O psiquiatra Irvin D. Yalom, 78, em seu livro "De frente para o sol – Como superar o terror da morte", refere-se a dois tipos de solidão: a cotidiana e a existencial. A primeira é social, a dor de se estar isolado de outras pessoas. Essa solidão – muitas vezes ligada ao medo da intimidade ou a sentimentos de rejeição, vergonha ou de não ser digno de amor – é familiar a todos nós. Na verdade, explica Irvin, a maior parte do trabalho em psicoterapia é direcionada a ajudar pacientes a aprender a formar relações mais íntimas, sustentáveis e duradouras.
Para o psiquiatra, a solidão aumenta muito a angústia da morte. Muitas vezes, nossa cultura forma uma cortina de silêncio e de isolamento em torno dos falecidos. Na presença dos que estão morrendo, amigos e familiares muitas vezes se distanciam por não saber o que dizer. Temem incomodar a pessoa que está agonizando. E também evitam se aproximar demais por medo de confrontar a própria morte.
Irvin narra que em nenhum outro lugar a solidão da morte e a necessidade de ligações são retratadas de maneira mais forte do que na obra-prima de Ingmar Bergman, "Gritos e sussurros". No filme, Agnes, uma mulher morrendo com muita dor e medo, implora por um contato humano íntimo.
O autor diz que familiares ou amigos próximos podem estar ávidos por ajudar, mas são tímidos demais; as pessoas podem recear ser intrusivas ou desestabilizar os que estão morrendo, trazendo à tona assuntos melancólicos. A pessoa que está morrendo geralmente precisa tomar a iniciativa na discussão desse medo, revela Irvin Yalom.
Revelações recíprocas
A lição aqui é simples: ligação é fundamental, orienta o psiquiatra. Seja você um familiar, um amigo ou um terapeuta, intrometa-se. Aproxime-se como lhe parecer apropriado. Fale de coração. Revele os próprios medos. Improvise. Ampare quem sofre de maneira que o possa reconfortar.
"Em relações próximas, quanto mais alguém revela os sentimentos e pensamentos íntimos, mais facilita que os outros se abram. A revelação tem um papel crucial na criação de intimidade", escreve Irvin. Ele nos mostra que, de maneira geral, relações se constroem por meio do processo de revelações recíprocas. Uma pessoa toma a iniciativa e revela uma bagagem íntima, pondo-se assim em risco; a outra estreita a distância sendo recíproca; juntas, elas aprofundam a relação como uma espiral de revelações. Se a pessoa que se arrisca é largada sem uma recíproca por parte da outra, a amizade muitas vezes fracassa, complementa o psiquiatra.
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