Quero aproveitar o episódio “Adriano” para refletir sobre essa busca incessante do homem pelo acúmulo de vantagens materiais. O fato é recente e são várias as interpretações para a corajosa atitude do jogador. Trata-se de um prato cheio para o noticiário, para as conversas de bar em bar, para insensatos críticos do cotidiano com seus palpites maliciosos e visão limitada do mundo... Ou, como disse o cronista José Geraldo Couto: “Pululam as explicações fáceis, as interpretações automáticas: é dor de corno, depressão, muita droga, birita, falta de estrutura, burrice pura e simples”.
Felizmente há de se encontrar quem concorde com a atitude de Adriano. Cada qual reage aos fatos segundo o que mais valoriza em sua existência: o essencial, que leva ao encontro de si mesmo, ou o superficial, com todas as reconhecidas e discutíveis “vantagens”.
Neste sentido, permito-me traçar um paralelo entre a crônica de José Geraldo Couto (“O estranho ímpar”, Folha de S.Paulo, 11/4/2009) e o livro “O outro lado do poder” (*), de Claude M. Steiner.
Adriano rejeitou milhões de euros da Inter de Milão para ficar de bermuda e chinelo empinando pipa na Vila Cruzeiro, escreve Geraldo Couto.
“Há pouco espaço no topo da pirâmide, a competição é feroz e sangrenta e chegar ao topo é apenas o começo da batalha”, narra Claude Steiner em sua obra. Ele diz: “Você poderá permanecer lá por algum tempo; se o fizer, será somente através de uma competição impiedosa. A ironia mais cruel de todas é que mesmo que você consiga, após anos de esforço exaustivo, tornar-se poderoso e rico e manter a sua riqueza, provavelmente isso não o fará feliz. Muitas pessoas que realizaram seu ‘sonho de poder’ verificaram que era vazio e desistiram”.
Para Geraldo Couto, “Seja qual for a explicação mais convincente, Adriano criou um fato. Tomou uma atitude inesperada num mundo de reações tão programadas e previsíveis. Foi na contramão da corrente hegemônica, desafinou o coro dos contentes. Seu gesto inquieta e perturba porque, na sua aparente irracionalidade, nos faz questionar a lógica absurda que comanda nossas vidas”.
Diante da sua recusa, Adriano nos faz repensar a idéia desse tipo de desconforto: o preço da fama. Por outro lado, vale indagar qual o preço da tranquilidade interior, essa paz que, infelizmente, ainda é incomum nos seres humanos.
Steiner revela que “O primeiro passo para se tornar poderoso, sem usar jogos de poder para controlar os outros, é aprender a desobedecer. Você é um ser humano livre e a liberdade é poderosa, se fizer uso dela. No entanto, desperdiçamos muito da nossa vida quando manipulados e arrastados pelos outros. O recusar-se a ser controlado contra a própria vontade e julgamento libera o poder para realizar tudo aquilo que você decida ser bom para si mesmo”.
Sobre o “poder”
“Permitir que nossos sentimentos de poder dependam das posses materiais ocasionará a sensação de falta de poder, uma vez que a quantidade de coisas que podemos obter é limitada”, observa Claude Steiner. Para esse autor, quando o sentimento de poder depende de coisas não materiais, como o amor, a sabedoria, a paixão ou a capacidade de comunicação, aí nossas necessidades de constante expansão e crescimento poderão ser satisfeitas, pois estas existem ilimitadamente.
Mal comparando, escreve Geraldo Couto, uma atitude como a do jogador Adriano equivale a uma canelada, um tropeção, uma pedra com que se topa no meio do caminho. Quem quiser que se defenda do susto... E quem tiver coragem que encare o Adriano que traz dentro de si. Adriano, com sua recusa, afirma-se como estranho ímpar. Seu caso é daqueles que criam uma situação inédita, desconcertando o mundo do futebol, e não apenas ele, complementa o cronista da Folha de S.Paulo.
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(*) Fica aqui a sugestão para a leitura da obra completa, por ser extremamente produtiva. Obrigado Ingrid Cabral Machado, por colocar esse precioso livro em minhas mãos. Felizmente há de se encontrar quem concorde com a atitude de Adriano. Cada qual reage aos fatos segundo o que mais valoriza em sua existência: o essencial, que leva ao encontro de si mesmo, ou o superficial, com todas as reconhecidas e discutíveis “vantagens”.
Neste sentido, permito-me traçar um paralelo entre a crônica de José Geraldo Couto (“O estranho ímpar”, Folha de S.Paulo, 11/4/2009) e o livro “O outro lado do poder” (*), de Claude M. Steiner.
Adriano rejeitou milhões de euros da Inter de Milão para ficar de bermuda e chinelo empinando pipa na Vila Cruzeiro, escreve Geraldo Couto.
“Há pouco espaço no topo da pirâmide, a competição é feroz e sangrenta e chegar ao topo é apenas o começo da batalha”, narra Claude Steiner em sua obra. Ele diz: “Você poderá permanecer lá por algum tempo; se o fizer, será somente através de uma competição impiedosa. A ironia mais cruel de todas é que mesmo que você consiga, após anos de esforço exaustivo, tornar-se poderoso e rico e manter a sua riqueza, provavelmente isso não o fará feliz. Muitas pessoas que realizaram seu ‘sonho de poder’ verificaram que era vazio e desistiram”.
Para Geraldo Couto, “Seja qual for a explicação mais convincente, Adriano criou um fato. Tomou uma atitude inesperada num mundo de reações tão programadas e previsíveis. Foi na contramão da corrente hegemônica, desafinou o coro dos contentes. Seu gesto inquieta e perturba porque, na sua aparente irracionalidade, nos faz questionar a lógica absurda que comanda nossas vidas”.
Diante da sua recusa, Adriano nos faz repensar a idéia desse tipo de desconforto: o preço da fama. Por outro lado, vale indagar qual o preço da tranquilidade interior, essa paz que, infelizmente, ainda é incomum nos seres humanos.
Steiner revela que “O primeiro passo para se tornar poderoso, sem usar jogos de poder para controlar os outros, é aprender a desobedecer. Você é um ser humano livre e a liberdade é poderosa, se fizer uso dela. No entanto, desperdiçamos muito da nossa vida quando manipulados e arrastados pelos outros. O recusar-se a ser controlado contra a própria vontade e julgamento libera o poder para realizar tudo aquilo que você decida ser bom para si mesmo”.
Sobre o “poder”
“Permitir que nossos sentimentos de poder dependam das posses materiais ocasionará a sensação de falta de poder, uma vez que a quantidade de coisas que podemos obter é limitada”, observa Claude Steiner. Para esse autor, quando o sentimento de poder depende de coisas não materiais, como o amor, a sabedoria, a paixão ou a capacidade de comunicação, aí nossas necessidades de constante expansão e crescimento poderão ser satisfeitas, pois estas existem ilimitadamente.
Mal comparando, escreve Geraldo Couto, uma atitude como a do jogador Adriano equivale a uma canelada, um tropeção, uma pedra com que se topa no meio do caminho. Quem quiser que se defenda do susto... E quem tiver coragem que encare o Adriano que traz dentro de si. Adriano, com sua recusa, afirma-se como estranho ímpar. Seu caso é daqueles que criam uma situação inédita, desconcertando o mundo do futebol, e não apenas ele, complementa o cronista da Folha de S.Paulo.
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