Foto: Marilena Rodrigues, http://photopoetica.zip.net |
Tenho lido muito ultimamente, como nunca em toda a minha vida. Tenho o hábito de, ao me empolgar com coisas produtivas, dividi-las com o outro. É o caso da obra “Deus”, do filósofo Juvenal Savian Filho, da qual ora faço uma adaptação.
Com tanto conhecimento disponível, a que poucos têm acesso, por que não reelaborá-los e partilhá-los? Há obras nas livrarias que, por não chamar a atenção, dificilmente compraríamos. Algumas delas são recheadas de verdades que nos trazem respostas adequadas a alguns de nossos questionamentos existenciais, por exemplo. Como “Deus”, esse exercício de indagação sobre a lógica do Universo. Essa obra integra a coleção “Filosofia Frente & Verso”, com linguagem acessível, que parte de questões que todos nós, em algum momento, às vezes até sem perceber, costumamos fazer em relação a tudo.
Ao concluir sua obra, escreve Juvenal Savian: “Ao fim do itinerário aqui percorrido, a mente do leitor poderá estar repleta de perguntas, mas também de algumas respostas. Ora, o melhor resultado que um livro pode esperar é que seu leitor, ao final da leitura, sinta-se acrescido de algo, ainda que de questionamentos. As questões põem-nos em movimento, retiram-nos da inércia da ignorância e das opiniões cômodas.
E o tema ‘Deus’ não é nada cômodo... Por isso, nosso desejo é o de que ao menos este livro tenha dado algo a pensar a seu leitor, e que ele agora caminhe com suas próprias pernas...”
O conceito de Deus não pertence originariamente à física, isto é, à razão especulativa, mas à moral..., pensa o filósofo.
“Grosso modo, para o filósofo Blaise Pascal (1623-1662), pode-se dizer que seria por demais reducionista definir a razão humana em termos de conhecimento científico. Perguntemos: só podemos considerar racional aquilo que pode ser objeto de experiência empírica e exprimível em linguagem matemática? Se for assim, como considerar todas as outras experiências que fornecem verdades para o ser humano? O que seriam os princípios indemonstráveis da própria matemática, desse ponto de vista? Se essas experiências não são formas de conhecimento, serão o quê?”, interroga Juvenal.
“Se antes os filósofos perguntavam ‘Quem ou o que é Deus?’, agora, nos séculos XIX e XX, eles passam a perguntar ‘O que se passa com o ser humano se ele acreditar em Deus?’, ou, então, ‘Por que crer em Deus?’, o autor nos leva a refletir.
Razão e emoção
Juvenal Savian conta que, no dizer do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855), “O que move os seres humanos não são as ideias, mas a paixão.
A mola da dialética vital é a paixão, e dizer isso significa dizer que o movimento da vida humana nasce de um dinamismo anterior ao processo intelectual do pensamento por conceitos. Nasce não de motores intelectuais, mas de uma busca de satisfação plena. Essa busca de satisfação plena, absoluta, acaba por gerar o impulso da fé religiosa, uma vez que o indivíduo se decepciona com as formas conhecidas de obter satisfação... É então que, mesmo hesitando, se o indivíduo consegue entrar em um estágio religioso de sua existência, ele encontra um sentido absoluto que satisfaz (exatamente por ser absoluto) àquela busca apaixonada que o move no dinamismo da vida”.
Mesmo racionalmente confusa, observa o filósofo, a pessoa ‘sente’ a presença de ‘algo’ que a sustenta e está além de toda a compreensão globalizante. Trata-se do encontro com ‘algo’ que se experimenta como uma fonte, uma luz, uma força que ilumina e sustenta, por sua presença, a existência da pessoa. Dito de outro modo, a pessoa conhece a si mesma, descobre sua interioridade e investiga as razões do seu próprio agir, mas vive tudo isso à luz de um sentido que a transcende. Certamente é por isso que a tradição judaico-cristã insiste em dizer que só é possível encontrar Deus quando se tem silêncio interior. Um espírito perturbado pelo barulho interior (e exterior também) tem mais dificuldade para essa experiência do sentido, justamente porque não consegue mergulhar em si mesmo. E é a percepção silente do sentido que torna religiosa a experiência humana, revela o autor.
“Analisando Kant, é a razão como princípio moral que se serve da imagem de Deus e de outras verdades religiosas. A razão científica, ao contrário, não poderia entrar nesse campo...”, diz o estudioso.
Segundo o filósofo Juvenal Savian, “René Descartes situa os artigos de fé em outro campo, diferente da razão, o campo da vontade, uma vez que, no seu dizer, tais artigos não podem ser demonstrados. Entretanto, o excerto aqui registrado ilustra bem a maneira como Deus, para ele, pode ser um artigo de reflexão filosófica, ou seja, uma verdade à qual a razão filosófica também pode chegar... E, com base em Blaise Pascal, conhecemos a verdade não apenas pela razão, mas também pelo coração. É dessa última forma que conhecemos os primeiros princípios, e é em vão que o raciocínio, não tendo nada que ver com isso, tenta combatê-los. Essa impotência não deve servir senão para humilhar a razão, que pretendia julgar tudo”...
Se, nos ensina Juvenal, como fazem os racionalistas, conhecimento está associado à razão, então é o conceito de razão que deve ser ampliado. Mas Pascal não se preocupa com esse debate. O que lhe interessa é mostrar que os dados da religião, da moral etc. são tão informativos como os dados da razão científica. Para o autor de
“Deus”, a experiência religiosa é a única capaz de satisfazer ao desejo humano de felicidade absoluta.
Para concluir, busco inspiração em Osho, filósofo indiano: “Cada vez que percebemos algo da verdade, há uma dança no coração. O coração é o único testemunho da verdade. E ele não pode testemunhar através das palavras. O coração pode testemunhar à sua própria maneira: através do amor, através da dança, através da música – não verbalmente. Ele fala, mas não fala com a linguagem e a lógica”.
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