quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O animal agonizante

Trata-se de trechos que selecionei da obra "O animal agonizante", do escritor Philip Roth, que originou o filme "Fatal", dirigido pela cineasta espanhola Isabel Coixet. Recomendo tanto o livro como o filme.


No filme, o ator Ben Kingsley vive um professor acadêmico e crítico cultural, que, aos 60 anos, ainda conquista diferentes mulheres, mas nunca se envolve com elas. Até conhecer uma aluna especial, interpretada por Penélope Cruz, que desperta nele um especial interesse.


Tenho o hábito de sublinhar textos em meus livros, sempre que deparo com registros que levam à reflexão, com os quais me identifico. Penso em facilitar, sobretudo a quem não tem o hábito de ler livros, o acesso a textos tão interessantes. Facilitar até mesmo para quem tem o privilégio desse hábito, seja como sugestão de aquisição da obra ou simples acréscimo de conhecimento. Do "O animal agonizante" destaquei o que fala sobre a obsessão do amor, a solidão e o amigo completo:

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"... A única obsessão que todo mundo quer ter: o ‘amor’. As pessoas pensam que quando se apaixonam elas se completam? A união platônica das almas? Pois eu não concordo. Eu acho que você está completo antes de se apaixonar. E o efeito do amor é fracionar você. Antes você está inteiro, depois você racha ao meio. Ela era um corpo estranho que havia se introduzido na sua integridade. E que você passou um ano e meio tentando incorporar. Mas você só vai conseguir ficar inteiro depois que expelir esse corpo estranho. Ou bem você se livra dele ou bem você o incorpora, distorcendo a si próprio. E foi isto que você fez, e foi por isso que você enlouqueceu."

... Desde que você não esteja em estado de anseio, a solidão às vezes é um prazer e tanto, e era esse prazer que eu estava planejando para aquela noite...

... Perdi meu amigo homem mais próximo. Agora não tenho mais nenhum amigo homem. Foi uma grande perda, aquela relação de camaradagem com George. Tenho colegas, é claro, pessoas que encontro no trabalho e com quem converso de passagem, mas as vidas dessas pessoas se baseiam em premissas tão opostas às premissas da minha vida que trocar idéias é muito difícil para nós. Não temos uma linguagem em comum para falar sobre a vida pessoal.

George representava para mim toda a comunidade masculina, talvez porque o grupo de homens de que fazemos parte seja muito pequeno. E um único companheiro de armas basta: um homem não precisa que toda a sociedade esteja do seu lado.

Quase todos os outros homens que conheço – principalmente se eles já me viram com uma das minhas namoradas jovens – ou me julgam em silêncio ou me pregam sermões abertamente. Sou ‘um homem limitado’, dizem eles – eles, que não são limitados. E os pregadores ficam indignados quando não concordo que seus argumentos sejam verdadeiros. Dizem que eu sou ‘autocomplacente – eles, que não são autocomplacentes. Os torturados, é claro, de mim só querem distância.

Sem dúvida, nenhum homem casado jamais se abre comigo. Com eles não há nenhuma afinidade. Talvez eles troquem confidências uns com os outros, se bem que tenho lá minhas dúvidas – não sei até onde vai a solidariedade masculina hoje em dia. O heroísmo deles não se limita a suportar estoicamente suas renúncias cotidianas, porém exige também que exibam uma imagem falsa de suas vidas, do modo mais enfático. Suas vidas verdadeiras, as vidas ocultas, só aparecem para seus terapeutas..."

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