domingo, 29 de junho de 2008

Experiência da Leitura

“...Você não consegue se concentrar muito tempo numa leitura? Quando entra na internet, abre várias telas ao mesmo tempo e muda a direção de sua atenção freqüentemente? Não se desespere. O fato de estar divagando entre diferentes universos não é necessariamente algo ruim. Para o escritor Piglia, trata-se apenas de um novo momento da experiência da leitura. Situação cujas conseqüências, porém, ainda desconhecemos”, narra Sylvia Colombo em entrevista ao escritor argentino Ricardo Piglia, 66, professor de literatura em Princeton, EUA, para o jornal Folha de S.Paulo.


Piglia diz que “o leitor que assume a interrupção como parte da narrativa já foi antecipado por seu conterrâneo Macedonio Fernández (1874-1952), considerado principal inspirador de Jorge Luiz Borges (1899-1986), com o conceito de “lector salteado” – um leitor intermitente, que pula de um assunto para outro ou se dispersa facilmente”, escreve Sylvia.

Em seu artigo, a jornalista menciona que, segundo Ricardo Piglia, o  lector salteado é um retrato do leitor atual, que já não é aquele que está isolado, concentrado e lutando contra a interrupção. Mas sim que entra e sai do texto, se move, interage com o que está ao redor, vai de um livro a outro ou a outros textos mais rápidos que lhe surgem pela internet. É um leitor que assume a interrupção como parte da narrativa.

Macedônio captou o processo que ia se desenvolver e que levaria à fragmentação da experiência da leitura, que supõe um corte com a lógica linear da significação. Isso não seria algo negativo, a princípio, mas um novo tipo de situação de leitura, conta o escritor argentino.

“É muito comum hoje que alguém leia enquanto a televisão está ligada e se está esperando e-mails, por exemplo”, observa.

Para Piglia, acrescenta Sylvia, enquanto o mundo da imagem está em primeiro plano, porque tem a faculdade de acelerar a complexidade e a aceleração da informação, a leitura sempre vai supor uma pausa para um deciframento mais pessoal. Hoje o acesso a uma quantidade imensa de textos foi facilitada, mas o momento da leitura tem uma temporalidade que depende do comportamento do homem. Ela tem um tempo próprio que as máquinas não podem alterar.

A entrevista completa, realizada em Buenos Aires, foi publicada no caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo de 10/5/2008.

Valeu, Sylvia, este é um assunto que reflete bem a problemática de agitação do homem atual interessado na informação. Para os internautas, está aqui um construtivo texto que, certamente, passou despercebido de muita gente.

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