplo, busco sempre textos que eu possa reutilizá-los em minhas histórias, como esta feliz reflexão de Michel Guerrin. Isto me faz lembrar o professor João Ferreira (*), no estudo “O Leitor na Obra de Machado de Assis”, que observou que Machado de Assis parece ter percebido, com muita antecipação, já no século 19, que o texto literário só se efetiva de verdade quando é recriado e concretizado, ao vivo, pelo ato de leitura.
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(*) citado por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, no artigo “Estética da Recepção”, revista “Discutindo Filosofia”, ano 3, nº 13, 2008
Em algumas dessas conversas, dizia Bresson: “Alguns dias atrás, eu estava no TGV (o trem de alta velocidade). À minha frente, uma mulher lia uma revista de psicologia. Eu disse a ela que, no meu tempo, as pessoas se falavam nos trens e aprendiam psicologia dessa maneira. Ela riu. Concordou comigo. Ter tempo, tomar tempo para fazer as coisas, foi o único luxo de minha vida. As pessoas apressadas são infelizes”.
Em outra conversa, o espirituoso fotógrafo comentava: “Tenho horror da segregação entre jovens e velhos. Perguntei à loja da prefeitura até quando era válido um cano que eu tinha acabado de comprar. ‘Até 1995’. Respondi que tenho 82 anos e que o cano ainda vai durar muito tempo. Um negro alto me olhou fixamente: ‘82 anos!’ Eu o olhei e lhe disse que, quando tinha 21 anos, quase morri em seu país por causa de uma febre. Como ele ficou surpreso, acrescentei: ‘Você deve ser da Costa do Marfim’. Ele respondeu: ‘Sim. Venha me contar a história num café. Para nós, os velhos são a memória’. Eu lhe falei da África que conheci, falei de Céline, palavra por palavra. Espero comunicar uma alegria e uma esperança de viver.”
“Falar de mim não interessa a ninguém. O que vale é a atitude, aliada a uma certa cultura. Eu leio muito, é uma maneira de viver”, dizia Henri Cartier-Bresson.
Textos como esses merecem ser republicados, e nunca ser esquecidos. Eles têm o caráter da atualidade, não envelhecem! Ao ler diariamente o jornal, por exemplo, busco sempre textos que eu possa reutilizá-los em minhas histórias, como esta feliz reflexão de Michel Guerrin. Isto me faz lembrar o professor João Ferreira (*), no estudo “O Leitor na Obra de Machado de Assis”, que observou que Machado de Assis parece ter percebido, com muita antecipação, já no século 19, que o texto literário só se efetiva de verdade quando é recriado e concretizado, ao vivo, pelo ato de leitura.
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(*) citado por Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, no artigo “Estética da Recepção”, revista “Discutindo Filosofia”, ano 3, nº 13, 2008
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