Tenho pensado muito sobre isto. Eis que o engenheiro Antonio Athayde (*), diretor-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais), aborda o assunto no artigo "Não caia antes de ser empurrado" (Tendências/Debates, Folha de S.Paulo de 29 de maio de 2008), que ora sintetizo.
Athayde pensa na situação pela qual passam hoje os jornais norte-americanos, que amargam resultados ruins, com perda de leitores e anúncios e, conseqüentemente, de valor de mercado.
Ele diz: "No Brasil, festejamos seguidos anos de crescimento de circulação, de faturamento e, o mais surpreendente, aumento da participação do nosso meio no chamado ‘bolo publicitário’, a verba destinada pelos anunciantes aos diversos meios de comunicação".
Surpreendente, explica Athayde, pois o crescimento da base de assinantes da TV paga e dos usuários da internet no Brasil fez com que analistas previssem que aconteceria aqui o mesmo fenômeno que preocupa acionistas e executivos da mídia impressa norte-americana.
Uma rápida análise do que está acontecendo por aqui mostra o impressionante crescimento dos chamados "jornais populares", com preço baixo e conteúdo dirigido à classe C, já chamada a "classe dominante" no país, analisa o autor.
"Preço baixo, estratégia de distribuição, promoções e, sobretudo, matérias produzidas e apresentadas de acordo com o gosto do novo leitor fazem a receita desse enorme sucesso", observa.
Segundo ele, fica claro que estamos assistindo ao processo de formação de novos leitores que, em breve, procurarão análises mais refinadas, textos mais profundos e anúncios de produtos de maior valor agregado e migrarão para os jornais que ofereçam esse serviço.
Athayde descreve que os grandes jornais inovam com novos cadernos, reformas gráficas e revistas, além de terem feito reestruturações nas suas organizações de modo a ganhar agilidade na percepção das novas tendências do mercado leitor e do mercado publicitário. Ele admite, por exemplo, que, ao mesmo tempo em que anunciam a revolução que a internet traz ao seu próprio negócio, os jornais têm seus cadernos de informática, que propagam as conquistas desse seu ferrenho concorrente.
E assim os jornais se preparam para essa nova realidade, em que sua missão não é mais trazer novidades aos leitores, mas sim ajudá-los a compreender o mundo, mais complexo sob qualquer ponto de vista, inclusive apontando a melhor maneira de escolher e comprar um produto ou um serviço, considera o autor.
Sua impressão é que os jornais americanos se preocuparam demais com a chegada dos concorrentes eletrônicos, não fizeram seu dever de casa para entender a nova situação e se entregaram a um derrotismo antecipado. Caíram antes de serem empurrados, finaliza.
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(*) Antonio Athayde foi executivo sênior da Rede Globo, Gobosat/NET Brasil, Globopar, Rede Bandeirantes e SBT. Trabalhou como consultor da Telefônica pra projetos de TV na América Latina e para o Grupo Abril.
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