sexta-feira, 3 de julho de 2009

Michael Jackson: 1958-2009

Imagem newspressrelease.wordpress.com
Não há espaço para tristeza neste blog, cujo propósito é levar o leitor à reflexão, ao entendimento e à expansão da consciência. Sobre o fenômeno Michael Jackson, guardo a imagem do grande artista que deixa uma marca singular na história. 

Peço licença à Folha de S.Paulo para sintetizar a sua extensa cobertura sobre a vida do grande ídolo. É uma pena que tão poucas pessoas tenham acesso, e outras, até mesmo pouco interesse em informações de qualidade, que possam aprimorar o conhecimento e contribuir efetivamente para a mudança de mentalidade.


Conhecendo a verdadeira história de uma pessoa é possível evitar julgamentos precipitados, fruto da ignorância e da inconsequência de atitudes. Fazer julgamentos com base na mídia sensacionalista e nas conversas dos botecos da vida é algo tosco, que apenas deprecia o transmissor de fatos que não correspondem à realidade.

Por outro lado, há de se levar em conta o propósito de quem comenta um assunto: debochar, julgar, esclarecer...


Vejamos o que consegui extrair do noticiário da Folha envolvendo a morte de Michael Jackson, sem perder de vista o meu respeito pelo grande ídolo que o mundo perdeu.


“Talvez nenhuma outra figura contemporânea tenha concentrado o conflito entre a esfera pública e a vida pessoal que marca o mundo contemporâneo”, registra o editorial “Michael Jackson” da Folha de 27 de junho. No caso de Michael Jackson, diz o editorial, o conflito não se encenou apenas durante o período em que o ídolo esteve envolvido em acusações de pedofilia. Durante a própria infância, o cantor conheceu a rotina de aparições felizes diante das câmeras e a realidade familiar marcada pela violência e pela exploração. No brilho e no drama de sua biografia, o cantor se inscreve como um símbolo inquietante das contradições de nosso tempo, finaliza o editorial.


Michael aprendeu a cantar como um anjo e dançar como um cafetão,  fazendo shows em puteiros aos oito anos de idade, conta André Forastieri no artigo “Ícone pop foi a união entre anjo e cafetão” da Folha de 26 de junho. Levava surra do pai, Joseph, se não se apresentasse bem, se não ensaiasse o suficiente – qualquer razão era boa. Os irmãos Jackson entravam todos no couro.


Forastieri narra que “o pai tinha tentado se dar bem como artista. Acabou metalúrgico e empresário e feitor dos filhos. Devemos a esta figura detestável o maior artista que a música jamais teve. Contra números não há argumentos. São 750 milhões de discos vendidos até agora”.


“Thriller, a inigualável obra-prima, disco mais vendido da história da humanidade, revolucionou o entretenimento de uma maneira sem igual”, revela Paulo Ricardo, no artigo “Obra-prima ‘Thriller’ custou a vida de Michael” (Folha, 26 de junho).

A dança suave e sincronizada

“Ele era um bailarino. Qualquer um que olhasse Michael Jackson dançando também queria dançar. E isso é a coisa mais importante que pode haver no mundo dessa e de qualquer outra arte”, diz a bailarina e coreógrafa Deborah Colker em seu artigo “Era como Fred Astaire” (Folha, 27 de junho). 


Deborah conta que o planeta inteiro – crianças, adolescentes e adultos – passou a realizar as coreografias que ele desenvolveu, seu breque, sua maneira de quebrar a música no corpo, a forma como unia os passos ao ritmo.


“O jeito de ele dançar era hip hop, era funk, era breakdance – mas não resultava em nada disso, porque era reinvenção”, escreve a bailarina. Para ela, Michael tinha as proporções de um bailarino. “Pernas compridas, mãos enormes, aqueles braços. Seu corpo era completamente expressivo. Como Pelé, nasceu com as medidas perfeitas”.


Deborah comenta que “a dança é algo muito árduo, que exige grandes esforços. E Michael era um símbolo total disso. Completamente meticuloso, perfeccionista. Ficava visível que todos aqueles passos estavam milimetricamente calculados. Uma precisão acima da perfeição. Mas, ao mesmo tempo, era indisfarçável o prazer que sentia ao fazer aquilo”.


“E nem precisava dançar. No clipe que gravou aqui no Brasil, Michael quase só andava. Mas com uma elegância e uma destreza comparáveis apenas às de Fred Astaire – que de fato era um de seus ídolos”, analisa a bailarina. Ela diz que aprendeu a ter prazer no seu ofício olhando Michael dançar. Se a sua companhia existe, revela, se a dança está dentro dela, Deborah responsabiliza totalmente esse homem por isso.

Transformação


“A transformação por que passou a cor da pele de Michael motivou os mais diversos rumores – ele teria utilizado tratamentos heterodoxos para embranquecer a pele”, cita Thiago Ney no artigo “Acusações de abuso marcam fim da carreira” (Folha, 26 de junho). 


Em 1993, em entrevista à Oprah Winfrey, Michael Jackson revelou ter um problema de pele que destrói a pigmentação, conhecido como vitiligo. “É algo sobre o que não posso fazer nada, O.K.? Mas, quando inventam histórias dizendo que não gosto de ser o que sou, isso me machuca... Nunca estou satisfeito comigo. Tento não olhar no espelho” (Folha, 26 de junho).


O homem e o artista


No artigo “A morte mais lenta da história do showbizz” (Folha, 26 de junho), João Marcello Bôscoli faz uma interessante reflexão, com base em um texto de Carl Jung, sobre o homem e o artista: “O artista é um ser com aptidões contraditórias. Por um lado, é um ‘homem comum’ com apetites, desejos, frustrações, contas para pagar. Por outro, é um homem em um sentido maior: um ‘homem-coletivo’. Aquele que capta e dá forma ao inconsciente da raça humana e o devolve sob a forma de uma obra de arte. E a realização dessa tarefa mobiliza uma grande quantidade de energia”. 


Para Bôscoli, “Nada pode impedir a execução de sua missão – muito menos o lado humano. Este é visto quase como um erro, uma limitação do artista. Talvez por isso, os artistas permaneçam infantis e vaidosos depois de adultos, desenvolvendo uma série de más características e idiossincrasias no campo pessoal, para evitar que o ‘homem comum’ desperdice energia e tempo, atrapalhando sua jornada. De certa forma, ele se torna sua obra”.  


“Como regra, a vida do artista é altamente insatisfatória – para não dizer trágica -, afinal, duas forças opostas duelam o tempo todo dentro dele, tentando tomar o poder. Há de se pagar um alto preço pelo dom do fogo criativo”, escreve Bôscoli. Para ele, “pode ser ou parecer uma limitação o tal lado humano, mas ao costurar sua fantasia em seu próprio corpo, Michael Jackson abriu mão de sua dualidade... Foi a morte mais lenta da história do show-business.” 


Para a eternidade


“Ele continua vivo. É difícil um cara como Michael Jackson morrer, com tanta obra para gente continuar curtindo. Por isso estamos aqui celebrando a vida dele”, afirmou o músico Antonio Luís de Souza, 53, do grupo Olodum, que reuniu 30 de seus percussionistas para homenagear o cantor, no dia 26, no Pelourinho (Salvador, BA). Essa informação consta do artigo “Cantor é lembrado em locações de clipe” (Folha, 27 de junho).

Segundo ainda o referido artigo, “o então governador Marcello Alencar, contrário na época à intenção de Michael Jackson de filmar o clipe na favela Dona Marta, no Rio de Janeiro, em 1996, justificou sua posição afirmando que o astro ‘quase foi para a cadeia e agora vai virar herói da miséria e da pobreza’. As autoridades temiam o prejuízo à imagem do Rio, então candidato à sede das Olimpíadas de 2004. Treze anos depois, o governador Sérgio Cabral Filho anunciou que vai colocar uma estátua do cantor na laje da favela onde o clipe foi filmado”.


“Ele teve momentos mais exuberantes, discos menos brilhantes, mas uma festa sem Michael não acontece. É como se eu não tivesse ido... Quando a gente vai ter a possibilidade de ter outro cara como esse? Saímos perdendo”, comenta a bailarina Deborah Colker.


Dos vários depoimentos de famosos registrados na Folha, selecionei estes dois: “Nenhuma polêmica manchará o impacto histórico de sua música”, revelou Al Sharpton, reverendo, ativista e líder da comunidade negra dos EUA, enquanto John Landis, que dirigiu “Thriller”, disse num comunicado ao LA Times: “Teve uma vida problemática, complicada e, apesar de seus talentos, permanece uma figura trágica”. 


Segundo o artigo “Michael temia morrer como Elvis, diz Lisa Marie” (Folha, 27 de junho), “Conversando com a então mulher, Lisa Marie Presley, 41, sobre a morte do pai dela (Elvis Presley, que morreu aos 42 anos, vítima de um ataque cardíaco), Michael há 14 anos lhe disse: ‘Tenho medo de terminar como ele’. A declaração está no blog da cantora no MySpace (representantes dela confirmaram a veracidade do texto à agência Reuters)”. 


“O mundo está em choque, mas ele sabia exatamente como seria seu destino, e ele estava certo”, cita o artigo.
 


Toda essa história me leva a crer que, às vezes, é preciso morrer para ser perdoado.

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