Há algo que me inquieta: por que hoje as pessoas, com tanta facilidade às mãos (o ”e-mail”), não conseguem enviar mensagens pessoais, salvo raras exceções? Enviar e-mails a amigos, com mensagens tiradas lá do fundo do coração, é sempre gratificante para ambas as partes. Exercito essa prática com freqüência, por me dar grande prazer. É bom demais escrever a pessoas queridas e obter um retorno carinhoso. Costumo dizer que o valor de experiências dessa natureza transcende a compreensão do homem comum. Trata-se de uma experiência que reflete a alma, a sintonia, a essência do eu interior...
Mas, infelizmente, nem sempre acontece o retorno. A maioria das pessoas recebe a mensagem do amigo e, quem sabe, por não saber o que falar ou não querer se expor..., responde através das conhecidas “correntes de e-mails”, sem acrescentar uma única palavra ou frase pessoal. O que está acontecendo com as pessoas, em uma época tão especial, em que se conta com a facilidade desse fantástico instrumento de comunicação, o “e-mail”?
Quando eu poderia colocar as minhas idéias ao mundo, em tempo real?
Quando falo sobre isto com alguém, relembro a época em que as pessoas escreviam cartas a amigos e precisavam enfrentar fila no Correio para enviar a correspondência. Há muita gente que ainda assim se comporta, por não ter acesso à internet.
E-mails: antigas cartas escritas em papel e enviadas em envelope
Sobre este assunto, li na coluna “02 Neurônio” (Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso), caderno Folhateen, da Folha de S.Paulo de 25/8/2208, o artigo “A morte do e-mail”, que transcrevo abaixo:
“HÁ QUANTO TEMPO você não manda um bom e-mail? Responder a uma corrente ou mandar um trabalho de grupo para um colega não vale. Estamos falando dos e-mails de verdade. Aqueles de amor, amizade, que começam com ‘querido fulano’ na primeira linha e terminam com o seu nome embaixo, escrito depois de alguma expressão estilo ‘love you’. Ou ‘do seu eterno’. Algo assim. Nem que seja um ‘estimo melhoras’.
Já tínhamos lamentado a morte das cartas, aquelas escritas em papel e mandadas em envelope. Cartas que andavam por dias a fio nas bolsas dos carteiros, misturadas a 1.001 declarações de amor, de afeto, de dramas, de brigas... Os carteiros, coitados, agora só entregam contas para pagar e ‘santinhos’ de políticos. E, agora, percebemos que os e-mails também estão morrendo. Quer dizer, na verdade eles já morreram e ainda não foram enterrados.
É tanto SMS, MSN, Twitter, Orkut e Facebook nesta vida, que somos capazes de viver um romance inteiro sem trocar ao menos um e-mail com nosso pretendente. Resolvemos todas as nossas pendengas sentimentais em conversas via MSN, o que diminui um pouco (ou muito) do romantismo da coisa toda. Fora que, se ficarmos famosos, não poderemos mais publicar livro de correspondências póstumas. Livro com conversa de MSN não!
O pior da morte do e-mail é que a expectativa de abrir o computador esperando um e-mail miraculoso, aquele de algum homem maravilhoso ou com alguma outra notícia espetacular, também caiu por terra. Quando apertamos a tecla enviar e receber, e percebemos que temos mais 24 e-mails novos, não ficamos mais deliciosamente ansiosas. Pelo contrário, pensamos, ‘que saco, mais 24 correntes e propagandas’.
Somos nostálgicas. E nos assustamos ao ver que músicas novas, como ‘Odeio você’, do Caetano, já dataram. Quem ainda pensa: ‘Veio enfim um e-mail de alguém?’. Achamos que o e-mail ainda pode ser salvo. Por isso, fazemos agora uma conclamação. Cada um de nós vai mandar um bom e-mail para alguém, após ler esta coluna. Agora. E tem de ser longo.”
Por falar nisso tudo, tenho o hábito de imprimir e-mails singulares de familiares e amigos, para incluí-los em minha ‘pasta de memórias póstumas’. Há certamente e-mails, como palavras amáveis, que a gente recebe e não consegue deletar; são expressões que se eternizam em nossa alma. Saibam inclusive que, boa parte dos artigos do meu blog é oriunda de textos que compõem a tal pasta.
Daí, então, eu pego um gancho na obra de Thrity Umrigar, “A doçura do mundo” (Editora Nova Fronteira, 2008), tentando readequá-lo ao contexto deste meu artigo:
... “Olhem, essa é uma boa história, um assunto de interesse humanitário, que faz a gente se sentir bem... Vocês têm que entender... as pessoas precisam de alguma notícia com que se sintam bem. Olhem para o resto do jornal de hoje: é tudo sobre guerra e bombas explodindo, e toda essa porcaria... Entendem o que eu quero dizer? Olhem – continuou, inconsolável -, muita coisa boa pode sair dessa matéria. Vocês podem convencer outras pessoas a fazer o que é certo. Isso pode inspirar mais alguém...”
Lembro ainda que, segundo o escritor americano Nicholas Carr* (revista info Exame, artigo “O Google nos deixa bobos?”, editora Abril, nº. 271, set. 2008), “Nosso cérebro está sendo remodelado para ficar eficiente em buscar informações, mas perde a capacidade de contemplação, reflexão, concentração. Perder essa habilidade é algo ruim para as pessoas e para a sociedade.”
Ficamos então por aqui. Quero receber e-mails de muita gente, hein, daqueles para eu guardar no livrão de vida! Saibam que, dependendo de mim, farei o possível para dar retornos especiais que, quiçá, não sejam imediatamente deletados ou possam inspirar a criação de muitas “pastas de correspondências póstumas”, eheheh!!!
A amiga Madô Martins, escritora, ao ler este artigo, fortaleceu-o com a sua doce imaginação: “Me parece que a relação carta/e-mail é a mesma do cinema com a tevê: falta o ritual. Ainda adoro os envelopes, os selos; reconhecer a letra antes de ler o remetente, guardar as cartas dentro de caixas especiais... Como a blogueira, além de salvar, imprimo os e-mails preferidos e os guardo como cartas. Assim, eles não correm o risco de serem deletados e se tornam provas concretas de que alguém, do outro lado da telinha, enviou-me seus sinais.”
____________
* Nicholas Carr acaba de lançar no Brasil seu novo livro, “A grande mudança: reconectando o mundo, de Thomas Edison ao Google”
Mas, infelizmente, nem sempre acontece o retorno. A maioria das pessoas recebe a mensagem do amigo e, quem sabe, por não saber o que falar ou não querer se expor..., responde através das conhecidas “correntes de e-mails”, sem acrescentar uma única palavra ou frase pessoal. O que está acontecendo com as pessoas, em uma época tão especial, em que se conta com a facilidade desse fantástico instrumento de comunicação, o “e-mail”?
Quando eu poderia colocar as minhas idéias ao mundo, em tempo real?
Quando falo sobre isto com alguém, relembro a época em que as pessoas escreviam cartas a amigos e precisavam enfrentar fila no Correio para enviar a correspondência. Há muita gente que ainda assim se comporta, por não ter acesso à internet.
E-mails: antigas cartas escritas em papel e enviadas em envelope
Sobre este assunto, li na coluna “02 Neurônio” (Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso), caderno Folhateen, da Folha de S.Paulo de 25/8/2208, o artigo “A morte do e-mail”, que transcrevo abaixo:
“HÁ QUANTO TEMPO você não manda um bom e-mail? Responder a uma corrente ou mandar um trabalho de grupo para um colega não vale. Estamos falando dos e-mails de verdade. Aqueles de amor, amizade, que começam com ‘querido fulano’ na primeira linha e terminam com o seu nome embaixo, escrito depois de alguma expressão estilo ‘love you’. Ou ‘do seu eterno’. Algo assim. Nem que seja um ‘estimo melhoras’.
Já tínhamos lamentado a morte das cartas, aquelas escritas em papel e mandadas em envelope. Cartas que andavam por dias a fio nas bolsas dos carteiros, misturadas a 1.001 declarações de amor, de afeto, de dramas, de brigas... Os carteiros, coitados, agora só entregam contas para pagar e ‘santinhos’ de políticos. E, agora, percebemos que os e-mails também estão morrendo. Quer dizer, na verdade eles já morreram e ainda não foram enterrados.
É tanto SMS, MSN, Twitter, Orkut e Facebook nesta vida, que somos capazes de viver um romance inteiro sem trocar ao menos um e-mail com nosso pretendente. Resolvemos todas as nossas pendengas sentimentais em conversas via MSN, o que diminui um pouco (ou muito) do romantismo da coisa toda. Fora que, se ficarmos famosos, não poderemos mais publicar livro de correspondências póstumas. Livro com conversa de MSN não!
O pior da morte do e-mail é que a expectativa de abrir o computador esperando um e-mail miraculoso, aquele de algum homem maravilhoso ou com alguma outra notícia espetacular, também caiu por terra. Quando apertamos a tecla enviar e receber, e percebemos que temos mais 24 e-mails novos, não ficamos mais deliciosamente ansiosas. Pelo contrário, pensamos, ‘que saco, mais 24 correntes e propagandas’.
Somos nostálgicas. E nos assustamos ao ver que músicas novas, como ‘Odeio você’, do Caetano, já dataram. Quem ainda pensa: ‘Veio enfim um e-mail de alguém?’. Achamos que o e-mail ainda pode ser salvo. Por isso, fazemos agora uma conclamação. Cada um de nós vai mandar um bom e-mail para alguém, após ler esta coluna. Agora. E tem de ser longo.”
Por falar nisso tudo, tenho o hábito de imprimir e-mails singulares de familiares e amigos, para incluí-los em minha ‘pasta de memórias póstumas’. Há certamente e-mails, como palavras amáveis, que a gente recebe e não consegue deletar; são expressões que se eternizam em nossa alma. Saibam inclusive que, boa parte dos artigos do meu blog é oriunda de textos que compõem a tal pasta.
Daí, então, eu pego um gancho na obra de Thrity Umrigar, “A doçura do mundo” (Editora Nova Fronteira, 2008), tentando readequá-lo ao contexto deste meu artigo:
... “Olhem, essa é uma boa história, um assunto de interesse humanitário, que faz a gente se sentir bem... Vocês têm que entender... as pessoas precisam de alguma notícia com que se sintam bem. Olhem para o resto do jornal de hoje: é tudo sobre guerra e bombas explodindo, e toda essa porcaria... Entendem o que eu quero dizer? Olhem – continuou, inconsolável -, muita coisa boa pode sair dessa matéria. Vocês podem convencer outras pessoas a fazer o que é certo. Isso pode inspirar mais alguém...”
Lembro ainda que, segundo o escritor americano Nicholas Carr* (revista info Exame, artigo “O Google nos deixa bobos?”, editora Abril, nº. 271, set. 2008), “Nosso cérebro está sendo remodelado para ficar eficiente em buscar informações, mas perde a capacidade de contemplação, reflexão, concentração. Perder essa habilidade é algo ruim para as pessoas e para a sociedade.”
Ficamos então por aqui. Quero receber e-mails de muita gente, hein, daqueles para eu guardar no livrão de vida! Saibam que, dependendo de mim, farei o possível para dar retornos especiais que, quiçá, não sejam imediatamente deletados ou possam inspirar a criação de muitas “pastas de correspondências póstumas”, eheheh!!!
A amiga Madô Martins, escritora, ao ler este artigo, fortaleceu-o com a sua doce imaginação: “Me parece que a relação carta/e-mail é a mesma do cinema com a tevê: falta o ritual. Ainda adoro os envelopes, os selos; reconhecer a letra antes de ler o remetente, guardar as cartas dentro de caixas especiais... Como a blogueira, além de salvar, imprimo os e-mails preferidos e os guardo como cartas. Assim, eles não correm o risco de serem deletados e se tornam provas concretas de que alguém, do outro lado da telinha, enviou-me seus sinais.”
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* Nicholas Carr acaba de lançar no Brasil seu novo livro, “A grande mudança: reconectando o mundo, de Thomas Edison ao Google”
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