terça-feira, 10 de março de 2009

“Kun long”

Leio "Uma ética para o novo milênio", escrito pelo Dalai-Lama. Logo nas primeiras páginas me delicio com os ensinamentos do Mestre quando ele aborda a expressão tibetana kun long. Penso então em compartilhar tal conhecimento com as pessoas, antes mesmo de prosseguir a leitura da obra.

Tenho o hábito de extrair de minhas leituras textos que me levam à reflexão e a mudanças. São textos dessa natureza que alicerçam este blog.


Há em mim o desejo de levar o outro à introspecção, a rever comportamentos indesejáveis e aprender a cultivar um estado de espírito sempre positivo, tentando ser o mais útil possível aos outros.

Ao criar o seu universo com base no entendimento e na tolerância, o homem é capaz de experimentar a paz. Vejamos com atenção o que o Dalai-Lama ensina em termos de transformar nossos corações e mentes para nos tornarmos pessoas melhores.

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... "Vamos imaginar uma situação em que nos envolvemos em um desentendimento com um membro de nossa família. A maneira como lidamos com a atmosfera pesada que se instala vai depender em grande parte daquilo que inspira nossas ações no momento – em outras palavras, nosso kun long.

Quanto menos calmos ficarmos, maior a probabilidade de reagirmos negativamente, com palavras ásperas, de dizermos ou fazermos coisas de que mais tarde nos arrependeremos amargamente, mesmo que os nossos sentimentos de afeto por aquela pessoa sejam profundos.

Em tibetano, a expressão que caracteriza o que é mais importante para determinar o valor ético de uma ação é o kun long do indivíduo.

... kun long é compreendido como aquilo que, de certo modo, motiva ou inspira nossas ações – tanto as que praticamos deliberadamente como as que são involuntárias. Logo, essa expressão indica o estado geral do coração e da mente do indivíduo. Quando esse estado é sadio, deduz-se que nossas ações serão (eticamente) sadias."

Esbarrar em alguém na rua pode provocar até a ira

Imaginemos ainda uma situação em que incomodamos alguém ligeiramente, como, por exemplo, esbarrar sem querer em uma pessoa na rua e ela gritar que devemos andar com mais cuidado. Há uma possibilidade maior de não darmos importância a isso se nossa disposição (kun long) for sadia, se nossos corações estiverem plenos de compaixão – um sentimento que encerra compreensão e ternura -, do que se estivermos sob a influência de emoções negativas.

Quando a força motivadora de nossas ações é sadia, nossos atos tendem automaticamente a contribuir para o bem-estar dos outros.
São, portanto, forçosamente éticos. E quando isso se torna o nosso estado habitual, a probabilidade de reagirmos mal quando provocados é menor. Se perdermos a paciência, será uma explosão desprovida de qualquer traço de rancor ou ódio."

Portanto, na opinião do Dalai-Lama, o objetivo da prática espiritual e, consequentemente, da prática da ética é transformar e aperfeiçoar o kun long. É assim que nos tornamos pessoas melhores.

"Descobrimos que, à medida que conseguimos transformar nossos corações e mentes cultivando qualidades espirituais, passamos a ser mais capazes de lidar com as adversidades e aumentamos as probabilidades de nossas ações serem eticamente sadias", diz o Dalai-Lama. Assim, ele prossegue, se permitirem citar meu próprio caso como exemplo, essa maneira de compreender a ética significa que, ao procurar sempre cultivar um estado de espírito positivo ou sadio, tento ser o mais útil possível aos outros.

O impacto de nossas ações sobre os outros

O Dalai-Lama revela que é mais fácil compreender que o estado geral do coração e da mente – ou motivação – de uma pessoa no momento de uma ação é, em geral, a chave para determinar a qualidade ética dessa ação se considerarmos como nossas ações são afetadas quando estamos sob o poder de fortes emoções e pensamentos negativos, como o ódio e a raiva.

Nesse momento, diz o Mestre, nossa mente e nosso coração estão conturbados, o que nos faz não só perder o senso de percepção e perspectiva como também não enxergar o provável impacto de nossas ações sobre os outros.

"Podemos chegar a ficar aturdidos a ponto de ignorar os outros e seu direito à felicidade. Em tais circunstâncias, nossas ações – isto, nossos atos, palavras, pensamentos, omissões e desejos – serão certamente nocivas à felicidade dos outros, não importando quais tenham sido nossas intenções para com os outros ou se nossas ações foram intencionais ou não", considera o Dalai-Lama.

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