segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O melhor presente (leitura obrigatória)

Trata-se da reprodução da crônica "O melhor presente", da amiga Madô Martins, madomartins@yahoo.com.br, escritora, publicada no jornal "A Tribuna" de Santos (SP), no dia 21 de dezembro. Regozijo-me com suas palavras, por saber que alguém mais neste mundo acolhe carinhosamente o carteiro, o entregador de gás... Por saber que também a sua mãe acolhia os coletores de lixo, por exemplo, oferecendo-lhes um copo de cerveja, na véspera de Natal. Este fato, particularmente, muito me emociona, ao lembrar de uma das imagens mais fortes que preservo de minha mãe: ela dirigindo-se ao portão de sua casa humilde, com um prato de comida nas mãos, a oferecer a pedintes famintos.
Natal é isto mesmo. Tempo de reflexão, de oportunidade de se reaproximar de pessoas queridas e, sobretudo, de felicidade.
Natal não é tempo para tristeza. Muitas pessoas sofrem com a perda recente de entes queridos. Ao invés da tristeza, então, devemos orar, mas alegremente, como a dialogar com a pessoa que foi para outro plano de Vida. Orar sem emoções que abatam, mas com sentimentos que elevem. É preciso esforço para experimentar uma nova sensação de conceber o ente que partiu, pois tristeza, com certeza, não traz benefícios nem a quem sente a ausência nem, principalmente, à Luz que circula eternamente entre quem ficou e a imagem celeste do ente querido. É preciso então alimentar essa Luz com muita alegria.

Há mais de 2000 anos, por decreto e misericórdia divinos, o milagre da vinda do Cristo aconteceu. E o coração dos homens foi alçado à condição de templo interior, escreve o amigo Roberto da Graça Lopes em sua mensagem para este Natal. E hoje, mesmo em tempos de contestação e dúvidas, em que se buscam provas da existência de Deus, o coração não se engana, percebendo-se, na época de Natal, algo diferente no ar, observa o amigo. É quando a Terra e a Vida recebem abundância do Amor Crístico. É um chamado à espiritualização, para que cada um acelere a construção de seu paraíso pessoal.

Eis "O melhor presente", uma lição tão oportuna para uma época tão especial. Madô querida, obrigado pelo brinde especial. É bom demais compartilhar palavras que exprimem a essência do ser humano.



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"Nas últimas semanas de corrida às lojas, onde pais desesperados buscam o brinquedo pedido pelos filhos e pagam qualquer preço para obtê-lo, namorados pechincham para que suas economias sejam trocadas pelo mais belo objeto de desejo de seu par, maridos se endividam para surpreender as esposas com aquilo que as encantou na vitrine e vice-versa, amigos garimpam o comércio à procura da melhor lembrança, gosto de pensar que, por trás de todo esse materialismo, junto com ele, vai um pacote de carinho embrulhado para presente.

Se fosse possível coar toda a ansiedade que nos impregna nesta época, constataríamos que é mais fácil do que se imagina agradar e ser agradado. Basta deixar-se sentir esse presente paralelo e invisível, quando recebemos ou demonstramos estima, inclusive entre desconhecidos íntimos como o entregador de gás, o carteiro, o jornaleiro, o feirante, o padeiro.

Lembro de minha mãe servindo cerveja em copos longos para os coletores de lixo, na véspera de Natal, em plena calçada. Era quando aqueles homens ganhavam rosto, e seus rostos sorriam, diziam palavras gentis, naqueles breves instantes em que interrompiam a passagem diária. Gosto de ver como se ilumina a face de qualquer entregador, quando, além da gorjeta, lhes deixo algumas balas, um bombom, ofereço uma água ou um sorvete. Fica comigo, assim como por certo com minha mãe, no passado, uma satisfação íntima ao mesmo tempo delicada e intensa, como a dizer que é para isto que estamos aqui: para, com nossas trocas de afeto, iluminarmos o mundo.

Certa vez, há muitos anos, li num balcão de banco uma frase que jamais esqueci: "A vida me trata como eu me trato", ou seja, o destino de cada um é o resultado de suas atitudes. Se você se propõe ser uma pessoa amável (e como esse termo é exato!), encontrará amabilidades pelo caminho; se cultiva a agressividade, terá uma árdua caminhada pela frente, repleta de obstáculos. Demorei a perceber essa verdade, e ainda me esqueço dela, às vezes, inclusive no corre-corre das vésperas natalinas, quando a pressa me atropela.

Então diminuo o ritmo, procuro me cercar de pessoas com energia positiva, converso com a natureza, até voltar ao estado ideal. Experimente que dá certo. Neste Natal, não subestime o poder do afeto. Procure dar abraços de verdade, beijar a bochecha do próximo, fazendo-o sentir-se realmente beijado, olhe o outro nos olhos, dê atenção ao que ele fala, faça pequenos agrados sem a pretensão de ser notado. Verá que a felicidade não é de ouro, nem eletrônica, não tem marca nem preço, por isso está ao alcance de todos nós. Basta abrir o presente".

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