quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Pequim 2008

Síntese do caderno especial (Pequim) da Folha de S.Paulo, de 9 de agosto, e de outros artigos
Emocionei-me bastante durante o espetáculo monumental da abertura oficial dos Jogos, ao imaginar o que seria um verdadeiro "paraíso terrestre". Mas que grande contraste entre a suntuosa e ilusória imagem projetada da China e o regime político opressivo daquela nação!



Segundo enviados especiais da Folha, "O Ninho de Pássaro" - estádio majestoso encravado no Parque Olímpico da capital chinesa - transformou-se no palco da mais espetacular abertura de uma Olimpíada, que começou com uma ode às invenções da China antiga... houve espaço até para astronauta, um dos últimos orgulhos do país.

O diretor do espetáculo, o cineasta Zhang Yimou, 56, usou luzes, LEDs e telões de altíssima definição para ilustrar os selecionados momentos da civilização chinesa. "Cerimônia merece o 1º ouro olímpico", admite Sérgio Rizzo, crítico da Folha. Para Rizzo, a escolha de Yimou também levou em conta a identificação da obra do cineasta com valores históricos chineses. Além disso, ele é um mestre da luz e da cor, como demonstram "Sorgo Vermelho" (1987) e "Lanternas Vermelhas" (1991), entre outros.

"Foi um momento mais Steven Spielberg – que ia dirigir a cerimônia, mas desistiu por motivos de consciência – que Zhang Yimou, que comandou a festa de abertura", escreveu Sérgio Dávila naquele caderno.

Uma aula de história editada pela rigidez do governo de Pequim, citam os enviados do jornal paulistano, que deixou de lado a decadência dos últimos cinco séculos e, especialmente, os 150 anos de turbulência entre as invasões do século 19 e a abertura econômica de 1978.

Ouro também na maquiagem

A reportagem local da Folha apurou, conforme o artigo "Em busca de Jogos perfeitos, chineses usam retoques", de 13 de agosto, que a menina que apareceu cantando "Ode à Pátria" somente fingia cantar. A dona da voz não era a graciosa Lin Miaoke, 9, mas sim Yang Peiyi, 7, que, segundo Chen Qigang (diretor musical da cerimônia) permaneceu nos bastidores por não ficar tão bem na câmera quanto Miaoke. "Era preciso colocar os interesses do país em primeiro lugar", revelou Chen.

O artigo mostra ainda que "A Olimpíada que já foi alçada ao posto de mais política da história vem ganhando contornos que poderão deixá-la marcada também como a mais maquiada de todos os tempos."

Tao Ran, no artigo especial da Folha, "Operários pagam o preço da Olimpíada", de 13 de agosto, aborda que chineses que ergueram instalações esportivas foram expulsos de Pequim sem salário e sem emprego. Apesar de tudo isso, acrescenta Tao, a maioria das pessoas com quem conversou em Pequim sente orgulho da Olimpíada. Para a maioria dos moradores da cidade, os Jogos serão o melhor palco para mostrar ao mundo a prosperidade da China.

Cadê o respeito e a liberdade?

É bem verdade, diz Carlos Heitor Cony (Folha de S.Paulo Editoriais, 12 de agosto de 2008, "Alegorias de Mao"), que a situação da China, em termos políticos e de direitos humanos, continua naquela base, criando uma discussão paralela: o atual e portentoso desenvolvimento da economia chinesa compensa ou atenua o regime de força?

Raul Juste Lores, também da Folha, em seu artigo "Reciclagem do passado", escreve: "Em um país em que a censura reprime a ousadia, em que o governo controla tudo e todos, em que ter amizades no governo é bem mais importante que talento, não sei se daria para ser diferente. Na superfície, a festa foi moderna, mas a substância foi de passado reciclado".

Para Lores, o currículo criativo do país é extenso: os chineses criaram a pólvora, a pipa, os fogos de artifício, o papel, a tipografia e o aparelho que depois se tornou a bússola – todos lembrados durante a cerimônia de abertura. Teve tai chi, Muralha da China, soldados de terracota, Ópera de Pequim. Mas, sem exceção, tudo isso tem mais de 500 anos de idade, complementa. Tirando os deslocados astronautas e a citação ao próprio estádio "ninho de passarinho" (desenhado por arquitetos suíços ignorados na festa), o que há de realmente novo na China, além dos adereços?, indaga o cronista.

E então Cony argumenta que a obrigação de um Estado é, antes de mais nada, criar condições de liberdade para o povo. O progresso é necessário e bem-vindo, mas o importante é garantir que o cidadão seja livre para inclusive se beneficiar do progresso.

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