Em busca de inspiração para um novo artigo, encontrei este registro em meu diário, datado no dia 25 de maio de 2005: "Ultimamente, venho esforçando-me para evitar tecer comentários sobre pessoas, sobretudo quando derivam de avaliações subjetivas, muitas vezes inconseqüentes. Isto tem se transformado em exercícios diários, que chegam até a me surpreender".
Em "O Monge e o Executivo", James C. Hunter fala sobre isto: "... mas sei que as coisas nem sempre são como parecem ser. Devemos ter cuidado antes de fazer julgamentos rápidos. Além disso, Greg não está aqui conosco para se defender, e eu tento não falar negativamente a respeito daqueles que não estão presentes".
Uma boa leitura traz não apenas um novo conhecimento. Um bom texto transforma uma pessoa, desde que haja sensibilidade e disposição para mudança.
Em "A Arte da Felicidade no Trabalho", o psiquiatra Howard C. Cutler discute com o Dalai-Lama o que dá sentido à vida. Eles dizem que não é fácil treinar a mente e reformular nossas atitudes e pontos de vista por meio do treinamento interior. É preciso muito esforço, que leva tempo. Para esse tipo de "meditação analítica" funcionar é preciso refletir profunda e repetidamente sobre formas alternativas de ver o mundo.
Reações costumeiras
Abandonar as reações costumeiras, por mais destrutivas que sejam, pode amedrontar, e muitas vezes o medo subsiste em um nível subconsciente profundamente arraigado, explica Cutler. Somado a isso, é claro que existem benefícios secundários quando nos agarramos a rancores, à inveja e à insatisfação, já que nossas queixas constantes servem para conquistar a simpatia e a compreensão dos outros. Ou pelo menos é o que pensamos, escreve o psiquiatra, pelo menos é o que esperamos. Às vezes funciona – nossos amigos e colegas de trabalho juntam-se a nós com sua própria lista de queixas, e se forma um vínculo enquanto nos entregamos à nossa festinha de celebrar as iniqüidades da vida e os pecados dos outros.
Muito freqüentemente, entretanto, arremata Cutler, embora nossas queixas possam ser recebidas por manifestações exteriores de simpatia, é mais provável que sejam recebidas pela irritação interior daqueles que têm seus próprios problemas.
É verdade, admite o Dalai-Lama, mas a questão principal é que, se existe uma possibilidade de mudar nosso ambiente, é claro que temos o direito de tentar. Mas também é preciso redirecionar os pensamentos e perceber as causas fundamentais e mais amplas do problema.
Nossos esforços podem ter poucos resultados ou nenhum. Mas, pelo menos, em vez de raiva e frustração inoportunas, estaremos transformando nossa energia mental, canalizando-a para uma direção mais construtiva, orienta o mestre.
Para Cutler e o Dalai-Lama, o propósito da vida é a felicidade. A felicidade é determinada mais pelo nosso estado mental do que por condições, circunstâncias ou acontecimentos externos – pelo menos depois que as necessidades básicas para sobreviver estão garantidas.
O significado do calar
Eis um bom exercício para iniciar um treinamento. Este texto, com base em Marcus Piedade (do Movimento de Renovação Religiosa da Comunidade de Cristãos, uma das vertentes da Antroposofia), foi-me dado em 2005 pelo amigo Roberto da Graça Lopes:
******
Havia em certo mosteiro uma pintura na parede: um monge com o dedo indicador da mão direita sobre os lábios. Ele recomendava ao que entrava na sala que se calasse. Com isso, chamava a consciência do entrante para o falar e o calar.
O significado do calar vivencia-se na maneira como a palavra é usada no cotidiano. A maior parte das conversas é sobre generalidades, ou de si, ou de outros: fala-se de agrados e desagrados, de aspectos fúteis da vida. Não vem ao caso a veracidade ou não do que é falado. Alguém disse isso, outro disse aquilo, e se acrescenta ainda algo ouvido de terceiros. Aquilo que inicia na leveza e transparência, qual nuvem etérea, torna-se escuridão densa a envolver o ser humano ao qual foi dirigida a nuvem de formas-pensamento. Quem tenta descobrir a origem dessa nuvem densa e escura percebe que ela não existe, e nem tem autor. Sem co-autoria consciente das pessoas, a palavra serviu a uma conversa superficial: delas, porém, surgiu a nuvem densa e escura a envolver a alma humana.
Outra conseqüência pode surgir do falar humano. Ouve-se algo. O falado é ouvido com rigidez de percepção e, insensatamente, torna-se ‘verdade’ absoluta. Examina-se em detalhes o que foi dito e se buscam suas ‘provas’. O resultado dessa atitude é a crítica. A crítica, a discussão acalorada, tem esse caráter: busca a ‘verdade’ rígida, absoluta, afastando a consciência das relações humanas. Apenas o verdadeiro diálogo entre pessoas edifica. A atitude da crítica serve, sem que se tenha consciência disso, à destruição do ser humano.
A fofoca anuvia, a crítica esvazia a alma. Na fofoca, a palavra torna-se nebulosa e obscura; na crítica, a palavra torna-se afiada e cortante. A fofoca e a crítica obscurecem, esvaziam e enfraquecem, mais ainda àquele que, ‘inconscientemente’, lhes dá origem, vida e destino. É possível que um dia surja consciência disso. Primeiro como susto; depois como necessidade de aprender. Eis a imagem do monge na atitude da alma humana: cultivar na alma a consciência do falar e do calar.
Calar-se não é só estar mudo. Calar aprende-se, com esforço consciente. A vida humana revela-nos, a cada dia, parábolas e enigmas que, contemplados em silêncio, falam na alma, acordando-a. Para isso, é necessária uma atitude interior, individual. Calar é juntar a alma dispersa e abandonada a si mesma. O silêncio interior aguça a percepção, vigorizando na alma a consciência.
Em "O Monge e o Executivo", James C. Hunter fala sobre isto: "... mas sei que as coisas nem sempre são como parecem ser. Devemos ter cuidado antes de fazer julgamentos rápidos. Além disso, Greg não está aqui conosco para se defender, e eu tento não falar negativamente a respeito daqueles que não estão presentes".
Uma boa leitura traz não apenas um novo conhecimento. Um bom texto transforma uma pessoa, desde que haja sensibilidade e disposição para mudança.
Em "A Arte da Felicidade no Trabalho", o psiquiatra Howard C. Cutler discute com o Dalai-Lama o que dá sentido à vida. Eles dizem que não é fácil treinar a mente e reformular nossas atitudes e pontos de vista por meio do treinamento interior. É preciso muito esforço, que leva tempo. Para esse tipo de "meditação analítica" funcionar é preciso refletir profunda e repetidamente sobre formas alternativas de ver o mundo.
Reações costumeiras
Abandonar as reações costumeiras, por mais destrutivas que sejam, pode amedrontar, e muitas vezes o medo subsiste em um nível subconsciente profundamente arraigado, explica Cutler. Somado a isso, é claro que existem benefícios secundários quando nos agarramos a rancores, à inveja e à insatisfação, já que nossas queixas constantes servem para conquistar a simpatia e a compreensão dos outros. Ou pelo menos é o que pensamos, escreve o psiquiatra, pelo menos é o que esperamos. Às vezes funciona – nossos amigos e colegas de trabalho juntam-se a nós com sua própria lista de queixas, e se forma um vínculo enquanto nos entregamos à nossa festinha de celebrar as iniqüidades da vida e os pecados dos outros.
Muito freqüentemente, entretanto, arremata Cutler, embora nossas queixas possam ser recebidas por manifestações exteriores de simpatia, é mais provável que sejam recebidas pela irritação interior daqueles que têm seus próprios problemas.
É verdade, admite o Dalai-Lama, mas a questão principal é que, se existe uma possibilidade de mudar nosso ambiente, é claro que temos o direito de tentar. Mas também é preciso redirecionar os pensamentos e perceber as causas fundamentais e mais amplas do problema.
Nossos esforços podem ter poucos resultados ou nenhum. Mas, pelo menos, em vez de raiva e frustração inoportunas, estaremos transformando nossa energia mental, canalizando-a para uma direção mais construtiva, orienta o mestre.
Para Cutler e o Dalai-Lama, o propósito da vida é a felicidade. A felicidade é determinada mais pelo nosso estado mental do que por condições, circunstâncias ou acontecimentos externos – pelo menos depois que as necessidades básicas para sobreviver estão garantidas.
O significado do calar
Eis um bom exercício para iniciar um treinamento. Este texto, com base em Marcus Piedade (do Movimento de Renovação Religiosa da Comunidade de Cristãos, uma das vertentes da Antroposofia), foi-me dado em 2005 pelo amigo Roberto da Graça Lopes:
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Havia em certo mosteiro uma pintura na parede: um monge com o dedo indicador da mão direita sobre os lábios. Ele recomendava ao que entrava na sala que se calasse. Com isso, chamava a consciência do entrante para o falar e o calar.
O significado do calar vivencia-se na maneira como a palavra é usada no cotidiano. A maior parte das conversas é sobre generalidades, ou de si, ou de outros: fala-se de agrados e desagrados, de aspectos fúteis da vida. Não vem ao caso a veracidade ou não do que é falado. Alguém disse isso, outro disse aquilo, e se acrescenta ainda algo ouvido de terceiros. Aquilo que inicia na leveza e transparência, qual nuvem etérea, torna-se escuridão densa a envolver o ser humano ao qual foi dirigida a nuvem de formas-pensamento. Quem tenta descobrir a origem dessa nuvem densa e escura percebe que ela não existe, e nem tem autor. Sem co-autoria consciente das pessoas, a palavra serviu a uma conversa superficial: delas, porém, surgiu a nuvem densa e escura a envolver a alma humana.
Outra conseqüência pode surgir do falar humano. Ouve-se algo. O falado é ouvido com rigidez de percepção e, insensatamente, torna-se ‘verdade’ absoluta. Examina-se em detalhes o que foi dito e se buscam suas ‘provas’. O resultado dessa atitude é a crítica. A crítica, a discussão acalorada, tem esse caráter: busca a ‘verdade’ rígida, absoluta, afastando a consciência das relações humanas. Apenas o verdadeiro diálogo entre pessoas edifica. A atitude da crítica serve, sem que se tenha consciência disso, à destruição do ser humano.
A fofoca anuvia, a crítica esvazia a alma. Na fofoca, a palavra torna-se nebulosa e obscura; na crítica, a palavra torna-se afiada e cortante. A fofoca e a crítica obscurecem, esvaziam e enfraquecem, mais ainda àquele que, ‘inconscientemente’, lhes dá origem, vida e destino. É possível que um dia surja consciência disso. Primeiro como susto; depois como necessidade de aprender. Eis a imagem do monge na atitude da alma humana: cultivar na alma a consciência do falar e do calar.
Calar-se não é só estar mudo. Calar aprende-se, com esforço consciente. A vida humana revela-nos, a cada dia, parábolas e enigmas que, contemplados em silêncio, falam na alma, acordando-a. Para isso, é necessária uma atitude interior, individual. Calar é juntar a alma dispersa e abandonada a si mesma. O silêncio interior aguça a percepção, vigorizando na alma a consciência.
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