sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

PAIS INTOLERÁVEIS

Imagem: http://meathaus.com/2009/07/
Tenho o hábito de colecionar textos extraídos das leituras para, quando oportuno, utilizá-los como referência em meu blog. Meu foco, geralmente, é direcionado a textos que levem à autorreflexão e mudança positiva de comportamento.

Porém, algumas vezes ocorre de eu optar pela reprodução integral de um texto. Como este: “Diante de pais intoleráveis, o melhor é abandoná-los”, escrito pelo médico Richard A. Friedman (professor de psiquiatria no Richard A. Weill Cornell Medical College, em Nova York) e publicado na Folha de S. Paulo, caderno “The New York Times”, de 9/11/2009:
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“Uma pessoa pode se divorciar de um cônjuge abusivo. Mas o que fazer se a fonte do sofrimento são os seus pais?

É claro que os pais não são perfeitos. Mas, da mesma maneira que existem pais comuns e bons em suas funções que misteriosamente geram filhos difíceis, há algumas pessoas boas que sofrem o azar de terem pais intoleráveis.

O assunto recebe pouca, se alguma, atenção nos manuais da disciplina ou na literatura psiquiátrica, talvez como reflexo da concepção comum, e errônea, de que os adultos, diferentemente das crianças e dos idosos, não estão vulneráveis a esses abusos emocionais.

Acredito que os terapeutas sintam inclinação demasiada a tentar salvar relacionamentos, mesmo aqueles que podem ser prejudiciais a um paciente. Em lugar disso, é crucial que tenham a mente aberta e considerem se manter aquele relacionamento é realmente saudável e desejável.

Da mesma forma, a suposição de que os pais estão predispostos a amar os filhos incondicionalmente não é universalmente verdadeira. Lembro-me de um paciente, um homem de 20 e poucos anos, que me procurou por sofrer de depressão e graves problemas de autoestima.

Não demorei a descobrir o motivo. Ele havia recentemente assumido sua homossexualidade diante dos pais, profundamente religiosos, cuja reação foi repudiá-lo. Posteriormente, em um jantar de família, seu pai o chamou para uma conversa reservada e disse que teria sido melhor que ele, e não seu irmão mais novo, tivesse morrido em um acidente de carro anos antes.

Apesar de terrivelmente magoado e zangado, o jovem ainda tinha a esperança de que seus pais aceitassem sua opção sexual e me pediu para organizar uma sessão com a família.

A conversa não foi bem. Os pais insistiam em que o "estilo de vida" do filho era um grave pecado, incompatível com suas crenças. Quando tentei lhes explicar de que o consenso científico era o de que os seres humanos têm tanto poder de escolha sobre sua orientação sexual quanto sobre a cor de seus olhos, os dois não se deixaram convencer. Pareciam simplesmente incapazes de aceitar o filho como ele é.

Fiquei atônito diante de sua hostilidade e convicto de que representavam uma ameaça psicológica ao meu paciente. E, em função disso, era preciso que eu fizesse algo que jamais havia contemplado como parte de um tratamento. Na sessão seguinte, sugeri que, para preservar seu bem-estar psicológico, ele poderia considerar, ao menos por algum tempo, abrir mão de seu relacionamento com os pais.

A esperança é a de que os pacientes venham a compreender os custos psicológicos de uma relação daninha e ajam para mudá-la.

Por fim, meu paciente se recuperou completamente da depressão e começou a namorar, ainda que a ausência dos pais em sua vida sempre ocupasse seus pensamentos.

Não é de se admirar. Pesquisas sobre vínculos primários, conduzidas tanto com seres humanos quanto com primatas não humanos, demonstram que estamos predispostos a estabelecer essas conexões, mesmo para com aqueles que não nos tratam assim tão bem.

Também sabemos que, embora traumas de infância prolongados possam ser tóxicos ao cérebro, os adultos mantêm a capacidade de reordenar o cérebro, posteriormente, por meio de novas experiências, entre as quais terapia e medicação com psicotrópicos.

É claro que a terapia não permite reverter a História. Mas é possível curar mentes e cérebros por meio de remoção ou redução do estresse. Às vezes, por mais que isso pareça drástico, o processo pode requerer o abandono de contato com um pai intolerável.”

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Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
Texto com base no psiquiatra Richard A. Friedman

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