quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

“BEM-ESTAR É O NOVO LUXO”

Foto: http://filosofiacienciaevida.uol.com.br
“O acesso ao conforto material não nos aproximou da felicidade. Há tanta ansiedade, tanto estresse, tanta angústia e tanto medo que a abundância não consegue proporcionar um sentimento de completude”, revela o sociólogo francês Gilles Lipovetsky, 66, à jornalista Izabela Moi (“Bem-estar é novo luxo”, Folha de S. Paulo, caderno Equilíbrio, 28 de setembro de 2010).

De jeans e sandálias, o autor de “A Felicidade Paradoxal” e “O Império do Efêmero” recebeu a jornalista em São Paulo, onde o sociólogo veio participar de um fórum mundial de turismo, para falar sobre o “consumo de experiência”.

Segundo Gilles, “O consumo de experiência vai além dos produtos que podem me trazer esse ou aquele conforto, ou me identificar com essa ou aquela classe. As razões para escolher um celular, hoje, vão além das especificações. Queremos ouvir música, tirar fotos, receber e-mails, jogar. Ter vivências, sensações, prazeres. É um consumo emocional.”
Gilles diz a Izabela que o luxo, apesar de ainda existir na forma tradicional, também está mudando: “Quando buscamos um hotel de luxo hoje, não queremos torneiras de ouro, lustres. O luxo está nas experiências de bem-estar que o lugar pode oferecer. Spa, sala de ginástica, serviço de massagem. O bem-estar é o novo luxo”.

Obsessão com a saúde

Para o sociólogo, a quantidade de informações disponíveis torna o consumo complicado. Na alimentação, ele conta à jornalista, os consumidores estão ávidos pela leitura dos rótulos: quais são os ingredientes, de onde vêm, podem causar câncer, engordar? “Há 40 anos, íamos ao médico uma vez por ano, se muito. Hoje, um indivíduo faz até dez consultas por ano. O consumo de exames, para nos fazer sentir ‘seguros’, cresce exponencialmente. Sintoma do hiperconsumismo: queremos comprar nossa saúde”, observa o sociólogo, para quem, também, o hiperindividualismo aparece quando nossa sociedade nega as instituições da coletividade. “A religião, a comunidade, a política. Os deuses são os homens. O indivíduo é um agente autônomo, que deve gerenciar a própria existência. Esse indivíduo pode fazer escolhas privadas – que profissão exercer, com quem se casar, o que comprar – mas está submetido às regras da globalização econômica de eficácia, produtividade, juventude, consumo.”, avalia Gilles.

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