sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Fato raro: altruísmo inspira reportagem de capa do jornal “O Estado de S.Paulo”

Foto: http://fraternidade-branca-semente-de-luz.blogspot.com
Garimpando assuntos de meu interesse em jornais do dia 15 de fevereiro de 2010, encontro esta raridade nas chamadas da primeira página do jornal “O Estado de S.Paulo” (caderno Negócios): “O empresário que doa 95% do que ganha”, cuja reportagem (“O capitalista da fé”) é assinada pela jornalista Patrícia Cançado.
 
Pois é, como a primeira página de jornal é geralmente recheada dos principais fatos polêmicos que marcaram o dia anterior, é raro sobrar espaço para noticiar algo que traga esperança às pessoas, em um mundo tão conturbado. É por isto que defendo a ideia de a editoria dos jornais passarem a se preocupar também com a inserção mais constante, em primeira página, de fatos relevantes da sociedade, que possam trazer mais esperança para o leitor. O artigo de “O Estado”, a que ora faço referência, é um bom exemplo.
 
Estevam de Assis, 53 anos, e seus irmãos transformaram um armazém de Minas Gerais na maior rede de supermercados de capital 100% nacional, conta a jornalista Patrícia Cançado. O grupo Bretas, que faturou R$ 2,1 bilhões em 2009, mantém 59 lojas e 12 postos de gasolina em Minas. A sede dessa rede fica em um prédio com blocos de concreto e chão de cimento.
 
Estevam usa uma aliança preta, símbolo de compromisso de sua família com a simplicidade. Segundo a jornalista Patrícia, ele vive com a mulher em um apartamento de três quartos, alugado, em Belo Horizonte.
 
Conforme a reportagem de “O Estado”, no dia em que foi entrevistado, o empresário portava uma pasta debaixo do braço, brinde da última feira da qual participou nos Estados Unidos. Ele vestia uma calça e uma camisa surradas, uma das trinta peças que tem em seu armário.  Não tem televisão nem computador em casa. Da garagem apertada, tira seu carro 1.0.
 
“Mas eu não posso comprar mais nada. Se ganho uma camisa, tenho de doar outra do armário. Eu descobri essa alegria, essa liberdade de ser feliz precisando de pouca coisa”.
 
Diante da postura do empresário, há até quem possa não se conformar com uma história destas, que parece ficção. Mas, na verdade, quem se dispõe a trilhar o caminho da simplicidade, buscando na vida propósitos mais elevados, pode entender. A história de Estevam de Assis revela para cada um de nós essa real possibilidade de simplificar a vida, de começar a se acostumar a controlar o desejo incessante de usufruir de bens materiais e a investir mais nos valores essenciais da natureza humana. 
 
Terapia e exemplo de abnegação...
 
“Para trabalhar na empresa da rede Bretas, os herdeiros precisam atingir algumas metas: ter curso superior, pós-graduação, morar no exterior por um ano para aprender inglês e se formar como gerente, ser honesto e de bom relacionamento”, revela Estevam à jornalista.
 
Em seu relato, Patrícia conta que o jeito simples da família do empresário contaminou o negócio. “Por causa disso, o Bretas é um supermercado de custo operacional baixo. Os executivos não são bem pagos. Eles não têm carro nem secretária. Por alguns anos, o salário do presidente foi de cinco mínimos”.
 
Hoje, narra a jornalista, Estevam de Assis gasta a maior parte do dinheiro pagando terapia para padres e freiras. “No ano passado, construiu uma clínica de psicologia e bancou tratamento para 18 padres italianos. Só na clínica gastou R$ 7 milhões. Neste ano, promete pagar a terapia para 300 congregados de todo o País”.
 
O empresário diz que todos os membros da família e diretores da empresa são obrigados a fazer o tratamento, que custa cerca de R$ 2 mil. “Fiz essa terapia há 12 anos e minha vida mudou completamente. No começo não acreditava. Mas mudou a relação com meu pai, que eu achava que era boa e não era. Passei a comer verdura e a correr 16 quilômetros por dia”.
 
Em sua opinião, a terapia mexe com o inconsciente das pessoas. “Você volta no útero da sua mãe e vem consertando algumas coisas. Acredito que tudo o que meus antepassados viveram passa pra mim”.
 
Treinamento
 
O Bretas emprega mais de 11 mil funcionários. Para eles, complementa Patrícia Cançado, Estevam ministra palestras frequentemente, num hotel fazenda, sobre a importância do amor nas empresas. Ele também viaja pelo País para falar sobre o tema. Diz ter dado mais de 100 palestras em 2009. “A gente tem de ser duro com os problemas e suave com as pessoas. Muitas vezes elas erram porque estão no lugar errado. Não são treinadas ou motivadas o suficiente”, orienta o abnegado empresário.
 
Para a jornalista, o perfil de Estevam é paradoxal. É, ao mesmo tempo, um capitalista que toca uma rede de crescimento agressivo e um homem generoso e de hábitos simples. “Quando fiz 50 anos, quis me aposentar e me dedicar à Igreja. Um bispo da comunidade me fez desistir, dizendo que aposentado a Igreja já tinha demais. Mas os empresários eram poucos e podiam ajudar muito”, disse o empresário.

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