Para falar sobre o assunto, busco inspiração em Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, em seu artigo “Internet e leitura”, publicado no jornal “O Estado de S. Paulo” (Espaço Aberto) de 8 de fevereiro de 2010, e também em Ubiratan Brasil, no artigo “Eletrônicos duram 10 anos, livros, 5 séculos”, também publicado em “O Estado” (Sabático) de 13 de março de 2010, duas excepcionais contribuições a este polêmico debate sobre o “fim do livro”. Pois, conforme considera Ubiratan, “... tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo”.
Em seu artigo, Di Franco cita o norte-americano Nicholas Carr, formado em Harvard e autor de livros de tecnologia e administração, que acredita que a dependência da troca de informações pela internet está empobrecendo nossa cultura. Carr falou à revista “Época” durante visita ao Brasil para uma palestra a 4.500 líderes empresariais.
Segundo aquele especialista norte-americano, “O uso exagerado da internet está reduzindo nossa capacidade de pensar com profundidade. Fica-se pulando de um site para o outro. Recebem-se várias mensagens ao mesmo tempo. Somos chamados pelo Twitter, pelo Facebook ou pelo Messenger. Isso desenvolve um novo tipo de intelecto, mais adaptado a lidar com as múltiplas funções simultâneas, mas que está perdendo a capacidade de se concentrar, ler atentamente ou pensar com profundidade”.
“A internet é uma magnífica ferramenta, mas não deve perder o seu caráter instrumental”, observa Carlos Di Franco. Para ele, o excesso de internet leva à compulsão, um tipo de dependência que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. “Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Ler é preciso. Jovens e adultos precisam investir em leitura e reflexão. Só assim, com discernimento e liberdade, se capacitam para conduzir a aventura da própria vida”, escreve o articulista.
O livro está condenado ?...
Para o seu artigo “Eletrônicos duram 10 anos...”, Ubiratan Brasil entrevistou o semiólogo, ensaísta e escritor italiano Umberto Eco, autor do best-seller mundial “O Nome da Rosa”, publicado em 1980.
Ao perguntar se o livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias, Umberto responde ao articulista Ubiratan: “O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos?”
Conta Ubiratan Brasil que Umberto Eco conversou recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que lhe disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança.
Diferença entre conteúdo na internet e de uma biblioteca
Ao falar sobre o assunto a Ubiratan, Umberto Eco disse que a diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar: “... o problema básico da internet é que ela depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites confiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a Segunda Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos”.
“Falando agora sobre sua biblioteca, é verdade que ela conta com 50 mil volumes?”, pergunta Ubiratan, ao que lhe responde Umberto: “Sim, de uma forma geral. No apartamento em Milão estão apenas 30 mil – o restante está no interior da Itália, onde tenho outra casa. Mas sempre me desfaço de algumas centenas, pois, como disse antes, é preciso fazer uma filtragem”.
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Foto: Revista PedagoLetras, “Gosto pela leitura”, http://pedagoletras.wordpress.com/2009/03/17/eu-recomendo
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