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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Natal: um homem sentado na calçada

Muitas vezes deixamos de fazer uma conexão transcendente por não prestar atenção naquilo que o coração sinaliza. É então que se perde a oportunidade de experimentar algo de profundamente elevado, ainda que dentro das fronteiras do próprio eu.
 
Ao final da tarde do dia 25 de dezembro, um momento sagrado. Eu acredito nos anjos. Eles estão sempre presentes. Ainda que não prestemos atenção. Creiamos ou não, somos guiados espiritualmente. E então, quando os bons propósitos são permanentes, os anjos se revelam em muitas circunstâncias e coincidências (?...) da vida. Basta prestar atenção.
 
Há certamente pessoas com espírito elevado que não percebem (ou ainda não concebem...) a presença Deles, por serem mais racionais, talvez, ainda que naturalmente espiritualizadas. Para essas pessoas, não importa tanto a crença no sagrado, mas a existência humana baseada no amor, na justiça, no respeito, na humildade e na generosidade. “Senhor, protegei as nossas ações, porque a Ação é uma maneira de rezar” (‘A oração que eu esqueci’, da obra “Ser como o rio que flui”, Paulo Coelho).
 
Ainda segundo Coelho (‘O pianista no centro comercial’, da mesma obra citada), “Você tem uma Lenda Pessoal para cumprir e ponto final. Não importa se os outros apoiam, criticam, ignoram, toleram – você está fazendo aquilo porque é o seu destino nesta terra...”.
 
Sentado na calçada
 
Passeando com o cãozinho de minha filha, chamou-me a atenção aquele rapaz sentado na calçada ao lado de um saco com latas de bebida vazias. Ele falava com uma senhora, mas eu não senti ali nenhum apelo para pedir esmola.
 
Ao olhar para mim e para o cão, ele acenou, desejando-me Feliz Natal.
 
Continuei passeando com o animal, mas aquela cena incomodou-me, em pleno dia de Natal.
 
Ao retornar do passeio pela redondeza, procurei o rapaz para oferecer um auxílio. Ele não se encontrava mais no local anterior, ao lado de uma farmácia. Tinha atravessado a rua e sentado em outra calçada, de frente a um supermercado. Estava com a cabeça baixa, quando o chamei:
- Posso te oferecer um auxílio?
- Sim, muito obrigado.
 
Só então percebi que ele apalpava uma ferida na perna, mostrando-me o remédio que tinha conseguido comprar. Por conta, talvez, de quantas latinhas vazias de bebida que havia conseguido juntar e vender? Imaginei. Ou, teria alguém comprado para ele?
 
Saí dali aliviado com a alegria nos olhos daquele homem, ao me agradecer. Mas continuei refletindo sobre o dia seguinte daquela pessoa e de tantas outras que perambulam pelas ruas.

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