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Desejo abordar algo que costuma incomodar-me, sempre que me deparo com um deficiente físico: como olhá-lo sem incomodá-lo. É comum as pessoas disfarçarem o olhar, não sabendo como agir. É claro que, de maneira geral, as pessoas andam muito apressadas e o deficiente passa despercebido.
Quer saber? A minha vontade mesmo é aproximar-me e tocá-lo de alguma forma. Eu não vejo essa coisa do “coitadinho”. A “deficiência”, na verdade, anda à solta mesmo é nessa incapacidade de o ser humano lidar com o que é essencial na natureza humana.
Por que a vontade de me aproximar? Porque imagino existir ali, sentado numa cadeira de rodas, alguém com uma história de vida valiosa para o meu aprendizado no processo de amadurecimento existencial. Numa circunstância dessa, indubitavelmente, ambas as pessoas são beneficiadas.
O que me faz escrever sobre o assunto? A crônica “O olhar do outro”, de Jairo Marques, publicada na Folha de S. Paulo, caderno Cotidiano, de 30/11/2010.
“O que mais me aporrinha nessa história de viver montado numa cadeira de rodas nem é a falta de rampas, os banheiros estreitos, a falta de sinalização em braile, pois tudo isso, martelando firme, o tempo há de trazer”, escreve J. Marques. Mas, segundo o autor, os olhares “disfarçados”, “esses sim enchem o saco e machucam o coraçãozinho do povo mal-acabado das pernas, dos braços, dos olhos, dos ouvidos e da maquinaria em geral”.
Marques revela: “Claro que, como prega aquele lugar-comum, ‘tudo que é diferente chama a atenção’, mas acontece que o olhar que nos dirigem é carregado de significados além da curiosidade pura e simples”.
Ele imagina, com certa convicção, “que os autores desses olhares talvez não saibam que, na maioria das vezes, conseguimos ‘ouvir’ suas intenções com clareza, afinal, podem ser anos de prática. E também, que as pessoas talvez não saibam que alguém com deficiência pode ter uma vida absolutamente comum, com apenas algumas adaptações”.
REVENDO ESTE OLHAR...
Identifiquei-me bastante com o depoimento de Marques. E não deu outra, enviei-lhe um e-mail:
”Eu sei que é muito difícil encarar o olhar compadecido do outro. Mas então me ajude. Se não há como evitar esse olhar, como você gostaria que fosse esse olhar?
Tenho certeza que pessoas sensíveis gostariam de olhar sem incomodar. Por isso ficam sem jeito e evitam, imaginando que o foco determinado não percebe o disfarce. Então, diga-me, como você acha que as pessoas podem se comportar mais naturalmente ao se defrontarem com um deficiente físico?”
Jairo Marques, 34, é chefe de reportagem da Agência Folha, coordenando a produção da equipe de correspondentes nacionais do jornal. Ele nasceu em Três Lagoas, no interior do Mato Grosso do Sul. Teve poliomelite aos seis meses de idade e é cadeirante.
O blog de Jairo, www.blogdacomunicacao.com.br/assim-como-voce, é um dos grandes sucessos da blogosfera.
Eu costumo enviar e-mails a colunistas, que nem sempre respondem a mensagens. Ainda que alguns sejam atenciosos, J. Marques foi além. A sua resposta foi amável, como se fosse a de um amigo:
“Bem, o que um cadeirante, um ‘muletante’ ou qualquer pessoa 'fora do padrão' espera, a meu ver, é um olhar de tranquilidade, ahahaha! Como eu disse no texto, é natural que haja curiosidade ou que a pessoa tenda a oferecer ajuda. Mas, então, que isso seja feito. Chegue e pergunte se pode ajudar, se necessita de algum apoio (e tente entender, se a mãozinha for recusada)”.
Para mim, revela o articulista, o que perturba nem é o olhar de "caramba, como ele consegue?", é o olhar que projeta um "puxa, que coitadinho!".
Que tal refletir um pouco a respeito dessa realidade e passar a experimentar atitudes sensatas que possam surpreender o deficiente, mudando a forma de olhar, “construindo um novo pensamento para mostrar à molecada que existem pessoas com características físicas ou sensoriais diversas no mundo”, conforme observa J. Marques. Como sempre, a esperança está no alicerce da construção da justiça social: a educação.
Pensar neste sentido é educar as crianças para que, no futuro, seres humanos com algumas deficiências sejam “abraçados” naturalmente, sem essa coisa do “coitadinho”. É claro que não há como negar os avanços da sociedade nos últimos anos em termos da inclusão do deficiente. Resta ao povo entrar nessa “batalha por um mundo mais acessível” em todos os sentidos, a começar pela prática de um novo olhar, esse olhar que acolhe, que emociona, que dignifica..., que se aplica também a outros tipos de deficiência humana.
Quer saber? A minha vontade mesmo é aproximar-me e tocá-lo de alguma forma. Eu não vejo essa coisa do “coitadinho”. A “deficiência”, na verdade, anda à solta mesmo é nessa incapacidade de o ser humano lidar com o que é essencial na natureza humana.
Por que a vontade de me aproximar? Porque imagino existir ali, sentado numa cadeira de rodas, alguém com uma história de vida valiosa para o meu aprendizado no processo de amadurecimento existencial. Numa circunstância dessa, indubitavelmente, ambas as pessoas são beneficiadas.
O que me faz escrever sobre o assunto? A crônica “O olhar do outro”, de Jairo Marques, publicada na Folha de S. Paulo, caderno Cotidiano, de 30/11/2010.
“O que mais me aporrinha nessa história de viver montado numa cadeira de rodas nem é a falta de rampas, os banheiros estreitos, a falta de sinalização em braile, pois tudo isso, martelando firme, o tempo há de trazer”, escreve J. Marques. Mas, segundo o autor, os olhares “disfarçados”, “esses sim enchem o saco e machucam o coraçãozinho do povo mal-acabado das pernas, dos braços, dos olhos, dos ouvidos e da maquinaria em geral”.
Marques revela: “Claro que, como prega aquele lugar-comum, ‘tudo que é diferente chama a atenção’, mas acontece que o olhar que nos dirigem é carregado de significados além da curiosidade pura e simples”.
Ele imagina, com certa convicção, “que os autores desses olhares talvez não saibam que, na maioria das vezes, conseguimos ‘ouvir’ suas intenções com clareza, afinal, podem ser anos de prática. E também, que as pessoas talvez não saibam que alguém com deficiência pode ter uma vida absolutamente comum, com apenas algumas adaptações”.
REVENDO ESTE OLHAR...
Identifiquei-me bastante com o depoimento de Marques. E não deu outra, enviei-lhe um e-mail:
”Eu sei que é muito difícil encarar o olhar compadecido do outro. Mas então me ajude. Se não há como evitar esse olhar, como você gostaria que fosse esse olhar?
Tenho certeza que pessoas sensíveis gostariam de olhar sem incomodar. Por isso ficam sem jeito e evitam, imaginando que o foco determinado não percebe o disfarce. Então, diga-me, como você acha que as pessoas podem se comportar mais naturalmente ao se defrontarem com um deficiente físico?”
Jairo Marques, 34, é chefe de reportagem da Agência Folha, coordenando a produção da equipe de correspondentes nacionais do jornal. Ele nasceu em Três Lagoas, no interior do Mato Grosso do Sul. Teve poliomelite aos seis meses de idade e é cadeirante.
O blog de Jairo, www.blogdacomunicacao.com.br/assim-como-voce, é um dos grandes sucessos da blogosfera.
Eu costumo enviar e-mails a colunistas, que nem sempre respondem a mensagens. Ainda que alguns sejam atenciosos, J. Marques foi além. A sua resposta foi amável, como se fosse a de um amigo:
“Bem, o que um cadeirante, um ‘muletante’ ou qualquer pessoa 'fora do padrão' espera, a meu ver, é um olhar de tranquilidade, ahahaha! Como eu disse no texto, é natural que haja curiosidade ou que a pessoa tenda a oferecer ajuda. Mas, então, que isso seja feito. Chegue e pergunte se pode ajudar, se necessita de algum apoio (e tente entender, se a mãozinha for recusada)”.
Para mim, revela o articulista, o que perturba nem é o olhar de "caramba, como ele consegue?", é o olhar que projeta um "puxa, que coitadinho!".
Que tal refletir um pouco a respeito dessa realidade e passar a experimentar atitudes sensatas que possam surpreender o deficiente, mudando a forma de olhar, “construindo um novo pensamento para mostrar à molecada que existem pessoas com características físicas ou sensoriais diversas no mundo”, conforme observa J. Marques. Como sempre, a esperança está no alicerce da construção da justiça social: a educação.
Pensar neste sentido é educar as crianças para que, no futuro, seres humanos com algumas deficiências sejam “abraçados” naturalmente, sem essa coisa do “coitadinho”. É claro que não há como negar os avanços da sociedade nos últimos anos em termos da inclusão do deficiente. Resta ao povo entrar nessa “batalha por um mundo mais acessível” em todos os sentidos, a começar pela prática de um novo olhar, esse olhar que acolhe, que emociona, que dignifica..., que se aplica também a outros tipos de deficiência humana.
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Revisão do texto: Márcio Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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