sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

MEDITAÇÃO: ESVAZIE SUA MENTE


Insconscientes e acomodados em relação ao progresso pessoal e espiritual: é esta a característica da maioria das pessoas. Geralmente, independentemente da classe social, há sempre alguém por perto que pode contribuir para o nosso crescimento pessoal. A questão é que não percebemos. Não costumamos dar atenção ao que não é materialmente palpável.  

“Embora comecemos a vida com integridade e bom humor, quanto mais envelhecemos, mais nos tornamos inflexíveis, amedrontados e irritadiços”, escreve Hugh Prather em sua obra “Não leve a vida tão a sério”, que li em 2009. Para o autor, como a curiosidade natural e alegria inicial diminuem com o passar de tempo, tudo fica mais difícil, inclusive fazer amizades: “Também ficamos menos generosos e mais infelizes. Fato é que, de modo geral, poucas pessoas ficam ‘mais suaves’ com a idade”.

Normalmente, observa Prather, nossas mentes são tão barulhentas que poucos escutam o silêncio da serenidade e da paz, única possibilidade de viver o presente e nada mais. Para esse autor, existe um lugar dentro de nós onde entramos em contato com o eterno e o belo, um lugar em que realmente sentimos nosso ser interior em paz. Ele lembra ainda que só a tranquilidade, e não a perturbação, alcança as profundezas de nossa mente. “Para chegar a nossas convicções mais profundas, escutar nossas intuições e lembrar nosso amor pelas pessoas, só mesmo apostando na paz interior”, ensina Hugh Prather. 

MEDITAÇÃO 


Suzana Herculano-Houzel, neurocientista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dá uma saudável lição em seu artigo “Muita atenção: meditação”, publicado na Folha de S. Paulo, Equilíbrio, de 19 de outubro de 2010. 

Suzana complementa muito bem a observação de Hugh Prather. Para a neurocientista, com as preocupações do dia silenciadas, as respostas ao estresse diminuem e a imunidade aumenta. Veja adiante o artigo de Suzana, que reproduzo na íntegra: 

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À primeira vista, a orientação mais básica para a meditação soa impraticável para um cérebro que passa o dia inteiro fazendo seu burburinho interno fluir naturalmente de um pensamento para o outro, direcionado aqui e ali por estímulos externos incessantes. Como esvaziar a mente pode ser possível, ou mesmo bom?  

Ao contrário do relaxamento, a meditação é um estado de intensa atenção, focada em um único processo: uma imagem, um mantra, sua própria respiração, ou sentimentos de compaixão.  


É essa atenção focada que permite que todas as distrações, externas e internas, sejam silenciadas e deixem de afetar o fluxo natural dos pensamentos. Nesse estado, o cérebro suprime ativamente ações motoras e mentais - o que requer um baita esforço dos principiantes.  

Emoções perdem a vez (exceto se a compaixão for o seu foco) e, eventualmente, até os limites do corpo parecem se dissolver: no estado meditativo, somente um pensamento existe.  

Com a prática, o enorme esforço cerebral para manter a atenção hiperfocada vai deixando de ser necessário. Para os ‘experts’, como monges tibetanos com dezenas de milhares de horas de prática, esse estado de atenção focada vem naturalmente. Nesse estado, com as preocupações do dia silenciadas, as respostas ao estresse diminuem, a imunidade aumenta: a calmaria na mente se estende ao corpo.  


Para quem anda atribulado e assoberbado, a meditação pode ser aquela pausa bem-vinda para "zerar" o cérebro e conseguir, ainda que por instantes, suprimir os pensamentos angustiantes.  

O curioso, e ainda melhor, é que, com a prática, o controle e a paz alcançados na meditação transbordam para outros momentos da vida.  

Com a prática, mesmo fora do estado meditativo a capacidade de atenção focada aumenta nitidamente; melhora a capacidade de suprimir pensamentos negativos e emoções associadas; e o corpo ganha mais paz, por meio da maior ativação do sistema parassimpático, o que torna a resposta ao estresse mais controlada e saudável.  


E não, você não precisa se tornar um monge tibetano para gozar dos benefícios da meditação. Um estudo mostrou que os efeitos sobre corpo e mente já são notados com – pasme - cinco dias de prática. Quem diria: o caminho para o relaxamento passa pela atenção extrema.

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Para finalizar, retomo Hugh Prather, que diz: “A perturbação mental impede que você escute e sinta seus verdadeiros pensamentos e sentimentos. A mente coleta muito lixo mental durante nossos anos de formação, mas seu núcleo continua puro. Embora corramos o risco de usá-la de maneira conflitante, nenhuma realidade tem mais unidade básica do que a mente. Buscar nossa natureza essencial é uma tarefa que pode ser realizada com simplicidade e tranquilidade se dermos alguns passos a cada dia.”

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