quinta-feira, 16 de abril de 2009

Páscoa

“Não podemos deixá-la cair no vazio ou celebrá-la de maneira meramente formal. Somos convidados a atualizar o sentido dessa festa, retomando o compromisso com o valor sagrado da existência humana e nos empenhando em melhorar a qualidade de vida de nosso povo”. São palavras de Dom Geraldo Lyrio Rocha, mestre em filosofia, arcebispo de Mariana (MG) e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), no artigo “Páscoa, um grito a favor da vida” (Folha de S.Paulo, 12 de abril de 2009). 

Aproveitei o feriado da Semana Santa para me dedicar à leitura: li “Nunca desista de seus sonhos”, do psiquiatra, cientista e escritor Augusto Cury. Obrigado meu recente e já tão querido amigo Lineu por colocar em minhas mãos esse texto. Vai saber se o amigo é mesmo recente ou se ora nos reencontramos de outras jornadas – não há como confirmar antecedentes nas histórias de vida. Porém, a sensação de nos conhecermos há tempos, buscando propósitos semelhantes, aponta nessa direção.


Que bom quando a vida nos aproxima de alguém especialmente direcionado para o propósito do aprimoramento humano e espiritual. Aproximadamente três semanas após nosso último encontro, chega Lineu com o livro de Augusto Cury, na véspera da sexta-feira santa. Justamente nesse dia sagrado lá estou eu envolvido no primeiro capítulo, quando o autor faz revelações emocionantes sobre a vida de Jesus, o Cristo. Que coincidência é esta? Com quem posso falar sobre isto? Existe alguém disponível, interessado em compartilhar esses momentos comigo?


Já escrevi neste blog sobre esse tipo de coincidência no artigo “Amsterdã” (4/8/2008).


Jesus, Jesus, Jesus...

Ao analisar a personalidade de Jesus Cristo sob o olhar da ciência, o psiquiatra Augusto Cury mostra-se assombrado. Tem a convicção de que a ciência foi tímida e omissa por nunca ter investigado a Sua inteligência. Por isso Ele foi banido das universidades, excluído da formação dos psicólogos, educadores, sociólogos, psiquiatras. Foi um prejuízo enorme. Nos tornamos gigantes na ciência, mas meninos na maturidade psíquica. 


Ainda no domingo de Páscoa, tive o cuidado de assistir a uma missa no canal televisivo “Rede Vida”, feliz com a mensagem do padre que a celebrava, pois a mensagem fugia ao padrão repetitivo, e por vezes oco, dos sermões. Ainda assim, fiquei algo decepcionado quando o sacerdote pronunciou uma daquelas frases que remetem ao sacrifício sem levar os fiéis a uma reflexão produtiva: “ ... carregar a nossa cruz e se entregar à misericórdia de Deus”. 


Segundo Cury, Jesus proclamava: “Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus”. A palavra “arrepender” usada por Jesus não significava culpa, autopunição ou lamentação. No grego, ela significa uma mudança de rota, revisão de vida.


Jesus queria que as pessoas repensassem seus caminhos, revisassem seus conceitos, retirassem as talas gessadas de suas mentes. Os que são incapazes de se repensar serão sempre vítimas e não autores de sua história, escreve o psiquiatra. Justamente abordagens assim não são comuns na Igreja Católica. Para Cury, falta compreensão na espécie humana e sobra punição.

Jesus vendia com todas as letras o sonho da eternidade. Para a perplexidade da medicina, Ele dizia que pisava na Terra para trazer esperança ao mortal. Eis uma reflexão para a Páscoa. A morte não destruiria a colcha de retalhos da memória. O ser humano sobreviveria e resgataria sua identidade. Retomaria a sua consciência. Pais abraçariam seus filhos depois que fechassem os olhos. Amigos se reencontrariam depois de longa despedida. Nunca alguém foi tão longe em seus sonhos, admite Cury.

Reedição da vida 


Todas as misérias, conflitos e traumas emocionais arquivados não podem ser destruídos, revela Cury. A única possibilidade é sobrepor novas experiências no lócus das antigas – o que o psiquiatra denomina de “reedição” – ou então construir janelas paralelas que se abrem simultaneamente às doentias. Se a pessoa tiver uma janela paralela que contém segurança, ousadia, determinação e que se abre simultaneamente às janelas do medo, do pânico, da ansiedade, ela terá subsídios para superar sua crise. Se não possuir essa janela, observa Cury, terá grande chance de se tornar uma vítima.


Para esse estudioso, nada melhor para fracassar na vida do que reclamar muito. Não sobra energia para criar oportunidades. Cuidado! Se você depender muito dos outros para executar seus sonhos, corre o risco de ser um frustrado na vida, diz ele. Quando lutamos por nossos sonhos, nem sempre as pessoas que nos rodeiam nos apóiam e compreendem. Às vezes somos obrigados a tomar atitudes solitárias, tendo como companheiros apenas nossos próprios sonhos.


“Os sonhos transformam a vida numa grande aventura. Eles não determinam onde você vai chegar, mas produzem a força necessária para arrancá-lo do lugar em que você está”, descreve Cury, que cita Jean-Paul Sartre: “Existência clama por significado”. 


Deus também sonha? 


A arquitetura do universo com bilhões de galáxias e seus infinitos fenômenos parece gritar que não apenas existe um Deus por detrás da cortina da existência, como também que esse Deus tem um grande sonho. O sonho de ver a espécie humana unida, fraterna e solidária, escreve Cury. No entanto, finaliza, parece que só os sensíveis ouvem a Sua voz. Descobrir o sonho do Arquiteto da Vida, independente de uma religião, é a responsabilidade e talvez o maior desafio de cada ser humano.


Desejo que muitas pessoas leiam esta obra de Augusto Cury. É de fácil leitura, tem poucas mas valiosas páginas e custa barato. Precisamos incentivar a nós mesmos e aos outros no hábito da leitura, sobretudo de textos que têm a capacidade de levar-nos à reflexão e à mudança positiva de comportamento.

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